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JANIO DE FREITAS
Servicinho no Senado
Lula diz ao Senado que encerre o seu impasse; é tarde, a desordem senatorial invalidou o cronograma eleitoral
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AS AFLIÇÕES ELEITOREIRAS de
Lula, que o têm levado à aceleração de afirmações tolas e
de pressas frustradas, são frutos
benfazejos da estagnação do Senado em suas próprias aflições. Mesmo que o impasse no Senado não o
tornasse inútil por bastante tempo
mais, já assegurou a falta de tempo
para duas aprovações problemáticas e perigosas, ambas vistas também como forças eleitorais.
Uma, para a propaganda das
obras de "desenvolvimentismo como o de Juscelino": nova lei de licitação, com o facilitário desejado pelos empreiteiros e conveniente ao
rápido início de várias obras. Outra,
a estrutura empresarial e administrativa para a exploração do pré-sal,
de cuja aprovação o governo espera
negócios que engordem os cofres
públicos, para impulsionar em 2010
ações eleitoreiras a granel.
A desordem senatorial invalidou
o cronograma eleitoral da Presidência, desperdiçando o primeiro semestre planejado como fase preliminar de tramitação e negociações
parlamentares dos projetos, e nem
ao menos tornando provável sua
execução no segundo semestre.
Ainda mais porque semestre encurtado por férias no seu início e mais
férias no final. Para os propósitos
eleitoreiros, as aprovações no ano
que vem, caso ocorram, serão tardias, dadas as providências até chegarem à prática.
Em discurso ficcional para grandes empreiteiros, anteontem Lula
atribuiu ao seu governo a redenção
moral desses empresários notabilizados pela fraudulência das concorrências de que participam. Não foi
lembrado de que agora mesmo a
empreiteira Norberto Odebrecht,
por exemplo, está nas páginas dos
jornais por vários feitos, relacionados a irregularidades na construção
da ferrovia Norte-Sul, a uma grande
obra da Petrobras no Estado do Rio,
à investigação de tráfico de influência de Fernando Sarney.
O grupo da empreiteira Andrade
Gutierrez compete de diferentes
modos com o noticiário da Odebrecht, inclusive por sua extensão
telefônica em que o dinheiro é do
caridoso BNDES. E não citar a presença da empreiteira Queiroz Galvão seria injustiça, dada sua tradição.
Lula passou, na ocasião tão propícia, ao tema de "qual lei de licitação
é importante para o país". Não tinha
o sentido de indagação, porque todos ali já sabiam "qual lei de licitação" o orador e os ouvintes acham
importante para o pequeno país que
eles compõem, com princípios e
propósitos marginais em relação ao
país geral. Mas Lula trouxe novo dado: "Até uma obra começar a acontecer leva três anos". Desde a decisão de projetá-la, uma grande obra
pode levar até bem mais.
O que tem acontecido com as
obras do PAC, fonte da pretensa estatística de Lula, tem outra causa:
são impropriedades (ambientais,
por exemplo) e as irregularidades e
ilegalidades financeiras que o Tribunal de Contas da União já verificou
na maioria nelas. Casos também das
empreiteiras citadas lá atrás.
Ansioso ou irritado, Lula diz aos
senadores que encerrem logo o seu
impasse. É tarde. A desordem no Senado já prestou um servicinho.
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