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ESTRATÉGIA
Reunião sigilosa em SP reúne tucano e nata do empresariado, que manifesta insatisfação com rumos da campanha
Em jantar, PIB dá apoio a Serra, mas pede mudanças
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Alguns dos principais empresários do país se reuniram anteontem, em São Paulo, num jantar reservado em torno de José Serra,
candidato tucano à Presidência. O
encontro foi organizado por Luiz
Felipe D'Ávila, diretor-superintendente da Editora Abril, e por
sua mulher, Ana Diniz, do grupo
Pão de Açúcar. O empresário Abílio Diniz, pai de Ana e dono da
empresa, estava presente.
Entre os convidados estavam
Pedro Moreira Salles (Unibanco),
Márcio Cypriano (Bradesco),
Carlos Ermírio de Moraes (Votorantim), Milú Villela (Itaú), Ivan
Zurita (Nestlé), Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp, o publicitário Luiz Salles, o ex-presidente
do BNDES André Lara Resende e
o ex-ministro das Comunicações
Luiz Carlos Mendonça de Barros.
A reunião foi organizada para
que os empresários, preocupados
com a possibilidade de vitória de
Ciro Gomes (PPS) ou de Lula
(PT), dessem sugestões ao candidato. Foi uma reunião de eleitores
de Serra preocupados com o tom
da campanha e achando que as
coisas têm que mudar, segundo
definiu à Folha um dos presentes.
D'Ávila abriu o jantar (peito de
pato, camarão, vinho Borgonha,
champanhe e, de sobremesa, sorvete de nata) afirmando que, se a
eleição se decidisse apenas pela
trajetória e currículo dos candidatos, Serra seria aclamado. "Mas
não é só isso. É preciso vender a
imagem de um futuro melhor."
Realista
André Lara Resende foi ainda
mais realista. Fez duras críticas à
política econômica e responsabilizou o governo de Fernando
Henrique Cardoso pela atual crise. Conclamou Serra a explicitar
as mudanças que pretende fazer e
a mostrar que é "o mais hábil" para gerir a grave situação do país.
Mendonça de Barros seguiu na
mesma linha, afirmando que, se
Serra não explicitar as diferenças
em relação a FHC e ao ministro da
Fazenda, Pedro Malan, dificilmente ganhará as eleições.
Nas últimas semanas, o candidato fez o contrário: participou de
um almoço com Malan e de outro
com FHC, numa estratégia de
"colar" sua imagem à do governo.
"O que eu e o André falamos é
que as pessoas têm que acordar
pois a situação econômica é muito complicada. Alertei que o PIB
vai ser negativo no último trimestre. O Malan sempre defendeu
que o crescimento seria consequência da estabilidade, mas o
Brasil não cresceu nada nos últimos anos", diz Mendonça.
"Dissemos que o Serra tem que
deixar muito claro para a população que vai mudar a política econômica. Se não, vai ficar numa situação muito difícil. Ele tem que
oferecer a utopia de que nós vamos retomar o crescimento." Para o ex-ministro, "não só a era
FHC acabou" como "a lembrança
dos últimos anos é muito ruim".
Alma
Para Mendonça, "Serra não está
conseguindo passar a imagem de
que vai conseguir liderar esse processo. Em resumo, ele tem que
mostrar a alma".
Coube ao publicitário Nelson
Biondi, coordenador do marketing da campanha tucana, defender a estratégia adotada e tentar
convencer os presentes de que a
má situação de Serra nas pesquisas pode ser revertida.
"Vocês estão criticando a campanha antes de ela começar", afirmou. O publicitário explicou que
a campanha não tem hoje "o controle da comunicação", pois não
há horário eleitoral gratuito, e a
imagem que aparece do candidato é a que a mídia transmite.
"E as notícias, nos últimos meses, foram quase todas negativas",
disse. Como exemplo, ele citou o
caso de Roseana Sarney, em que
Serra apareceu como suspeito de
"armação" contra a pré-candidata, e as denúncias envolvendo Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-tesoureiro de campanhas tucanas.
Horário eleitoral
"Quando tivemos o controle da
comunicação, com o horário do
partido, em março, ele subiu. A
partir de agosto, vamos ter o controle novamente", afirmou Biondi. Ele afirmou ainda que 46% dos
eleitores ainda não definiram o
voto. E que a metade dos 54% que
declaram a preferência ainda pode mudar de candidato.
Ao falar, Serra mostrou, com
números, que a exposição de Ciro
foi quase duas vezes maior do que
a dele. Disse que Ciro teve direito
a 4 mil GRPs (unidade que mede a
exposição na mídia) em 23 dias,
enquanto ele teve cerca de 2 mil
GRPs em três meses.
Reafirmou ainda seu compromisso com mudanças e afirmou
que elas devem ficar claras nos
programas gratuitos de TV, em
agosto.
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