São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2004

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BRASIL PROFUNDO

Governo de MG cria disque-denúncia para receber informações

PF encontra local da morte de fiscais e estima 3 executores

IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A UNAÍ (MG)

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal encontrou ontem o local exato em que os três fiscais do trabalho e o motorista deles foram assassinados na quarta em Unaí (MG). Na estrada, foram achados um projétil, que não estava deflagrado, e estilhaços do vidro da camionete dos auditores. Ao lado do local, fica a maior fazenda da cidade, a Bocaina, fiscalizada pelos servidores no início da semana, segundo a PF.
Os agentes ressaltam que isso não incrimina os donos da fazenda. Também houve inspeções da equipe em outras propriedades. Segundo o Ministério Público do Trabalho em Belo Horizonte, duas fazendas foram autuadas durante a fiscalização, com multas de R$ 150 mil e de R$ 100 mil.
A PF trabalha com a hipótese de que sejam três os assassinos. O indício surgiu de depoimentos da população local, que começaram a ser colhidos anteontem, e dos levantamentos da equipe de Inteligência da PF. Antes, a hipótese mais provável é que eram dois.
O local exato foi determinado por uma equipe do COT (Comando de Operações Táticas). O ponto está localizado em uma estrada vicinal, que corta fazendas próximas à rodovia MG-188, a cerca de 15 quilômetros do local em que o motorista dos fiscais foi encontrado. O calibre do projétil (380) confere com ao menos uma arma utilizada pelos assassinos.
A PF não faz nenhuma relação entre o crime e o fato de a fazenda Bocaina ficar ao lado de onde os fiscais foram mortos. A fazenda é especializada na produção de algodão, soja, milho e feijão.
Segundo o delegado Daniel Sampaio, coordenador do COT, a Bocaina foi vistoriada na segunda-feira pelos fiscais. Foi detectada ausência de documentos relativos à contratação de pessoal e os auditores deram prazo até quinta-feira para regularização.
O crime ocorreu por volta das 8h30 de quarta-feira. Os três fiscais, Nelson José da Silva, João Batista Soares Lage e Erastótenes de Almeida Gonçalves, e seu motorista, Ailton Pereira de Oliveira, teriam parado na estrada para dar informações a dois homens quando foi anunciado um assalto.
Os assassinos tomaram os telefones celulares do grupo e dispararam na cabeça dos quatro ocupantes do veículo. O motorista acordou minutos depois, com o projétil alojado na face esquerda, e dirigiu por 15 quilômetros até o chamado "trevo das sete placas", na MG-188. Foi socorrido por um fazendeiro e morreu a caminho do Hospital de Base, em Brasília.
Silva havia deixado um relato de ameaças sofridas na semana passada, segundo o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG).
A Folha tentou obter ontem a documentação relativa às auditorias feitas pelos fiscais nos últimos meses. Segundo o delegado regional do trabalho de Minas, Carlos Calazans, todos os dados sobre o noroeste mineiro estão "sob sigilo determinado pela PF".

Investigação
Até a próxima terça-feira, devem ser concluídos cinco laudos periciais: de balística, cadavérico, papiloscópico, do local onde o episódio aconteceu e de onde as vítimas foram encontradas.
O superintendente da PF no Distrito Federal, delegado Euclides Rodrigues da Silva Filho, afirmou que "todas as características levam a crer que possa ter sido uma execução". Os tiros contra os quatro foram à queima roupa.
O governo mineiro criou um disque-denúncia para ter informações da população. A ligação é gratuita e pode ser feita de qualquer Estado - 0800 702-0190.
Cinco deputados de uma comissão especial para acompanhar o caso chegaram ontem a Unaí.


Colaboraram SÉRGIO LIMA, da Sucursal de Brasília, e THIAGO ORNAGHI, da Agência Folha

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