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CASO CC-5
Luiz Francisco de Souza diz que senador deveria explicar "presente" do BC, e pefelista manda depoente "calar a boca"
Bornhausen e procurador discutem em CPI
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na sessão mais agitada deste
primeiro mês da CPI do Banestado, o senador Jorge Bornhausen
(PFL-SC), que não integra a comissão, mandou o procurador
Luiz Francisco de Souza "calar a
boca", chamou-o de "leviano" e
sugeriu-lhe que fizesse um exame
de "sanidade mental".
Os ataques foram disparados
logo depois que o procurador, durante seu depoimento, disse que
Bornhausen deveria ir à CPI para
explicar o "presente" que o banco
Araucária -"um tamborete" que
o procurador Luiz Francisco afirma pertencer à família do pefelista- teria recebido do governo de
Fernando Henrique Cardoso.
Leia-se por "presente" a autorização, concedida pelo BC (Banco
Central), em abril de 1996, para
que o Araucária e outros quatro
bancos (entre eles o Banestado, o
foco da CPI) pudessem receber
depósitos em espécie acima de R$
10 mil em suas contas CC-5. Esse
limite valia para todas as demais
instituições. Por meio de tais contas, a agência do Banestado em
Nova York recebeu cerca de US$
30 bilhões, entre 1996 e 1999. A
origem do dinheiro está sendo investigada pela PF (Polícia Federal), Ministério Público e Receita.
O procurador disse que irá processar por improbidade administrativa Gustavo Franco, então diretor da área internacional do BC.
Em junho, Luiz Francisco foi interpelado judicialmente por Bornhausen depois de afirmar que o
Araucária, "que lavou US$ 5 bilhões", pertence à família de Bornhausen. O senador nega. O banco é controlado pela família Dalcanale, da qual também faz parte
uma cunhada do senador.
Luiz Francisco atacou Bornhausen no momento em que foi questionado pelo senador Heráclito
Fortes (PFL-PI) acerca de sua resposta à interpelação. No documento, o procurador caracterizou
família como um conceito amplo,
no qual caberia a cunhada de Bornhausen e até padrinhos de batismo e casamento.
"Não sou tropa de choque. Isso
é um desrespeito. O senador
[Bornhausen] já cansou de mostrar documentos provando que
não tem nada a ver com isso",
afirmou Fortes. "Eu não recuei
[na resposta à interpelação]. E
também não preciso me retratar",
disse o procurador, aplaudido por
servidores presentes à sessão.
Após vaiar Bornhausen e Fortes, desrespeitando o regimento
do Senado, que proíbe manifestações, Oséas Gonçalves de Jesus,
39, e Elizângela Gonçalves, 28,
ambos funcionários da Justiça do
Trabalho em Brasília, foram retirados da sala. Nos corredores, insistiram nos ataques e acabaram
recebendo voz de prisão dos seguranças da Casa. Identificados, foram soltos logo em seguida.
Em seu depoimento, do qual
também participou o perito da PF
Renato Barbosa, que há três anos
trabalha no caso Banestado, Luiz
Francisco deu algumas sugestões
aos integrantes da CPI, começando por transferir, à Receita, o sigilo de documentos referentes à
movimentação das contas do Banestado para que o órgão possa
checar as remessas ilegais e cobrar
por elas cerca de R$ 20 bilhões em
multas e juros para o erário.
O perito Barbosa informou que,
ao cruzar os dados do Tribunal
Superior Eleitoral referentes a
candidatos a eleições desde 94, ele
encontrou, entre os 30 mil beneficiários do dinheiro que passou
pelo Banestado de Nova York, 154
coincidências de nomes. Confrontando os beneficiários com a
lista de 1,5 milhão de servidores
federais, houve outros 269 registros coincidentes. Mas eles podem ser homônimos, pois a Receita ainda não analisou os dados.
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