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PREVIDÊNCIA
Conta anual será de R$ 45 mi
IPC acaba,
mas gastos
continuam
da Sucursal de Brasília
O IPC (Instituto de Previdência
dos Congressistas) acaba hoje,
após 35 anos marcados por privilégios, mordomias e desfalques. Mas
os cofres públicos não ficam livres
do instituto. Fica para o Tesouro
Nacional a obrigação de pagar
anualmente cerca de R$ 45 milhões
em pensões.
Pesará, ainda, sobre o Tesouro a
ameaça de ações judiciais que poderão resultar em um rombo de R$
300 milhões, relativos a reclamações de ex-parlamentares, servidores do Congresso e pensionistas.
A União receberá o patrimônio
do IPC (cerca de R$ 160 milhões ).
Mas a maior parte desse dinheiro
(R$ 90 milhões) será usada para
restituir as contribuições feitas por
parlamentares e servidores. O que
restar será suficiente para pagar as
pensões por pouco mais de um
ano.
Se os atuais parlamentares desistirem da restituição, se tornarão
pensionistas quando deixarem o
Congresso. Nesse caso, os custos
para o Tesouro serão ainda mais
elevados. A folha de pensões terá
um grande acréscimo.
²
Viúvas
As reclamações na Justiça serão
variadas. Cerca de 264 ex-parlamentares que não completaram
oito anos de mandato querem a
restituição das suas contribuições.
Pela lei que extinguiu o IPC, só os
atuais parlamentares têm direito à
restituição.
Cerca de 240 pensionistas exigem o pagamento da 13ª pensão
anual. Mais 630 viúvas reivindicam o pagamento da pensão integral (só recebem 50% da pensão do
titular).
Finalmente, 3.500 associados do
instituto podem exigir na Justiça a
restituição da contribuição patronal. Todas as ações estão centralizadas nas mãos do advogado Leopoldo Fontenele, que prestou serviços ao IPC durante nove anos.
Ele aguarda que os seus clientes
recebam a restituição de suas contribuições para ingressar na Justiça
e reivindicar os outros direitos.
Os parlamentares e servidores terão dois meses para optar entre a
restituição das contribuições e o
direito de receber a pensão. O deputado mais antigo, Antônio Ueno
(PFL-PR), poderá optar entre a
restituição de R$ 250 mil e uma
pensão vitalícia de R$ 8.000.
O levantamento feito pelos liquidantes do IPC mostra que 553 deputados terão direito a uma restituição de R$ 51 milhões, enquanto
92 senadores poderão receber até
R$ 9 milhões. Os 4.088 servidores
que são segurados terão direito a
R$ 32 milhões.
A servidora mais antiga, Lígia
Camargo, receberá R$ 77 mil de
restituição. Os parlamentares poderão abrir mão da devolução das
contribuições e ingressar no Plano
de Seguridade do Congresso, que
oferece as mesmas condições de
aposentadoria dos servidores públicos.
²
Privilégios e desfalques
A história do IPC foi marcada pelos privilégios. A maior parte do
seu patrimônio foi formada por
subvenções do Tesouro. Nos primeiros anos, as subvenções correspondiam a três vezes o valor das
contribuições dos segurados.
A receita sempre foi reforçada
pelo dinheiro que resultava das faltas dos próprios parlamentares.
Ou seja, em vez de retornar aos cofres públicos, o dinheiro descontado pelas faltas às sessões ia direto
para o caixa do instituto.
O IPC adquiriu imóveis no valor
de R$ 2,5 milhões. São um prédio
na Asa Sul, 22 salas comerciais,
uma loja no Setor Comercial Sul e
três galpões no Setor de Indústrias.
Todos em Brasília.
Quando aumentou muito o número de pensões, as contribuições
patronais e dos segurados não cobriam mais as despesas. Assim, a
Câmara e o Senado passaram a
conceder mais subvenções, a título
de "complementação de pensões".
O estatuto do IPC previa a concessão de empréstimos em dinheiro aos associados e o financiamento de veículos a parlamentares com
juros de 6% ao ano.
Na hora de definir os dependentes, os parlamentares pensaram
em tudo. São consideradas dependentes do segurado a mulher (ou o
marido) e "a companheira mantida há mais de cinco anos".
(LUCIO VAZ)
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