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CENSO 200
Dados do IBGE mostram que 48,6% das crianças vivem em famílias cujo chefe ganha até dois salários mínimos; em 1991, taxa era de 60,5%
Pobreza infantil diminui nos anos 90
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Quase metade das crianças brasileiras de zero a seis anos é pobre:
48,6% delas -11,2 milhões de
crianças- vivem em famílias em
que o responsável pelo domicílio
ganha menos de dois salários mínimos por mês (R$ 400).
É o que mostram os "Indicadores Sociais Municipais", publicação divulgada ontem pelo IBGE
(Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) com base
em dados do Censo 2000.
Pelos dados do IBGE, a pobreza
infantil caiu nos anos 90, já que,
em 1991, 60,5% das crianças de até
seis anos viviam em famílias em
que o responsável ganhava menos
de dois salários mínimos. Mesmo
assim, para o IBGE, ainda é uma
proporção muito alta de crianças
em condições de pobreza.
Elas vivem em famílias sem
condições de garantir a elas alimentação, saúde, educação, lazer
e cuidado numa fase fundamental
para o desenvolvimento infantil, a
chamada primeira infância.
Critérios
O Brasil não tem uma metodologia oficial para o cálculo da linha de pobreza. A mais usada
atualmente é a do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada), que calcula em 33,64% a proporção de pobres no conjunto da
população, cerca de 57 milhões de
pessoas.
São considerados pobres, para o
Ipea, os que não conseguem renda suficiente para suprir suas necessidades calóricas e satisfazer
necessidades de saúde, educação
e transportes, por exemplo.
"Seja qual for a medida de pobreza utilizada, é inegável que essas crianças estão em famílias pobres. Dois salários mínimos mensais, numa família de quatro pessoas, dá meio salário mínimo por
mês. É pouquíssimo", diz Ana Lúcia Saboia, especialista do Depis
(Departamento de População e
Indicadores Sociais) do IBGE.
Para a técnica do IBGE, as crianças de até seis anos devem ser alvo
de políticas específicas, para que a
pobreza não se perpetue de uma
geração a outra.
O pediatra Naylor de Oliveira,
professor da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro) e membro do comitê de nutrição da Soperj (Sociedade de Pediatria do
Estado do Rio de Janeiro), afirma
que, para essas crianças, faltam
coisas básicas, como comida e remédios.
"Isso, principalmente na fase de
zero a três anos, deixa sequelas
para o resto da vida. São sequelas
não só físicas, como na altura,
mas também no desenvolvimento mental. É nessa fase que o cérebro se desenvolve mais rápido e
precisa de estímulo adequado."
Focos de pobreza
Os números do IBGE também
permitem detectar onde o problema da pobreza infantil é mais grave, com taxas superiores a 60%:
nos Estados da região Nordeste,
nos municípios com até 20 mil
habitantes e nas famílias chefiadas por mulheres.
Todos os Estados nordestinos
têm mais de 60% das crianças de
até seis anos vivendo em famílias
pobres. O pior índice, em todo o
país, é o do Maranhão, onde
77,4% das crianças na primeira
infância vivem em famílias cujo
responsável ganha menos de dois
salários mínimos.
Depois do Maranhão, as maiores proporções de crianças pobres
estão no Piauí (76,8%) e no Ceará
(69%). Os melhores índices em
todo o país estão em São Paulo
(24,7%), Distrito Federal (32,8%)
e Santa Catarina (35,1%).
A situação de pobreza também
aumenta entre crianças que vivem em famílias chefiadas por
mulheres sozinhas: nesses casos,
60,5% das crianças de até seis
anos são pobres.
Equidade
"O que a gente vê é que há dois
Brasis. As taxas são sempre mais
altas nos municípios pequenos e
nos Estados nordestinos. É preciso que isso seja levado em conta
nas ações governamentais. Equidade é isso: tratar de forma desigual os desiguais", afirma Rui Pavan, oficial de educação do Unicef
(Fundo das Nações Unidas para a
Infância) e responsável pelo escritório de Salvador.
Para Pavan, apesar da redução
da pobreza infantil, a taxa atual
ainda é muito alta para um país
como o Brasil, que está entre as 15
maiores economias do mundo.
"Precisamos olhar para o Brasil
real", afirma ele.
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