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Juiz e procurador fazem críticas a projeto de lei
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O juiz federal Sérgio Fernando
Moro disse acreditar que, se aprovado, o projeto de lei de José Mentor (PT-SP) irá estimular a evasão
de divisas -e não estancar o processo, como acredita o deputado.
"A anistia não eliminará as causas
da evasão fraudulenta de divisas
ou do mercado de câmbio negro.
Apenas estimulará sua prática",
afirma Moro.
Segundo Moro, os responsáveis
pelos delitos "tenderão a confiar
em uma nova e futura anistia" e
continuarão a prática criminosa.
Moro critica ainda os benefícios
econômicos e sociais do projeto,
principal argumentação apresentada por Mentor para a anistia. "O
duvidoso efeito econômico decorrente da internação de recursos será esvaziado pela continuidade da mesma prática de evasão
fraudulenta e da persistência do
mercado de câmbio negro", disse
Sérgio Moro.
O procurador da República Celso Antônio Três aponta outra falha no projeto. "Como vai ser a
prova de que o dinheiro repatriado ou declarado não é originado
em crimes? O ônus da prova, por
certo, não será do declarante. E
não tem como, pelo nosso Código
Penal, pensar em anistia diferenciada para um ou outro", afirma o
procurador.
"O projeto não prevê nenhum
procedimento especial para verificar a veracidade da declaração
de que os recursos não são provenientes de crime, ficando a dúvida
de como isso será feito. As autoridades públicas poderão investigar
o fato após o repatriamento? Ainda que haja essa possibilidade, o
titular dos recursos seria obrigado
a demonstrar a origem lícita dos
recursos ou o ônus seria das autoridades públicas em demonstrar a
ilicitude?", questiona o juiz federal Sérgio Moro.
Crime de rico
Já o procurador da República
Três critica o excesso de legislação
sobre sonegação fiscal. "Todo ano
tem deputado propondo modificações na legislação sobre sonegação fiscal, crime de rico. Nunca vi
ninguém propor mudanças no
crime de furto, por exemplo, que
está com a mesma redação no Código Penal desde 1940. É um típico projeto [o de Mentor] de lobistas que defendem interesses escusos. Eu questiono os interesses do
deputado nesse projeto", afirma
Três.
José Mentor argumenta que as
investigações sobre a origem do
dinheiro que é repatriado irão
continuar como hoje são feitas.
"O que vai mudar é o alcance social do repatriamento de bilhões
de reais, que irá gerar emprego
para os mais pobres", afirma o deputado petista.
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