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PROPAGANDA IRREGULAR
Banco estadual forneceu ao Legislativo paulista valores errados de contratos com agências de publicidade
Nossa Caixa omitiu R$ 17,8 mi da Assembléia
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Nossa Caixa omitiu da Assembléia Legislativa de São Paulo
ter gastado R$ 17,8 milhões com
duas agências de publicidade que
operaram com o banco estatal durante um ano e nove meses sem
contrato formal.
Os acordos publicitários do
banco paulista estão sendo investigados pelo Ministério Público
do Estado de São Paulo, que apura um suposto favorecimento, por
meio de veiculação de anúncios
da Nossa Caixa, a deputados estaduais da base de apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Em maio deste ano, ao ser questionado pelo deputado estadual
Cândido Vaccarezza (PT) sobre
os gastos publicitários em 2003 e
em 2004, o então gerente de marketing da Nossa Caixa, Jaime de
Castro Jr., disse que o banco pagou quase R$ 26 milhões às agências Colucci & Associados Propaganda e Full Jazz Comunicação e
Propaganda -R$ 2 milhões abaixo do fixado em contrato.
Anteontem, o presidente da
Nossa Caixa, Carlos Eduardo
Monteiro, disse que, na verdade, o
banco pagou R$ 43,8 milhões às
agências -R$ 17,8 milhões de diferença. O montante, incluindo os
valores pagos em 2005, ultrapassou 96,15% do estabelecido em
contrato -a lei limita em 25%.
"Os valores corretos foram
apresentados à reportagem", disse Monteiro. Segundo ele, não
existiu a intenção deliberada de
omitir dados da Assembléia. O
banco informou que, com a saída
do funcionário, não é possível saber o motivo de ele ter apresentado números tão diferentes.
No ofício à Assembléia, o ex-gerente também não disse que os
contratos estavam vencidos desde
setembro de 2003.
Segundo a Constituição do Estado, deputados têm o poder de
requisitar dados de órgão público,
importando crime de responsabilidade o fornecimento de informação falsa. O artigo 299 do Código Penal define como crime de
falsidade ideológica a alteração de
dados públicos relevantes -a pena máxima é de 5 anos de prisão.
Para configurar crime, no entanto, é necessário comprovar
que o erro foi intencional.
Denúncia
O fato de a Nossa Caixa ter operado sem amparo legal durante
um ano e nove meses só veio a público após uma denúncia anônima encaminhada ao Ministério
Público e à imprensa.
O denunciante disse que deputados da base governista, ligados a
revistas e a emissoras de rádio e
de TV, teriam sido beneficiados
na distribuição de recursos publicitários. A Promotoria foi alertada
para a circunstância de que Monteiro poderia estar agindo como
investigador e investigado na sindicância aberta pelo banco, pois,
antes de assumir a presidência, foi
diretor-jurídico em 2004.
A carta anônima relata ainda
que o ex-gerente, afastado do cargo por Monteiro, teria avisado várias vezes o presidente sobre o
vencimento dos contratos, circunstância que teria sido ignorada. A denúncia sugere que o Castro Jr. poderá ser apontado como
único responsável.
Outro lado
O governador paulista disse que
a suspeita de favorecimento a parlamentares não tem procedência.
A Nossa Caixa informou não
existir interferência política. A situação, disse Monteiro, é fruto de
uma "falha administrativa", cujos
responsáveis serão apontados em
sindicância mantida sob sigilo.
A Folha procurou Castro Jr.,
mas ele não foi localizado.
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