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ELIO GASPARI
Lula e FFHH podem matar o caixa dois
Se Lula do PT, FFHH do
PSDB e Jorge Bornhausen do
PFL querem falar sério, devem
determinar aos partidos nos
quais mandam que se organizem
para colocar suas contas na internet. Essa é a melhor maneira para
fechar a torneira de onde sai o
principal fluxo de dinheiro da
corrupção política. Em vez de
abusar da paciência da patuléia
com parolagens de falsa indignação, os três caciques comprometem-se com uma providência disciplinadora e moralizante. Se esses três partidos abrirem em tempo real as contas de seus candidatos, a eleição de 2006 acabará
com a relevância do caixa dois
nas campanhas.
O PT, o PSDB e o PFL apresentam-se como campeões da moralidade e atribuem-se o direito de
denunciar os adversários como
salteadores. Quando são apanhados com a mão na caixa, protegem-se alegando a generalidade
da malfeitoria.
Em vez de discutir o caixa dois
dos outros, Lula, FFHH e Bornhausen deveriam acabar com os
seus. Um bom começo seria obrigar cada candidato do PT, do
PSDB e do PFL a botar suas contas na internet, em tempo real.
Raul Jungmann, candidato a prefeito do Recife, colocou suas contas na internet. Arrecadou e gastou R$ 350 mil. Teve 30 mil votos
e anda de cabeça erguida. Em
abril do ano passado, o tesoureiro
Delúbio Soares derrubou uma
proposta nesse sentido durante
uma reunião do Diretório Nacional do PT. Deu um argumento típico do comissariado em que se
deslumbrou: "Transparência assim é burrice". Ele achava que era
esperto.
No atual sistema, para cada
real declarado à Justiça Eleitoral,
circula outro no caixa dois. Chamá-lo de dinheiro não contabili-
zado é ofender a inteligência doscontribuintes. É dinheiro triplamente sujo. Sai sujo da empresa
que o dá, entra sujo no cofre do
candidato e, sujo, vai para o bolso
de quem prestou algum serviço à
campanha. O dinheiro sujo estabelece uma relação de cumplicidade entre o doador e o candidato. Um dos maiores empreiteiros
do país gostava de entregar a mala pessoalmente, em seu escritório, olhando no olho dos candidatos.
Os partidos argumentam que as
doações não podem ir para a internet porque os empresários temem o assédio dos outros candidatos. Conversa fiada.
As contas podem ficar na rede,
em tempo real , sem que a identidade do doador seja conhecida
antes da eleição. Basta divulgar o
valor do cheque e o número do
boleto da contribuição eleitoral.
No limite, as despesas também
podem ficar sob o sigilo parcial.
Até o dia da eleição divulgam-se
a natureza do serviço prestado, a
cifra, o número da nota fiscal e a
data de sua emissão. O nome da
empresa fica para depois.
A abertura das contas dos partidos e de seus candidatos depende
apenas deles. Como a memória
da corrupção eleitoral é curta,
muita gente já esqueceu que em
2000 apareceram as planilhas
com o caixa dois usado pelo PSDB
durante a campanha de 1994.
Coisa de pelo menos R$ 10 milhões, com mala, banqueiro e tudo. (O ministro Luiz Fernando
Furlan sabe um pedaço dessa história. O nome da Sadia apareceu
ao lado de uma cifra de R$ 300
mil.)
À época o Planalto admitiu ter
cometido "erros formais" e impediu a formação de uma CPI. Des-
tacou-se nessa linha de combate o
senador Arthur Virgílio. Vale a
pena ouvi-lo: "Não vamos permitir que ponham Fernando Henrique como réu no Tribunal Superior Eleitoral. Vamos comparar
quanto Lula gastou. (...) Vamos
atacar também".
Virgílio intimidou o PT, que hoje tenta intimidar o PSDB. Em comum, há apenas a bola de ferro
do caixa dois amarrada aos pés
de pessoas como Lula e FFHH,
gente em quem a patuléia prefere
confiar.
Talvez eles acreditem, como Delúbio Soares, que botar as contas
dos partidos e dos candidatos na
internet seja burrice. Tudo bem,
desde que não se incomodem de
carregar o caixa dois em suas biografias. Os doutores querem que o
povo confie neles, mas não confiam no povo a ponto de lhe mostrar os livros-caixa.
Pior
O presidente do Supremo
Tribunal Federal, ministro
Nelson Jobim, anda falando
mal da qualidade da agenda
de Lula. De fato, é duro ter
um governante que cumpre
programa de dirigente sindical. Pior que isso, só tudo
isso e mais um presidente do
Supremo falando mal do
presidente da República.
PPP do Delúbio
Em novembro do ano passado realizou-se na sala da
secretaria executiva do Ministério do Planejamento
uma esquisitíssima reunião
da qual participaram o presidente da Fiesp, Paulo Skaff
(que saiu logo), o doutor
Demian Fiocca, corifeu da
filosofia das PPPs e representantes das empreiteiras
Camargo Correia, Andrade
Gutierrez, OAS e Alusa. Discutiam o projeto das Parcerias Público Privadas. Segundo o senador Heráclito
Fortes (PFL-PI), a Alusa é
conhecida no Nordeste como "a empresa de Delúbio".
A empresa nega esse parentesco.
Urucubaca
Um bruxo de boa memória
descobriu uma nova urucubaca na política brasileira: é
a maldição que cai sobre o
patrono de festas de posse
de presidente. A pedido do
poderoso tucano Sérgio
Motta, o banqueiro Angelo
Calmon de Sá, dono do Banco Econômico, cacifou despesas da festa de posse de
FH em 1995. Nada a ver com
a recepção do Itamaraty.
Dois anos depois Calmon de
Sá tornou-se um sem-banco. A festa popular de Lula
em 2002 foi financiada pelo
dinheiro de um empréstimo
conseguido por Marcos Valério. Coincidência: as duas
festas custaram mais ou menos a mesma coisa. Em torno de R$ 1,5 milhão.
Tem mais gente
Feitas as contas resulta que o
comissariado montou um
esquema de jabaculês parlamentares, traficâncias bancárias e corretagens de interesses falidos tendo na outra
ponta um só operador, Marcos Valério. Mais: pela primeira vez desde que D. Maria mandou enforcar o alferes Joaquim José da Silva
Xavier, um negócio desse tamanho fica restrito a Minas
Gerais, sem nenhum paulista no lance.
Triste silêncio
Tem muita gente boa na
academia petista mordendo
o pó por ter negado solidariedade ao professor Francisco de Oliveira em 2003,
quando Lula censurou-lhe
um artigo num livro intitulado "Reforma Política". No
texto, ele atacava a autonomia dada pelo companheiro
ao Banco Central. Vale o registro de que nessa época o
professor Aziz Ab'Saber, veterano petista, procurou o
colega para dizer-lhe que
não estava só.
Recordar é viver
Como tem muita gente falando em aguar as CPIs para
preservar uma coisa que
chamam de governabilidade, interessa repetir o que
disse o professor Luizinho,
líder do governo, depois de
uma blitz da Polícia Federal
contra funcionários do Tribunal de Contas da União,
em dezembro do ano passado: "Há segmentos que estão agindo de forma dirigida
e arrivista. Algumas ações
estão ocorrendo à revelia do
comando da Polícia Federal.
Essas ações põem em risco
as instituições da República
e a governabilidade". Agora
o professor está atrás de
uma explicação para o fato
de um assessor seu ter sacado R$ 20 mil na agencia valeriana do Banco Rural, em
Brasília.
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