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BRASIL PROFUNDO
Governo de MG cria disque-denúncia para receber informações
PF encontra local da morte de fiscais e estima 3 executores
IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A UNAÍ (MG)
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal encontrou ontem o local exato em que os três
fiscais do trabalho e o motorista
deles foram assassinados na quarta em Unaí (MG). Na estrada, foram achados um projétil, que não
estava deflagrado, e estilhaços do
vidro da camionete dos auditores.
Ao lado do local, fica a maior fazenda da cidade, a Bocaina, fiscalizada pelos servidores no início
da semana, segundo a PF.
Os agentes ressaltam que isso
não incrimina os donos da fazenda. Também houve inspeções da
equipe em outras propriedades.
Segundo o Ministério Público do
Trabalho em Belo Horizonte,
duas fazendas foram autuadas
durante a fiscalização, com multas de R$ 150 mil e de R$ 100 mil.
A PF trabalha com a hipótese de
que sejam três os assassinos. O indício surgiu de depoimentos da
população local, que começaram
a ser colhidos anteontem, e dos levantamentos da equipe de Inteligência da PF. Antes, a hipótese
mais provável é que eram dois.
O local exato foi determinado
por uma equipe do COT (Comando de Operações Táticas). O ponto está localizado em uma estrada
vicinal, que corta fazendas próximas à rodovia MG-188, a cerca de
15 quilômetros do local em que o
motorista dos fiscais foi encontrado. O calibre do projétil (380)
confere com ao menos uma arma
utilizada pelos assassinos.
A PF não faz nenhuma relação
entre o crime e o fato de a fazenda
Bocaina ficar ao lado de onde os
fiscais foram mortos. A fazenda é
especializada na produção de algodão, soja, milho e feijão.
Segundo o delegado Daniel
Sampaio, coordenador do COT, a
Bocaina foi vistoriada na segunda-feira pelos fiscais. Foi detectada ausência de documentos relativos à contratação de pessoal e os
auditores deram prazo até quinta-feira para regularização.
O crime ocorreu por volta das
8h30 de quarta-feira. Os três fiscais, Nelson José da Silva, João Batista Soares Lage e Erastótenes de
Almeida Gonçalves, e seu motorista, Ailton Pereira de Oliveira,
teriam parado na estrada para dar
informações a dois homens quando foi anunciado um assalto.
Os assassinos tomaram os telefones celulares do grupo e dispararam na cabeça dos quatro ocupantes do veículo. O motorista
acordou minutos depois, com o
projétil alojado na face esquerda,
e dirigiu por 15 quilômetros até o
chamado "trevo das sete placas",
na MG-188. Foi socorrido por um
fazendeiro e morreu a caminho
do Hospital de Base, em Brasília.
Silva havia deixado um relato de
ameaças sofridas na semana passada, segundo o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG).
A Folha tentou obter ontem a
documentação relativa às auditorias feitas pelos fiscais nos últimos
meses. Segundo o delegado regional do trabalho de Minas, Carlos
Calazans, todos os dados sobre o
noroeste mineiro estão "sob sigilo
determinado pela PF".
Investigação
Até a próxima terça-feira, devem ser concluídos cinco laudos
periciais: de balística, cadavérico,
papiloscópico, do local onde o
episódio aconteceu e de onde as
vítimas foram encontradas.
O superintendente da PF no
Distrito Federal, delegado Euclides Rodrigues da Silva Filho, afirmou que "todas as características
levam a crer que possa ter sido
uma execução". Os tiros contra os
quatro foram à queima roupa.
O governo mineiro criou um
disque-denúncia para ter informações da população. A ligação é
gratuita e pode ser feita de qualquer Estado - 0800 702-0190.
Cinco deputados de uma comissão especial para acompanhar
o caso chegaram ontem a Unaí.
Colaboraram SÉRGIO LIMA, da Sucursal
de Brasília, e THIAGO ORNAGHI, da
Agência Folha
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