São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2000


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RIO DE JANEIRO
Pedetista quer reforma do secretariado de Garotinho e questiona presença de ex-collorido
Brizola pede fim de influência religiosa

MAURÍCIO THUSWOHL
da Sucursal do Rio

O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, pediu ontem ao governador do Rio, Anthony Garotinho, que ponha fim à influência dos pastores protestantes no governo estadual: "O governo tem de ser mais discreto, está vivendo um protestantismo exagerado", disse.
Brizola citou especificamente a Cehab (Companhia Estadual de Habitação), que maneja um dos maiores orçamentos do governo e vem sendo alvo de denúncias de irregularidades. Eduardo Cunha, presidente da Cehab, é evangélico e foi indicado pelo deputado evangélico Francisco Silva (ex-PPB, atualmente no PST).
"Veja este problema, com tantas denúncias e reclamações, talvez seja a pior parte do governo", disse o ex-governador.
Brizola informou que o PDT enviou ontem um abaixo-assinado de seus militantes pedindo o afastamento de Eduardo Cunha, "devido à má-gestão e também aos seus antecedentes".
No início dos anos 90, Cunha foi presidente da Telerj, a companhia telefônica estadual, por indicação do então presidente Fernando Collor de Mello, e participou da campanha.
Brizola também manifestou descontentamento com a atuação do subsecretário do Gabinete Civil, pastor Everaldo Dias Ferreira. O pastor, ligado politicamente à vice-governadora Benedita da Silva (PT), também protestante, é o responsável pela distribuição do Cheque-Cidadania, que concede mensalmente 30 mil cheques de R$100 a famílias carentes. Os cheques são trocados por comida em supermercados.

Pastores
"Qual a legitimidade de tantos pastores no governo? Quem são esses pastores da Benedita? Por que esse pastor Everaldo tem o controle sobre a distribuição dos cheques? O cheque do pastor é dinheiro público", disse.
Leonel Brizola aconselhou o governador a realizar uma ampla reforma no secretariado. Se depender do ex-governador, os petistas, que atualmente têm três secretários e cerca de 300 cargos de confiança, podem sair do governo sem problemas. "Vivem posição ambígua, se queixam de tudo, começam a fazer denúncias, mas não deixam os cargos que ocupam. Ora, se o caminhão tá ruim, é só pedir para desembarcar."

Outro lado
O governador Anthony Garotinho divulgou uma nota em que rebate as declarações de Leonel Brizola. Ele diz que em seu governo não há pastores ocupando cargos de secretário de Estado e pede que o presidente nacional do PDT respeite sua opção religiosa.
"Eu respeito que o Brizola seja ateu e espero que ele respeite que eu seja presbiteriano", diz Garotinho na nota.
"Nos últimos dias não tenho conseguido ter sossego com tanta calúnia, confusão e festival de vaidades", continua o governador, pedindo que o deixem "trabalhar em paz".
Garotinho descarta a sugestão de Brizola de fazer uma reforma completa de seu secretariado. Segundo ele, não há razão para isso, "já que medidas contra a insubordinação isolada de alguns funcionários já foram tomadas".
Na última semana, o governador fluminense demitiu dois funcionários do primeiro escalão, ambos do PT -Élvio Gaspar, subsecretário de Planejamento, e Sérgio Rosa, presidente do Proderj (Centro de Processamento de Dados do Estado do Rio). Ambos haviam denunciado ingerências em seus órgãos de pessoas ligadas a Garotinho.

Segurança
No dia 17 de março, o governador havia demitido o coordenador de Segurança e Cidadania, Luiz Eduardo Soares, antropólogo sem filiação partidária e responsável pelos projetos de reforma da polícia.
Na nota, o governador não se refere especificamente ao pedido de Brizola de demissão do presidente da Cehab, Eduardo Cunha. Também não menciona as críticas feitas ao pastor Everaldo Dias Ferreira, subsecretário do Gabinete Civil.
Procurado desde o início da tarde de ontem pela Folha, o pastor Everaldo não havia retornado a ligação até as 18h.


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