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JANIO DE FREITAS
O salto
Em menos de 90 horas, entre
o fim de tarde da segunda-feira e a manhã de hoje, Antonio
Palocci dá um salto que só fora
possível na ocorrência de golpe de
Estado: passa direto do status de
mais badalado ministro à cadeira
do interrogatório em uma dependência policial.
Seria muito interessante se Antonio Palocci fosse acometido do
mesmo surto de franqueza que levou Jorge Mattoso, então presidente da Caixa, a dizer à Polícia
Federal que entregou ao ministro
da Fazenda o documento com a
quebra de sigilo do caseiro Francenildo. O esperado, porém, é o
velho Palocci em plena forma, a
mesma que exibiu em quatro arremedos de questionamento no
Congresso a respeito de suas atividades, digamos, extracurriculares. Ou parte delas.
Mas se o país não foi poupado
das cenas degradantes que o seu
ministro da Fazenda protagonizou desde que se asilou no Palácio
do Planalto, em fuga aos jornalistas, e deverá continuá-las hoje, isso também se deve ao comportamento pusilânime de senadores e
deputados ditos da oposição, particularmente do PFL.
Já lançados por vários depoentes das CPIs indícios numerosos a
serem cobrados de Antonio Palocci, não preenchem os dedos de
uma das mãos os parlamentares
que tiveram a hombridade de lhe
fazer indagações objetivas e desmentidos pertinentes. A larga
maioria dividiu-se entre a omissão de uns e, de outros, o oportunismo acovardado e a bajulação
pegajosa. Todas atitudes dedicadas não só ao agrado de Palocci
mas também, ou sobretudo, aos
doadores.
Inquirições sérias tenderiam a
alertar Palocci para as possíveis
impropriedades de relações ou
condutas suas, e até a sustá-las
àquela altura, evitando os desdobramentos que tiveram. A chamada oposição composta por PFL
e PSDB não tem do que se vangloriar: é parte ativa na produção da
lambança.
Renúncias
Está previsto para hoje o ato,
com direito a discurso, em que José Serra deixa a Prefeitura de São
Paulo. A renúncia com apenas 15
meses de mandato para candidatar-se à Presidência, apoiado na
justificativa da preferência por
seu nome nas sondagens públicas,
seria capaz de justificar-se.
A mesma renúncia para trocar
a administração da cidade mais
poderosa da América Latina pela
administração do Estado, por importante que este também seja,
não demonstra legitimidade.
Mais parece a busca de um trampolim mais alto para a eleição
presidencial de 2010, o que seria
mais uma visão equivocada.
Não é esperável, como não se esperam dos Parlamentos brasileiros as medidas necessárias, mas a
proibição de renúncias precipitadas por fins políticos seria muito
conveniente para melhorar a política e as administrações. E o respeito ao eleitorado.
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