|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Após desgaste, Lula exonera Lacerda da direção da Abin
Delegado será adido policial em Portugal; cargo foi criado só para acomodá-lo
Participação na Operação Satiagraha e suposta escuta em presidente do STF minam apoio ao delegado, afastado desde setembro
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de quase quatro meses de desgaste, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva exonerou ontem o diretor-geral da
Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Lacerda, e o
nomeou adido policial na Embaixada do Brasil em Portugal,
cargo criado para acomodá-lo.
Contudo, o que deveria ser
uma saída honrosa para Lacerda soou como desprestígio para
o delegado que chefiou a Polícia
Federal durante todo o primeiro mandato de Lula (2003-2006), antes de passar para o
comando da Abin.
Lacerda foi convidado para
assumir o posto em Lisboa pelo
número dois do Ministério da
Justiça, Luiz Paulo Barreto, secretário-executivo da pasta.
Nem Lula nem o ministro Tarso Genro trataram do assunto
diretamente com o diretor-geral da agência.
Lacerda foi afastado por Lula
do comando da Abin no dia 1º
de setembro, após a revista
"Veja" ter publicado reportagem sobre um grampo que teria
sido realizado pela Abin de uma
conversa entre o presidente do
STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, e
o senador Demóstenes Torres
(DEM-GO). A ação clandestina
teria sido realizada por agentes
cedidos por Lacerda ao delegado da PF Protógenes Queiroz,
que conduziu a Operação Satiagraha até o início de julho.
Lacerda sempre negou o envolvimento da Abin no suposto
grampo e esperava voltar para o
comando da agência após a
conclusão do inquérito aberto
pela PF para investigar o caso.
O inquérito da PF, contudo,
está parado na Justiça, que analisa pedido de prorrogação feito
pelos delegados Rômulo Berredo e William Morad. Até agora,
a PF não coletou provas de autoria nem vestígios do suposto
áudio cuja transcrição foi divulgada pela revista.
O período máximo de afastamento de Lacerda vencia ontem. Segundo a Folha apurou,
o presidente Lula não queria
simplesmente exonerá-lo nem
reconduzi-lo ao cargo antes da
conclusão da investigação da
PF. No primeiro caso, poderia
passar a idéia de culpa do diretor da Abin. No segundo, havia
o risco de constrangimento para o presidente se, após sua volta para o comando da agência, a
PF identificasse o envolvimento de agentes da Abin no episódio. A saída encontrada foi recolocar o policial federal numa
nova função.
Duas semanas atrás, o GSI
(Gabinete de Segurança Institucional) arquivou sindicância
para investigar a participação
de agentes da Abin no episódio.
O gabinete diz não ter encontrado provas contra os agentes.
Mas a apuração do GSI foi
considerada pelo Planalto insuficiente para sustentar a decisão de reconduzir Lacerda ao
posto. A Abin está subordinada
ao gabinete, e o próprio chefe
do GSI, general Jorge Felix,
disse em uma reunião com
agentes que o vazamento do
grampo era obra de "um colega". Oficialmente, o general nega, apesar de ter sido ouvido
por dezenas de agentes.
Interinamente, permanece
na direção da agência Wilson
Trezza, no entanto a disputa
pelo cargo já começou. A Folha
não conseguiu falar com ele ou
com Lacerda ontem.
"Exílio amigável"
O Ministério da Justiça tinha
planos de aumentar o número
de adidos policiais nas embaixadas. Antes de entrar em férias no dia 19 passado, o ministro Tarso Genro conversou
com Lula e disse que poderia
oferecer a Lacerda um posto a
ser criado em Lisboa. O presidente gostou da idéia -cargos
diplomáticos na capital portuguesa têm sido, historicamente, pontos preferenciais para
"exílios políticos amigáveis".
Tarso, então, incumbiu seu
secretário-executivo para levar
o convite ao diretor da Abin.
Lacerda não queria deixar o
cargo, mas entendeu o convite
como um sinal de que não seria
reconduzido. Assim, decidiu
aceitar a nova função.
Além de Portugal, o Ministério da Justiça criou as funções
de adido policial também nas
embaixadas do Brasil nos Estados Unidos e na Itália, mas os
nomes para os cargos ainda não
foram escolhidos.
Hoje, somente sete embaixadas (Uruguai, Argentina, Paraguai, Colômbia, Bolívia, França
e Suriname) contam com a figura do adido policial, que ajuda a coordenar operações policiais conjuntas do Brasil com
esses países e também nas
ações da Interpol.
Em Portugal, a missão principal de Lacerda será cuidar de
questões relacionadas a tráfico
de pessoas e imigração ilegal.
Lula exonerou também Renato Porciúncula, ex-diretor de
Inteligência da PF que Lacerda
levou para Abin como seu homem de confiança.
Colaborou ANGELA PINHO, da Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Janio de Freitas: A cena completa Índice
|