São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2008

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Comissão de ética era mais "flexível" e "inteligente", diz Gil ao sair do cargo

Presidente do órgão vinculado à Presidência, Sepúlveda Pertence não opinou sobre a "dupla função" do músico

No ano passado, a comissão considerou "impróprio" o vínculo entre Gil e o banco Itaú, que usou uma versão de música dele em comercial


ENVIADA ESPECIAL AO RIO

As críticas à atuação simultânea de Gilberto Gil como ministro da Cultura e artista o acompanharam durante todo o governo Lula. Ontem, horas antes de anunciar seu desligamento do ministério, Gil criticou a Comissão de Ética Pública, vinculada à Presidência.
O ministro disse que apenas no início do primeiro mandato pôde "misturar os compromissos privados, como artista, com os oficiais [como ministro], inclusive sem ônus para o Estado, nas viagens como artista, já pagas pela própria atividade artística", porque "a direção da comissão de ética era mais flexível, mais tolerante, diria talvez até mais inteligente mesmo no período anterior". As "novas gestões do comitê de ética", como o ministro as classificou, o proibiram de acumular as duas atividades, por julgar que isso "era incompatível".
O presidente da Comissão de Ética Pública, Sepúlveda Pertence, não quis opinar sobre a "dupla função" de Gil e fez apenas breve comentário sobre a declaração do ministro. "Quanto às apreciações dele sobre inteligências alheias, o juízo é dele", disse Sepúlveda, que assumiu o cargo em fevereiro deste ano. Segundo Sepúlveda, não há nenhum caso referente a Gil em análise da Comissão de Ética no momento.
Ao longo de sua permanência no governo, Gil foi alvo de diversas consultas na Comissão de Ética. Em outubro de 2007, por exemplo, o colegiado considerou "impróprio" o estabelecimento de vínculos comerciais entre Gil e o banco Itaú. O ministro autorizou o banco a utilizar uma versão modificada da música "Pela Internet", de sua autoria, em uma propaganda.
Não houve punição a ele.

Olhos marejados
Citando a "reserva" com que sua indicação ao ministério foi recebida no Brasil, Gil disse: "Um colega meu chegou a dizer que era um escárnio ter um ministro da Cultura como eu no Brasil. Não é assim, não foi assim, não tem sido assim, e eu espero que tenha sido muito importante para o Brasil e para a cultura no mundo todo, para as relações internacionais do Brasil, que um artista tenha se desempenhado com relativa facilidade [no ministério]". Nessa hora, os olhos de Gil marejaram, e ele suspendeu a fala, para conter o choro.
O ministro teve encontro com a imprensa no Rio, pela manhã, depois de abrir seminário promovido pelo Ministério da Cultura para discutir provável reforma na legislação de direito autoral. Rouco, o ministro elevou a voz para defender a revisão da legislação brasileira sobre propriedade intelectual.
Na sua avaliação, "ou a sociedade brasileira discute profundamente a questão da propriedade intelectual ou daqui a dez anos estamos fora do bonde da história. Se a gente perder o bonde nessa questão, a gente estará perdendo o bonde da história em todos os campos.
Está aí a OMC [Organização Mundial do Comércio], que não me deixa mentir. Está lá tudo travado, por causa dessas questões".
Gil tem shows no sábado, em Itaipava (RJ), e no fim de semana seguinte, em Curitiba (8 de agosto) e Florianópolis (9 de agosto). São apresentações prévias à turnê "Banda Larga".
(SILVANA ARANTES)


Colaborou LETÍCIA SANDER , da Sucursal de Brasília


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