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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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TENSÃO SOCIAL

Fazenda ocupada, no Rio Grande do Norte, é de José Agripino (PFL)

MST alega motivo político e invade terra de senador

MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu na tarde de ontem uma fazenda no município de Mossoró (271 km de Natal), no Rio Grande do Norte, que pertence ao líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), e à sua família.
Segundo o movimento, a ação foi um protesto contra as posições do senador e de seu partido.
"O Agripino e o PFL falam muito mal da reforma agrária e defendem a reforma da Previdência", disse Damião de Souza Sabino, da direção estadual do MST.
"Além disso, ele já chegou a dizer que a fazenda dele era a mais produtiva do Estado. Vamos mostrar que ele não produz nada", completou.
Sabino afirmou que o próximo passo do MST será a invasão, também por motivos políticos, de uma fazenda do senador Fernando Bezerra (PTB-RN), em São José de Mipibu (41 km de Natal). "Ainda estamos discutindo quando será a ocupação."
A fazenda São João, de Agripino, fica a 10 km de Mossoró, perto da rodovia RN-13, e tem cerca de 4.000 hectares.
De acordo com o senador, a fazenda é administrada por dois funcionários contratados por sua família.
Agripino disse que já plantou melão e que, recentemente, adotou o plantio de sorgo e milho.
Ele, no entanto, não quis dizer se a fazenda é improdutiva, como acusa o MST. "Prefiro que o governo faça a avaliação."

Quarta invasão
O senador disse que essa é a quarta invasão à fazenda -que, depois da morte de seu pai, foi herdada por ele, sua mãe e seus dois irmãos.
Na primeira vez, uma gleba da propriedade foi desapropriada. Nas outras duas, houve reintegração de posse.
Agripino afirmou que sua família não criará obstáculos para uma solução pacífica do problema e que "o assunto está nas mãos do governo federal".
"Minha família não vai permitir, em hipótese nenhuma, que se reproduza um episódio como o de Eldorado do Carajás [no Pará, onde 19 sem-terra morreram num confronto com a PM, em 1996]. Se a solução do conflito for a desapropriação, não vamos criar dificuldades."
E acrescentou: "Se eu, líder do PFL, pedir a reintegração de posse, o MST pode entender como provocação política e reagir".
Agripino disse não acreditar em objetivos políticos na invasão. "O PFL nunca se colocou contra a reforma agrária. Não tem sentido uma afirmação como essa", disse.
Segundo o MST, 80 famílias participaram da invasão e outras 70 deverem chegar hoje à fazenda.
Para o diretor do MST no Rio Grande do Norte, o movimento não pode ter medo da aplicação da medida provisória antiinvasão -que proíbe por dois anos avaliações e vistorias em terras invadidas e exclui do programa de reforma agrária os assentados que participarem de invasões.
"Quando eles [o Incra, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] querem, eles desapropriam de qualquer jeito", disse Sabino.
Segundo ele, isso está acontecendo em outra fazenda de Mossoró, a Maísa, invadida em março pelo movimento. "O Incra já está fazendo a vistoria lá."


Colaborou a Sucursal de Brasília


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