São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2007

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Elio Gaspari

2008 começará bem com Carla e Yulia


O ano ameaçava ser dominado por quatro mulheres determinadas a detonar a arte do bem vestir
CARLA BRUNI E YULIA TIMOSHENKO salvarão 2008. A namorada do presidente francês Nicolas Sarkozy e a nova primeira-ministra da Ucrânia são uma esperança para um ano que ameaçava ser dominado por quatro mulheres determinadas a detonar a arte do bem vestir.
A presidente argentina Cristina Kirchner, com seus cintos medievais e boleros de boneca, ainda aprenderá que certas saias leves só podem ser usadas com pesos na bainha (a la Elisabeth 2ª). Do contrário, sem ser uma Marilyn Monroe, viverá a cena do bueiro. A chanceler alemã Angela Merkel, um modelo de frugalidade, dá a impressão de que se esquece de tirar o cabide dos paletós. Hillary Clinton veste-se antes de botar as lentes de contato, e a secretária de Estado Condoleezza Rice talvez tenha sonhado em ser aeromoça.
Sarkozy (1m63cm), de mãos dadas com a cantora Carla Bruni (1m76cm), torna-se uma presença agradável. Pode ir aonde quiser, desde que leve consigo La Bruni. Um presidente solteiro com uma namorada espetacular levanta a cortina de hipocrisia dos antecessores casados que colecionavam amantes. Jacques Chirac virou piada: "12 minutos, com chuveiro incluído".
A segunda alegria de 2008 é a economista ucraniana Yulia Timoshenko, 47 anos. Com suas tranças douradas, parece adolescente camponesa.
Bonita, poderosa e rica, tem uma fortuna estimada em vários bilhões de dólares e é boa de briga. Já encarou um adversário empunhando um de seus sapatos de salto stiletto. La Timoshneko é um prodígio de marquetagem. Na vida real, é morena. Ela diz que seu penteado demanda apenas sete minutos de cuidados.
Yulia entrou na economia de mercado apropriando-se de uma rede de lojas de vídeos da Juventude Comunista e ficou milionária na privataria energética do colapso da União Soviética. Aprendeu tanto (inclusive com algumas semanas de cadeia) que promete desinfetar a corrupção de seu país.
Uma mulher nessa condição sofre inevitavelmente a maledicência pública. Com Yulia Timoshenko, um cineasta russo foi mais longe e fez um filme pornô no qual uma sósia de 20 anos tem um encontro (a bordo de um helicóptero) com um namorado igualmente bem apessoado, idêntico ao presidente da Geórgia.

O GOVERNO ALEMÃO TEM MEMÓRIA CURTA

O repórter Marcio Damasceno revelou que cidadãos brasileiros têm sido enxotados da Alemanha porque, no entendimento dos burocratas de suas fronteiras, não trazem nos passaportes o visto adequado. Não há exigência de visto para que turistas alemães entrem no Brasil, nem para que brasileiros entrem na Alemanha. O desconforto atinge quem, por qualquer motivo, tenha um visto específico de outros países da União Européia e pretenda transitar pela Alemanha.
Jamais se deve duvidar de um guarda de fronteira quando ele mostra um regulamento que impede isso ou aquilo. Contudo, pode-se lembrar à diplomacia de Bonn que esse tipo de tratamento é deselegante para com os cidadãos de um país que, nos séculos 19 e 20, acolheu cerca de 200 mil imigrantes alemães. Primeiro fugiam da fome. O pai do presidente Ernesto Geisel (1974-1979) atravessou um pedaço do Atlântico numa dieta de cebolas. Depois, fugiram do nazismo, inclusive a família de Caio Koch-Weser, vice-presidente do Deutsche Bank, nascido em Rolândia (PR).
Os guardas dos aeroportos alemães olham com suspeita para os brasileiros. Deveriam lembrar que, em matéria de maus antecedentes, ninguém baterá seu compatriota Joseph Mengele, cientista-residente do campo de concentração de Auschwitz, que viveu escondido no Brasil até sua morte, em 1979. (Pode-se fazer de conta que o governo alemão tentou descobrir onde ele estava.)

LULA LEVOU
Lula conseguiu inverter um costume das previsões econômicas. Há mais de uma década, sempre que chegava a hora do balanço, os presidentes (inclusive ele) diziam que o próximo ano "não vai ser igual àquele que passou". Encerrado um 2007 de êxitos amplos, gerais e irrestritos, agora é a oposição quem diz que 2008 não será igual "àquele que passou".
Habituado a reescrever a própria história, Nosso Guia vestiu o macacão de coitadinho: "Quando eu falei do espetáculo do crescimento, fui achincalhado". Menos. O que ele disse, em junho de 2003, foi o seguinte: "Esperem que o mês de julho será o do espetáculo do crescimento". Era conversa fiada. O ano terminou com um crescimento de 0,5%, marca dez vezes menor que a de 2007.

ALÔ IPHAN
Aviso ao Patrimônio Histórico: o Park Hotel de Nova Friburgo está apodrecendo. Foi projetado por Lúcio Costa em 1940, tem dez quartos e funcionou até 2003. O alpendre já ruiu e os cupins comeram um pedaço do assoalho.
Trata-se de uma propriedade privada (dos herdeiros de César Guinle) e, portanto, deve-se tomar cuidado antes de colocar dinheiro da Viúva na sua restauração. Deixá-lo ruir, contudo, seria o pior desfecho.

CADEIRAS VAZIAS
O ministro Carlos Lupi, que bateu de frente com o Conselho de Ética Pública, deverá ser aconselhado a pedir licença da presidência do PDT. Se o Planalto decidir apoiá-lo, poderá aproveitar a viagem, pedindo-lhe que nomeie os novos integrantes da instituição. Será o Conselho da Ética de Lupi.

A HORA MASP DO HC
Tudo indica que o incêndio ocorrido no Hospital das Clínicas começou com um curto-circuito no subsolo. Há informações de que oito horas antes da fumaça chegar ao 9º andar do prédio, sentia-se cheiro de fumaça no pedaço e um funcionário avisou a segurança. A perícia determinará até que ponto o HC teve seu Momento Masp.
A possível origem elétrica do sinistro jogou a nobiliarquia do Hospital das Clínicas numa coincidência malvada. Em outubro passado o médico Waldemir Rezende, ex-diretor do seu Instituto Central, publicou um livro intitulado "Estação Clínicas", contando roubalheiras e bandalhas que testemunhou na instituição. Ele dirigiu o instituto durante quatro anos, até fevereiro passado. Começou sua gestão sorteando entre os funcionários os presentes de Natal mandados pelos fornecedores.
Um dos casos narrados em "Estação Clínicas" refere-se a um problema elétrico. Faltavam lâmpadas numa enfermaria. Disseram que era necessário trocar o sistema elétrico do setor, pois os encaixes eram velhos e as lâmpadas saíram de linha. Custo? R$ 15 mil. Com R$ 50 tirados do próprio bolso, Rezende comprou dez lâmpadas numa loja a menos de um quilômetro de distância do HC.
"Estação Clínicas" é um livro sangüíneo, cheio de bois sem nomes. Semanas antes do incêndio, Rezende soube que foi aberta uma sindicância para apurar "transgressão de deveres e proibições funcionais que configuram procedimentos irregulares de natureza grave".
Não ficou claro se vão apurar as maracutaias que o médico denunciou ou se arriscam concluir que ele cometeu uma leviandade ao denunciá-las.


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