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ELEIÇÕES 2006/MÁQUINA PÚBLICA
Lula faz campanha com "agenda híbrida"
Presidente irá vistoriar plataformas da Petrobras em Angra dos Reis, um dos temas da campanha do candidato em 2002
Estratégia inclui a liberação de verbas para Estados que Lula visita, como ocorreu na semana passada em RS e SC
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja adotar, nos
dois meses que faltam para o
primeiro turno, uma agenda de
viagens e eventos que, apesar
de teoricamente "institucional", será talhada para funcionar como linha auxiliar da sua
campanha à reeleição.
A "agenda híbrida" é uma artimanha do PT para, de maneira camuflada, dispor da máquina administrativa da Presidência da República na campanha.
A estratégia já vem incluindo a
liberação de verbas federais para Estados que Lula visita, como ocorreu na semana passada, com o repasse de R$ 600
milhões aos Estados de Rio
Grande do Sul e Santa Catarina.
Anteontem, Lula chegou a
reclamar das críticas à liberação de verbas: "Veja a ironia e a
hipocrisia. Se não fazemos isso,
nossos adversários viriam aqui
para o Estado e diriam: "O governo não fez, não ajudou"."
Num tom irônico, Lula comentou: "Cometemos o pecado de
dar, de ajudar". "Querem saber
de uma coisa? Vou continuar
fazendo o que tem de ser feito",
disse o presidente, fazendo
uma ressalva: "Se não estivermos infringindo a lei".
A agenda "híbrida", que começou a tomar corpo na semana passada, mistura o Lula presidente e o Lula que disputa a
reeleição -por razões legais,
este aspecto fica implícito.
Mais eventos estão programados. Na próxima quinta-feira, Lula viaja para Angra dos
Reis (RJ), para vistoriar a construção das plataformas P-51 e
P-52, da Petrobras. Elas não foram escolhidas por acaso: a
construção por empresas estrangeiras foi denunciada com
grande estardalhaço pelo então
candidato em 2002. Agora, estão sendo feitas pela indústria
naval brasileira.
Petrobras
Segundo um auxiliar de Lula,
o presidente dirá que provou-se a tese dele de que era possível a construção com índice de
nacionalização elevado. Na viagem, o presidente vai fazer a
vistoria e deve conversar com a
imprensa, quebrando o padrão
de seus eventos institucionais.
A promessa do petista de separar nitidamente suas atividades de chefe de Estado das de
candidato será pouco a pouco
minada, à medida que a campanha se intensifica.
Na sexta-feira, Lula visitará
em Brasília a central que controla todo a transmissão de
energia do país. Dessa vez, o recado será de que o investimento do governo em linhas de
transmissão evitou a ocorrência de um novo apagão. O alvo
da estocada é José Jorge (PFL),
vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), que era o ministro
das Minas e Energia na crise
energética de 2001.
O presidente deve citar o
exemplo do Sul, onde está atrás
de Alckmin nas pesquisas, que
teve uma forte seca recentemente, mas não enfrentou desabastecimento de energia.
Ainda para agosto, estão previstas idas à sede do Banco do
Brasil -onde Lula destacará o
desempenho "recorde" da instituição e seu papel na concessão de crédito- e da Caixa Econômica Federal. Todas serão
gravadas para uso na TV.
No caso da Caixa, a visita terá
caráter de desagravo, após a
instituição ter sido envolvida
na quebra do sigilo bancário do
caseiro Francenildo dos Santos, no início do ano.
Também estão previstas vistorias do presidente em obras
da BR-101 no Sul e do Nordeste,
além de estradas no interior de
Minas Gerais. "É claro que o
presidente nestes casos tem o
objetivo de mostrar o governo
dele, seu maior cabo eleitoral",
diz o auxiliar de Lula.
O planejamento de Lula prevê uma viagem por semana pelo Brasil como presidente. Apesar do caráter eleitoral implícito dos eventos, o petista tomará
cuidado para não fazer declaradamente discursos de candidato. Estes ficam para os finais de
semana ou horários fora do expediente de trabalho.
Segundo a Folha apurou, o
presidente deu três diretrizes a
sua equipe: não descuidar da
gestão do dia-a-dia do governo,
ser "extremamente cuidadoso"
com situações que possam configurar uso da máquina e não
discutir a configuração de um
novo mandato antes da eleição.
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