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Comissão ataca parecer da AGU sobre tortura
Comissão de Mortos e Desaparecidos diz que órgão, ao sustentar que Lei da Anistia perdoou crimes, adota posição pró-torturadores
Documento da AGU que defende União foi anexado ao processo contra oficiais que comandaram DOI-Codi de São Paulo nos anos 70
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Comissão Especial sobre
Mortos e Desaparecidos Políticos criticou ontem a contestação elaborada pela AGU (Advocacia Geral da União) que considera perdoados os crimes de
tortura cometidos durante o
regime militar (1964-1985).
A comissão, ligada à Secretaria Especial de Direitos Humanos, afirmou que a "União, convidada a alinhar-se com o Ministério Público, preferiu assumir postura que beneficia os
torturadores".
A contestação da AGU considerou que crimes de tortura estão perdoados com base na Lei
da Anistia, de 1979, anterior,
portanto, à promulgação da
Constituição -os efeitos do artigo que veda anistia a torturadores não teria efeito para crimes cometidos na ditadura.
O documento do órgão que
defende a União foi anexado ao
processo em trâmite na Justiça
de São Paulo, aberto a pedido
do Ministério Público, que pede a responsabilização dos militares reformados Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir
Santos Maciel. Eles comandaram o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações
de Defesa Interna), na capital
paulista, de 1970 a 1976. A
União também é ré no processo
-foi compelida a tornar público documentos do período.
A ação civil pública promovida pelo Ministério Público Federal teve como base um relatório oficial da própria Presidência: o livro "Direito à Memória e à Verdade", publicação
que muito desagradou setores
das Forças Armadas.
Os ministros Tarso Genro
(Justiça) e Paulo Vannucchi
(Direitos Humanos) criticaram
o posicionamento da AGU, segundo eles contrário a princípios fundamentais dos direitos
humanos e jurisprudência internacional sobre o tema. Vannucchi ameaçou sair do governo se a decisão não for revista.
O procurador-regional da
União da 3ª Região, Gustavo
Henrique Pinheiro Amorim,
um dos advogados da AGU que
assinam a contestação, disse
que ela é uma "defesa técnica e
correta", uma espécie de "espelho" da petição inicial do Ministério Público. Ele admite, contudo, que a posição da União
pode ser modificada.
O Ministério da Justiça elaborou documento técnico
(consultivo), enviado ontem à
Casa Civil, em que aponta possíveis mudanças jurídicas na
decisão da AGU. Caso ocorram,
a decisão deve partir do advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli, ou do presidente Lula. No documento, a
que a Folha teve acesso, a pasta
diz que não era "pertinente" à
AGU descer a detalhes da prescrição do crime de tortura.
"Dessa forma, a contestação
(...) avançou em um tema -delicado por óbvio- de maneira
absolutamente desnecessária."
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