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Maior corte no Orçamento atinge áreas prioritárias
Tarso diz que bloqueio poderá "imobilizar" a PF e afetar investimento no sistema prisional
Corte de R$ 25,4 bi é o maior já promovido pelo governo
Lula, que desde 2004 não enfrentava ameaça real de frustração das receitas
GUSTAVO PATU
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Detalhado ontem, dez dias
após seu anúncio pelo governo,
o bloqueio de gastos em razão
da crise econômica global atingiu áreas apresentadas como
prioritárias no Orçamento deste ano, caso de educação, segurança pública e defesa, e provocou o protesto do ministro da
Justiça, Tarso Genro.
Ao todo, os cortes -ou contingenciamento, no jargão da
tecnocracia- atingem de imediato R$ 25,4 bilhões em despesas do Executivo, na quase totalidade, do Legislativo e do Judiciário, mais do que os R$ 21,6
bilhões divulgados de início. A
diferença entre os dois valores,
segundo o Planejamento, será
liberada mais à frente, para setores ainda não escolhidos.
Trata-se do maior corte já
promovido pelo governo Lula,
que desde 2004 não enfrentava
a ameaça palpável de frustração das receitas esperadas. Embora pareça pouco diante de
um Orçamento com despesas
totais na casa dos R$ 600 bilhões, a medida afeta justamente as áreas mais sensíveis politicamente, como obras e programas recém-criados.
O exemplo mais evidente é o
Pronasci (Programa Nacional
de Segurança Pública com Cidadania), iniciativa mais vistosa da pasta de Tarso e uma potencial bandeira para as eleições de 2010, quando o ministro poderá concorrer ao governo gaúcho pelo PT. Em tom
veemente, o ministério, que sofreu corte de R$ 1,2 bilhão, ou
43,4% de suas despesas não
obrigatórias, previu o colapso
do programa.
"O corte prejudicará os principais programas do Ministério
da Justiça, poderá imobilizar a
Polícia Federal e a Polícia Rodoviária e tornará insustentável a manutenção do Pronasci",
afirma nota divulgada pela pasta. "Estão congelados, por enquanto, todos os convênios
com Estados e municípios relativos ao Pronasci. Estão também suspensos todos os investimentos em novas vagas no
sistema prisional."
Em Medellín, na Colômbia, o
ministro Paulo Bernardo (Planejamento) disse que o contingenciamento é praticamente
irreversível. Ele reconheceu
que vários ministros ficaram
"inconformados" com os cortes, como Tarso, e afirmou que
o governo poderá fazer, no máximo, remanejamento de recursos entre as pastas. "Ele
[Genro] sabe que nós temos de
manter o Orçamento equilibrado e não temos alternativa."
Obras
Gastos obrigatórios como
pessoal, aposentadorias, seguro-desemprego e benefícios assistenciais compõem mais de
80% dos compromissos da
União e não podem ser reduzidos. Por isso, os alvos preferenciais dos contingenciamentos
de início do ano são os investimentos e as despesas não permanentes, em especial as obras
incluídas por deputados e senadores no Orçamento.
Não por acaso, os ministérios
do Turismo e do Esporte, destinos frequentes das emendas
parlamentares, perderam mais
de 85% de suas despesas não
obrigatórias. A pasta das Cidades, outro alvo dos políticos, teve o maior corte em valores absolutos, R$ 3,5 bilhões, mas
manteve R$ 6,2 bilhões graças
ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O segundo maior corte, de
R$ 2,7 bilhões, atingiu a Defesa,
para a qual se prometia um dos
maiores aumentos de verba no
Orçamento deste ano, em especial para o reaparelhamento
das Forças Armadas. Procurada pela Folha, a assessoria do
ministério afirmou que ainda
não estão definidos os programas que serão afetados.
Na área social, o ministério
mais atingido foi o da Educação, que perdeu R$ 1,2 bilhão,
ou 10,6% das despesas não
obrigatórias. Segundo o secretário-executivo da pasta, José
Henrique Paim Fernandes,
R$ 866 milhões do bloqueio
correspondem a emendas parlamentares que já haviam sido
contingenciadas em janeiro. O
valor restante, disse, faz parte
de projetos compartilhados
com o Ministério do Planejamento e será liberado posteriormente. Trata-se de ações
para a construção de creches, a
compra de ônibus escolares e a
expansão das universidades federais, entre outros.
Colaboraram ANGELA PINHO ,
da Sucursal de Brasília,
e TONI SCIARRETTA , enviado a Medellín
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