São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 1998

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SETOR ELÉTRICO
Falando de empresas do Rio, ministro realiza crítica a colegas de governo
Para Motta, Light e Cerj são 'vergonha'

CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, disse ontem que as empresas de energia do Rio, Light e Cerj, "envergonham o processo de privatização do Brasil".
"Se acontecesse na minha área um episódio como o da Cerj e o da Light, eu interviria nas empresas e daria a multa que a minha lei permite, que são R$ 50 milhões", afirmou Motta em São Paulo, logo depois da solenidade de posse de Andrea Matarazzo na Secretaria da Energia do Estado.
Para ele, o problema das empresas é o mau atendimento ao consumidor e a falta de projetos de expansão e recuperação da rede.
As críticas de Motta atingem o próprio governo do qual ele faz parte. A responsabilidade pela regulamentação e fiscalização do setor é da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que fez exigências à Light no final do ano passado, mas não chegou a adotar as punições sugeridas por Motta.
Outras vítimas indiretas das afirmações de Motta são o filho do presidente Fernando Henrique Cardoso, Paulo Henrique, que é assessor especial do diretor de Administração da Light, Edésio de Oliveira, e o governador do Rio, o tucano Marcello Alencar.
As afirmações de Motta ainda atingem indiretamente o ministro das Minas e Energia, Raimundo Britto, responsável pelo setor.
Motta deu palpites sobre outra área do ministério de Britto, a Petrobrás. Segundo ele, a empresa é o último "esqueleto" da República, que precisa ser desmontado "osso a osso". "A Petrobrás tem de deixar de estar a serviço de um pequeno grupo de funcionários e passar realmente a trabalhar pelo benefício do povo brasileiro."
Outro lado
O governador Marcello Alencar disse que o Estado não cometeu nenhuma falha no processo de privatização da Cerj.
"A Cerj era uma sucata. Fizemos o processo de privatização da empresa da forma mais clara possível. O Estado fiscaliza os serviços da Cerj, por meio da agência reguladora. Mas quem não conhece o Serjão?", disse Alencar.
O gerente de Relações Corporativas da Cerj, José Luís Echenique, disse que a direção da companhia ficou "surpresa" com as críticas.
Segundo Echenique, a Cerj está cumprindo seu plano de investimentos. No ano passado, teriam sido investidos R$ 130 milhões, mesma quantia prevista para 98.
Em nota oficial, a diretoria da Light afirmou que a empresa "também não está satisfeita" com as interrupções no fornecimento de energia elétrica em bairros do Rio no final de 97 e no início de 98.
A companhia atribui esses fatos "às variações climáticas excepcionais e ao forte crescimento do consumo neste período do ano".
De acordo com a Light, os índices de qualidade dos serviços prestados melhoraram em média 25% na área de concessão ao longo do ano passado, o que teria sido resultado de um programa de investimentos de R$ 340 milhões.
Covas
No papel de melhor incentivador de tucanos que o PSDB tem, Motta voltou a insistir na candidatura de Mário Covas à reeleição.
Motta afirmou que Covas não tem o direito de recusar a candidatura. Para o ministro, a eventual reeleição do governador é o primeiro passo para que ele dispute a Presidência em 2002.
"É uma responsabilidade histórica da nossa vida", disse Motta. O ministro lembrou que faz política há 40 anos e engasgou quando tentou calcular o tempo de militância do ex-governador e hoje senador Franco Montoro.
"O governador Montoro, então... já teve gente que perguntou se ele era um clone. Não é, é o próprio senador Montoro! Tem gente que já cutuca ele. Vai lá, mexe. É ele mesmo!", disse, sob risos da platéia e de Montoro.
O apelo para que Covas seja candidato foi feito também pelo ex-secretário da Energia David Zylbersztajn e por seu substituto, Andrea Matarazzo.
Covas só tocou no assunto no final de seu discurso. "Eu não sei o que será o futuro." Mas, depois de pausas que provocaram expectativa na platéia, acrescentou: "Se alguém espera (ouvir) mais alguma coisa...Eu sempre disse que não é para convidar o Serjão (Sérgio Motta) para essas coisas".
Em entrevista depois da solenidade, Covas voltou a afirmar que não é candidato.


Colaborou a Sucursal do Rio


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