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São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 2003

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OUTRO LADO

Citados descartam desvio ético na relação

DA AGÊNCIA FOLHA
DO PAINEL

Financiados e financiadores não vêem problemas em sua relação e descartam desvios éticos no trabalho no Congresso. O deputado federal Delfim Netto (PPB-SP) afirmou que, para ele, "não houve quebra dos princípios éticos" da Câmara ao ter sido relator na comissão que isentou as operações no mercado de capitais da CPMF.
Delfim afirmou que há uma grande incompreensão a respeito do funcionamento do Congresso e sobre o papel dos parlamentares. "Se eu proponho medidas para aperfeiçoar a legislação nas operações do mercado de capitais é porque acredito que isso ajudará o setor privado da economia a captar recursos para financiar a produção, gerar mais empregos, trabalhar, enfim, para acelerar o crescimento."
Para Delfim, seus eleitores desejariam as mesmas coisas que ele. "O reconhecimento que o processo eleitoral é um fato econômico, além de um ato político, não autoriza nivelar por baixo a atividade realizada no Congresso."
O deputado federal Rodrigo Maia (PFL-RJ), que presidiu a comissão da qual Delfim foi o relator, disse que "é mais do que legítimo" que os financiadores de campanha escolham os parlamentares que possuem "idéias convergentes com o setor". Ele defende a regulamentação dos lobbies. "O financiamento privado é legítimo. O lobby, se for regulamentado, é legítimo."
O superintendente de Relações Institucionais da Bovespa, José Roberto Mubarack, disse que "foi muito bom" o fato de Delfim ter relatado a questão da CPMF.
Questionado sobre o que motivou a Bovespa a ter investido R$ 600 mil na eleição, Mubarack afirmou: "Houve uma frequência maior [em relação aos pleitos anteriores] em razão de uma atuação muito forte que tivemos no ano passado diante do Legislativo no trabalho de conscientização, conhecimento e transparência da Bovespa para a aprovação da não-incidência da CPMF. Para se ter uma idéia, o presidente da Bovespa [Raymundo Magliano Filho] esteve conversando com deputados e senadores praticamente o segundo semestre inteiro".
O secretário do Conselho de Administração da BM&F, Noenio Spinola, declarou que "o Conselho de Administração autoriza a Bolsa a patrocinar, nos termos da lei, os candidatos. A Bolsa atende a quem solicita os recursos".
O deputado Luiz Antonio Fleury (PTB-SP) disse que não há problema de ter recebido dinheiro de fabricantes de armas. "Eu sou absolutamente favorável que tenhamos venda de armas no Brasil, mas que haja uma restrição maior em relação ao porte."
Fleury ainda afirmou: "Eu me sinto muito à vontade defendendo a indústria nacional de armas. Nas eleições passadas, eu tive apoio de entidades e nem por isso eu deixei de votar, quando minha consciência entendeu que devia fazê-lo, contra interesses de grupos que eventualmente tenham me ajudado".
O deputado federal Alberto Fraga (PMDB-DF) disse não ver problemas no fato de ter relatado o projeto de desarmamento e, na última campanha, ter recebido doações da CBC.
"Eles me arrumaram R$ 60 mil. Você coloque [no texto da reportagem] que foi R$ 60 mil. A minha campanha custou R$ 87 mil [R$ 94 mil, segundo o TSE]. Coloque isso também. Se você está querendo fazer um comparativo, achar que eu vendo um parecer por R$ 60 mil, ou você está subestimando minha capacidade ou acha que eu sou um perfeito idiota. Eu não me vendo por R$ 60 mil."
Segundo a consultora da CBC Stella Cruz, os deputados auxiliados sabiam que a empresa ajudava esperando apoio em discussões no Congresso. "Na maioria das vezes, foram procurados por nós com o assunto claro: "Nós temos tal problema no Congresso. O senhor se constrange? O senhor pode ser um aliado no momento em que haja necessidade?". "Não posso", até logo e muito obrigado pela atenção. Ou "posso ser", ótimo", disse.
Os parlamentares que participaram da CPI dos Medicamentos e receberam recursos das próprias empresas investigadas não interpretam o fato como um dilema ético. As empresas, por sua vez, afirmam que foram procuradas pelos deputados.
O deputado federal Ney Lopes (PFL-RN) disse não se lembrar de ter recebido recursos para sua campanha de qualquer empresa ligada à indústria farmacêutica. Mas afirmou que não vê nenhum problema ético no recolhimento.
"Se chega o ingresso de um dinheiro em minha campanha e eu declaro no tribunal e isso causa polêmica, eu não sei mais que país é este. É quase um estímulo à clandestinidade. Quem achar que é ilegal que faça a impugnação. É uma caça às bruxas."
Darcísio Perondi (PMDB-RS) não vê problemas na doação feita pela empresa Libra. "A empresa tem escritório no Rio Grande do Sul, quis me ajudar e eu aceitei. Eu não vejo questão ética nenhuma nisso. É uma empresa séria, que está empregando gente, está ajudando o país."
A Folha contatou a assessoria do deputado José Linhares, informando-a sobre a reportagem. Até a conclusão desta edição, ele não havia ligado de volta.
As empresas, por sua vez, afirmam que foram procuradas pelos deputados. O diretor de Estratégia e Projetos e porta-voz da empresa Altana Pharma, David Zimath, disse que Ney Lopes o procurou e não vê problema nisso.
O diretor no Brasil da Fresenius Medical Care, Armin Karch, afirmou que o deputado Linhares o havia procurado. Já Daniel Ramada, diretor da Libra, disse que a direção da empresa "como dever de cidadania", decidiu apoiar o candidato Perondi.
O mesmo Perondi e José Rocha (PFL-BA) disseram que as doações que receberam da CBF nas últimas eleições não possuem relação com o trabalho que tiveram durante a CPI que investigou a própria entidade. "Eu sou da área do esporte, e a lei permite as doações", afirmou Rocha. "Participei [da CPI] e defendi a CBF. Tenho uma relação antiga com a presidência da CBF, pedi ajuda e fui ajudado", disse Perondi.
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), por meio de sua assessoria, disse que nunca teve interesses extras na comissão. "A doação foi pública, não escondo e não nego." Já Gilvam Borges (PMDB-AP) não falou sobre o caso. A CBF, informada sobre a reportagem, não comentou o caso.


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