São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT X PT

Ministro diz que censura petista à economia levaria candidato do partido à Presidência à oposição

Para Bernardo, crítica de Berzoini à economia é erro

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse ontem que o secretário-geral do PT e candidato do Campo Majoritário nas próximas eleições do partido, Ricardo Berzoini, não tem condições de criticar a política econômica porque o partido hoje tem "baixa credibilidade" e a política econômica está em um momento de "alta credibilidade".
O ministro Paulo Bernardo se referia às críticas que Berzoini tem feito ao modelo de política econômica do governo federal, baseado em uma política fiscal restritiva e alta taxa de juros.
"Eu entendo que as declarações sobre a política econômica têm sido feitas no contexto da eleição interna do PT. Mas, como membro do partido, me sinto autorizado a fazer comentários. A política econômica do governo tem alta credibilidade, e o PT está vivendo em um momento de baixa credibilidade, portanto, discordo de seus comentários e acho um erro ele [Berzoini] criticar a política econômica", disse.
Na avaliação de Bernardo, se os membros do PT criticarem as políticas do governo, o partido terá um candidato de oposição ao governo nas próximas eleições.
"Fiquei surpreso com a idéia de que temos de mudar a política econômica. Isso transformaria o nosso candidato, seja ele o presidente Lula ou outro, em um candidato de oposição ao governo. Não vejo como podemos nos apresentar à sociedade em uma situação como essa", disse.
"Mesmo depois de cem dias de crise política, a política econômica do governo continua funcionando normalmente", afirmou o ministro durante um seminário para o lançamento do livro "Brasil, o Estado de uma Nação", editado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Longo caminho
Um dia após ter anunciado a retirada de sua candidatura à presidência petista, Tarso Genro disse que, ao manter vínculos com a gestão anterior da sigla, a chapa do Campo Majoritário, integrada por José Dirceu, deixa o PT num caminho mais "demorado e difícil" na relação com a sociedade.
"A maioria que ainda tem o controle do partido [Campo Majoritário] escolheu uma forma de transição que é uma forma negociada com o pacto dirigente anterior", disse ele. Segundo Tarso, ele nunca disse que "esse caminho escolhido era um caminho de liquidação do partido".
"É um caminho mais demorado, mais longo, mais difícil e mais complicado na relação do partido com a sociedade", afirmou, no Planalto, após encontro com o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) e os presidentes de partido Roberto Amaral (PSB) e Renato Rabelo (PC do B).
Tarso abandonou a disputa por conta da permanência de Dirceu na chapa do Campo. Ontem, Tarso negou que tenha travado uma queda-de-braço com Dirceu, mas admitiu divergências com ele.
"Eu não estava fazendo nenhuma queda-de-braço com o ministro José Dirceu. É obvio que o costume da imprensa é trabalhar com perdas e ganhos. (...) E eu acho que nós [Tarso e Dirceu] estamos prestando um grande serviço ao PT ao fazer esse debate e deixar de maneira transparente à nossa militância as duas visões de partido, as duas visões de direção, as duas visões de transição e as duas visões sobre responsabilidades políticas que dirigentes têm sobre essa difícil situação política e moral que o nosso partido está atravessando", disse.
A eleição para o comando petista está marcada para 18 de setembro. Até lá, depois da saída de Tarso da disputa, cresce a possibilidade de Dirceu desistir de integrar a chapa. Caso contrário, sua permanência poderá ser decidida no voto. Na entrevista de ontem, Tarso ironizou os que integram o Campo Majoritário e acreditam numa desestabilização da chapa após sua desistência.
"Essa parte do Campo deveria ter pensado antes nisso. Porque a responsabilidade da montagem da chapa é deles, e eu me reportei a essa montagem que foi feita."
Ontem, ao lado dos presidentes do PSB e do PC do B, Tarso entregou a Wagner e à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, um documento assinado pelos três partidos no qual afirmam ser "necessário estabelecer", no Congresso, "uma relação previsível e ordenada entre os partidos de esquerda da base do governo". Tarso, Amaral e Rabelo, que se reuniram com Lula na semana passada, querem ser ouvidos na definição de prioridades do Orçamento do governo federal.


Colaborou Eduardo Scolese, da Sucursal de Brasília

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