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OUTRO LADO
Citados descartam desvio ético na relação
DA AGÊNCIA FOLHA
DO PAINEL
Financiados e financiadores não
vêem problemas em sua relação e
descartam desvios éticos no trabalho no Congresso. O deputado
federal Delfim Netto (PPB-SP)
afirmou que, para ele, "não houve
quebra dos princípios éticos" da
Câmara ao ter sido relator na comissão que isentou as operações
no mercado de capitais da CPMF.
Delfim afirmou que há uma
grande incompreensão a respeito
do funcionamento do Congresso
e sobre o papel dos parlamentares. "Se eu proponho medidas para aperfeiçoar a legislação nas
operações do mercado de capitais
é porque acredito que isso ajudará o setor privado da economia a
captar recursos para financiar a
produção, gerar mais empregos,
trabalhar, enfim, para acelerar o
crescimento."
Para Delfim, seus eleitores desejariam as mesmas coisas que ele.
"O reconhecimento que o processo eleitoral é um fato econômico,
além de um ato político, não autoriza nivelar por baixo a atividade
realizada no Congresso."
O deputado federal Rodrigo
Maia (PFL-RJ), que presidiu a comissão da qual Delfim foi o relator, disse que "é mais do que legítimo" que os financiadores de
campanha escolham os parlamentares que possuem "idéias
convergentes com o setor". Ele
defende a regulamentação dos
lobbies. "O financiamento privado é legítimo. O lobby, se for regulamentado, é legítimo."
O superintendente de Relações
Institucionais da Bovespa, José
Roberto Mubarack, disse que "foi
muito bom" o fato de Delfim ter
relatado a questão da CPMF.
Questionado sobre o que motivou a Bovespa a ter investido R$
600 mil na eleição, Mubarack afirmou: "Houve uma frequência
maior [em relação aos pleitos anteriores] em razão de uma atuação muito forte que tivemos no
ano passado diante do Legislativo
no trabalho de conscientização,
conhecimento e transparência da
Bovespa para a aprovação da não-incidência da CPMF. Para se ter
uma idéia, o presidente da Bovespa [Raymundo Magliano Filho]
esteve conversando com deputados e senadores praticamente o
segundo semestre inteiro".
O secretário do Conselho de
Administração da BM&F, Noenio Spinola, declarou que "o Conselho de Administração autoriza a
Bolsa a patrocinar, nos termos da
lei, os candidatos. A Bolsa atende
a quem solicita os recursos".
O deputado Luiz Antonio
Fleury (PTB-SP) disse que não há
problema de ter recebido dinheiro de fabricantes de armas. "Eu
sou absolutamente favorável que
tenhamos venda de armas no
Brasil, mas que haja uma restrição
maior em relação ao porte."
Fleury ainda afirmou: "Eu me
sinto muito à vontade defendendo a indústria nacional de armas.
Nas eleições passadas, eu tive
apoio de entidades e nem por isso
eu deixei de votar, quando minha
consciência entendeu que devia
fazê-lo, contra interesses de grupos que eventualmente tenham
me ajudado".
O deputado federal Alberto Fraga (PMDB-DF) disse não ver problemas no fato de ter relatado o
projeto de desarmamento e, na
última campanha, ter recebido
doações da CBC.
"Eles me arrumaram R$ 60 mil.
Você coloque [no texto da reportagem] que foi R$ 60 mil. A minha
campanha custou R$ 87 mil [R$
94 mil, segundo o TSE]. Coloque
isso também. Se você está querendo fazer um comparativo, achar
que eu vendo um parecer por R$
60 mil, ou você está subestimando
minha capacidade ou acha que eu
sou um perfeito idiota. Eu não me
vendo por R$ 60 mil."
Segundo a consultora da CBC
Stella Cruz, os deputados auxiliados sabiam que a empresa ajudava esperando apoio em discussões no Congresso. "Na maioria
das vezes, foram procurados por
nós com o assunto claro: "Nós temos tal problema no Congresso.
O senhor se constrange? O senhor
pode ser um aliado no momento
em que haja necessidade?". "Não
posso", até logo e muito obrigado
pela atenção. Ou "posso ser", ótimo", disse.
Os parlamentares que participaram da CPI dos Medicamentos
e receberam recursos das próprias empresas investigadas não
interpretam o fato como um dilema ético. As empresas, por sua
vez, afirmam que foram procuradas pelos deputados.
O deputado federal Ney Lopes
(PFL-RN) disse não se lembrar de
ter recebido recursos para sua
campanha de qualquer empresa
ligada à indústria farmacêutica.
Mas afirmou que não vê nenhum
problema ético no recolhimento.
"Se chega o ingresso de um dinheiro em minha campanha e eu
declaro no tribunal e isso causa
polêmica, eu não sei mais que país
é este. É quase um estímulo à
clandestinidade. Quem achar que
é ilegal que faça a impugnação. É
uma caça às bruxas."
Darcísio Perondi (PMDB-RS)
não vê problemas na doação feita
pela empresa Libra. "A empresa
tem escritório no Rio Grande do
Sul, quis me ajudar e eu aceitei. Eu
não vejo questão ética nenhuma
nisso. É uma empresa séria, que
está empregando gente, está ajudando o país."
A Folha contatou a assessoria
do deputado José Linhares, informando-a sobre a reportagem. Até
a conclusão desta edição, ele não
havia ligado de volta.
As empresas, por sua vez, afirmam que foram procuradas pelos
deputados. O diretor de Estratégia e Projetos e porta-voz da empresa Altana Pharma, David Zimath, disse que Ney Lopes o procurou e não vê problema nisso.
O diretor no Brasil da Fresenius
Medical Care, Armin Karch, afirmou que o deputado Linhares o
havia procurado. Já Daniel Ramada, diretor da Libra, disse que a
direção da empresa "como dever
de cidadania", decidiu apoiar o
candidato Perondi.
O mesmo Perondi e José Rocha
(PFL-BA) disseram que as doações que receberam da CBF nas
últimas eleições não possuem relação com o trabalho que tiveram
durante a CPI que investigou a
própria entidade. "Eu sou da área
do esporte, e a lei permite as doações", afirmou Rocha. "Participei
[da CPI] e defendi a CBF. Tenho
uma relação antiga com a presidência da CBF, pedi ajuda e fui
ajudado", disse Perondi.
O senador Renan Calheiros
(PMDB-AL), por meio de sua assessoria, disse que nunca teve interesses extras na comissão. "A
doação foi pública, não escondo e
não nego." Já Gilvam Borges
(PMDB-AP) não falou sobre o caso. A CBF, informada sobre a reportagem, não comentou o caso.
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