São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2005

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Em Minas, presidente reclama de acusações sem provas

CATIA SEABRA
ENVIADA ESPECIAL A UBERLÂNDIA (MG)

Apoiado por uma platéia que vaiou por quatro minutos o governador de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu ontem a casos de escândalos no país -como o da Escola Base, em São Paulo, e do ex-ministro Alceni Guerra- para cobrar seriedade de seus algozes. Dizendo que pede a Deus para que os culpados sejam punidos, Lula pediu que analisem bem as notícias e que se queixem dos que lançarem dúvidas sobre sua honestidade.
"Quando as pesquisas começaram a dizer que o Lula é imbatível, resolveram me atacar. Nunca deveriam ter me atacado porque quem me conhece sabe como sou. Começaram a mexer na questão ética para ver se colocavam desconfiança na sociedade", lamentou, num recado aos tucanos.
Comparando-se novamente ao ex-presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961) -"um mineiro que possivelmente tenha sido mais acusado do que eu"-, Lula relembrou ainda o desfecho dos governos de Jânio Quadros, João Goulart e Getúlio Vargas para dizer que espera que façam Justiça a ele no país. "Digo isso [ex-presidentes] porque neste momento a paciência é a única coisa que permite que tenhamos esperança de ver este país fazer Justiça."
E acrescentou: "Obviamente que os adversários políticos podem fazer as ilações que quiserem. Os inimigos podem fazer o que quiserem. O Aécio sabe. O prefeito [Odelmo Leão] sabe, e eu sei que quem está no posto de comando não pode falar o que quer. Temos que contar até dez para não causarmos nenhuma injustiça ou transtorno", disse ele.
Reconhecendo que "a crise é extremamente grave", Lula se disse cansado de ver no Brasil acusações sem prova. "Tem muita gente séria. Mas há pessoas que não agem com seriedade. Tem alguns que acusam antes de ter prova." E repetiu esperar que peçam desculpas aos inocentes no país.
"Precisamos criar também um instrumento de pedido de desculpas daqueles que levianamente acusam os outros e, depois, não têm coragem de dizer que acusaram de forma leviana. Pessoas que são crucificadas. O Aécio conviveu comigo na Constituinte com um deputado que foi crucificado pela questão das bicicletas, o Alceni Guerra. Demorou anos para aquele cidadão ser inocentado", afirmou o presidente, referindo-se equivocadamente ao ex-ministro como deputado.
"Tivemos em São Paulo a Escola Base, em que o dono foi execrado, foram destruídas a escola e a família. Depois, não tinha absolutamente nada contra ela. Mas a família já estava destruída."
E concluiu com um apelo: "Toda vez que vocês ouvirem uma notícia muito escandalosa, analisem, leiam duas vezes. Vejam se tem verdade ali".

Confortável
Lula se sentiu confortável para o desabafo, o primeiro público sobre a crise, diante de uma platéia que, aos gritos, pregava sua reeleição e vaiava os adversários petistas. Com bandeiras da CUT (Central Única dos Trabalhadores), os militantes nem sequer permitiram que Aécio fosse ouvido.
Lula teve que intervir. Antes de discursar oficialmente, afirmou que se sentia desconfortável quando, numa inauguração oficial, os governadores, parceiros nas obras, não conseguiam falar.
"É muito desagradável o presidente da República estar numa inauguração... Se eu estivesse numa campanha política, aí explicaria. Se eu estivesse torcendo para o Cruzeiro, e o Aécio, para o Atlético, ou vice-versa, valeria. Mas estamos inaugurando obras."
Depois do evento, o governador reclamou. "O presidente Lula deve mesmo tomar cuidado com os aliados. Ao tentar protegê-lo (...), essa militância contratada gera um artificialismo tão grande no ambiente que o mais constrangido é ele próprio [Lula]", afirmou.
Programada para a inauguração da ampliação do aeroporto de Uberlândia -numa obra que custou R$ 18 milhões- a viagem do presidente Lula provocou transtorno aos passageiros.
Como o ato aconteceu no próprio aeroporto, o acesso à praça de alimentação foi fechado e o embarque e o desembarque funcionaram no mesmo lugar.


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