São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006/MÁQUINA PÚBLICA

Lula faz campanha com "agenda híbrida"

Presidente irá vistoriar plataformas da Petrobras em Angra dos Reis, um dos temas da campanha do candidato em 2002

Estratégia inclui a liberação de verbas para Estados que Lula visita, como ocorreu na semana passada em RS e SC


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja adotar, nos dois meses que faltam para o primeiro turno, uma agenda de viagens e eventos que, apesar de teoricamente "institucional", será talhada para funcionar como linha auxiliar da sua campanha à reeleição.
A "agenda híbrida" é uma artimanha do PT para, de maneira camuflada, dispor da máquina administrativa da Presidência da República na campanha. A estratégia já vem incluindo a liberação de verbas federais para Estados que Lula visita, como ocorreu na semana passada, com o repasse de R$ 600 milhões aos Estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Anteontem, Lula chegou a reclamar das críticas à liberação de verbas: "Veja a ironia e a hipocrisia. Se não fazemos isso, nossos adversários viriam aqui para o Estado e diriam: "O governo não fez, não ajudou"." Num tom irônico, Lula comentou: "Cometemos o pecado de dar, de ajudar". "Querem saber de uma coisa? Vou continuar fazendo o que tem de ser feito", disse o presidente, fazendo uma ressalva: "Se não estivermos infringindo a lei".
A agenda "híbrida", que começou a tomar corpo na semana passada, mistura o Lula presidente e o Lula que disputa a reeleição -por razões legais, este aspecto fica implícito.
Mais eventos estão programados. Na próxima quinta-feira, Lula viaja para Angra dos Reis (RJ), para vistoriar a construção das plataformas P-51 e P-52, da Petrobras. Elas não foram escolhidas por acaso: a construção por empresas estrangeiras foi denunciada com grande estardalhaço pelo então candidato em 2002. Agora, estão sendo feitas pela indústria naval brasileira.

Petrobras
Segundo um auxiliar de Lula, o presidente dirá que provou-se a tese dele de que era possível a construção com índice de nacionalização elevado. Na viagem, o presidente vai fazer a vistoria e deve conversar com a imprensa, quebrando o padrão de seus eventos institucionais.
A promessa do petista de separar nitidamente suas atividades de chefe de Estado das de candidato será pouco a pouco minada, à medida que a campanha se intensifica.
Na sexta-feira, Lula visitará em Brasília a central que controla todo a transmissão de energia do país. Dessa vez, o recado será de que o investimento do governo em linhas de transmissão evitou a ocorrência de um novo apagão. O alvo da estocada é José Jorge (PFL), vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), que era o ministro das Minas e Energia na crise energética de 2001.
O presidente deve citar o exemplo do Sul, onde está atrás de Alckmin nas pesquisas, que teve uma forte seca recentemente, mas não enfrentou desabastecimento de energia.
Ainda para agosto, estão previstas idas à sede do Banco do Brasil -onde Lula destacará o desempenho "recorde" da instituição e seu papel na concessão de crédito- e da Caixa Econômica Federal. Todas serão gravadas para uso na TV.
No caso da Caixa, a visita terá caráter de desagravo, após a instituição ter sido envolvida na quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos, no início do ano.
Também estão previstas vistorias do presidente em obras da BR-101 no Sul e do Nordeste, além de estradas no interior de Minas Gerais. "É claro que o presidente nestes casos tem o objetivo de mostrar o governo dele, seu maior cabo eleitoral", diz o auxiliar de Lula.
O planejamento de Lula prevê uma viagem por semana pelo Brasil como presidente. Apesar do caráter eleitoral implícito dos eventos, o petista tomará cuidado para não fazer declaradamente discursos de candidato. Estes ficam para os finais de semana ou horários fora do expediente de trabalho.
Segundo a Folha apurou, o presidente deu três diretrizes a sua equipe: não descuidar da gestão do dia-a-dia do governo, ser "extremamente cuidadoso" com situações que possam configurar uso da máquina e não discutir a configuração de um novo mandato antes da eleição.


Texto Anterior: Outro lado: Ministro critica classificação dos investimentos
Próximo Texto: Propina média era de R$ 70 mil, diz Vedoin
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.