São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RELIGIÃO
Evento reúne 184 mil evangélicos no Maracanã
Líder da Universal prega aborto legal

MÁRIO MAGALHÃES
LETÍCIA KFURI
da Sucursal do Rio


A defesa da legalização e da legitimidade do aborto é a mais nova campanha do bispo Edir Macedo, líder da Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus). O assunto é destaque da edição da ""Folha Universal", semanário da igreja neopentecostal, lançada na vigília encerrada na madrugada de ontem no Maracanã (Rio de Janeiro).
Com 184.276 presentes no estádio do Maracanã e 20 mil no ginásio do Maracanãzinho, segundo a Suderj (Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro), foi o maior evento religioso da história do complexo esportivo carioca (leia texto abaixo).
Durante todo o culto, bispos conclamaram o público a comprar o jornal ""para conhecer a posição do bispo Macedo sobre o aborto". Em entrevista no jornal, Macedo diz que não condenaria o aborto, se ""uma família está passando fome, a mulher fica grávida, mas não tem peito para dar de mamar à criança, devido à sua desnutrição".
""Eu não vou condenar essa mulher se ela resolver abortar. Porque vão sofrer os pais e a criança. Neste caso, ao meu ver, o aborto não seria pecado. Os que são contra o aborto não sabem o que é passar fome", afirma o bispo.
O bispo Macedo, em outubro de 1997, já havia defendido o aborto, mas apenas em casos de gravidez indesejada. Na época, durante pregação em Belo Horizonte, ele afirmou ser "radicalmente a favor da lei" e contra o "aborto pelo aborto".
Macedo não falou em aborto durante sua pregação na vigília do Maracanã, que foi dedicada a temas religiosos. Apesar de, na "Folha Universal", o bispo dizer estar falando ""em nome pessoal", os apelos para a leitura da sua entrevista indicam que a cúpula da Universal adota a mesma posição.
A defesa Edir Macedo pela interrupção voluntária da gravidez se opõe à absoluta restrição defendida pela Igreja Católica.
O arcebispo do Rio, d. Eugênio Sales, criticou o prefeito Luiz Paulo Conde (PFL) por sancionar na última terça-feira lei que obriga os hospitais do município a informar as vítimas de estupro sobre a possibilidade de aborto legal.
Macedo revelou que a sua mãe abortou: ""Não de propósito, e sim por questões sociais. Nem por isso deixou de dar à luz a mim. Deus me salvou por misericórdia e a salvou também. Agora, abortar ou não vai depender da consciência de cada um".
A opinião do líder da igreja evangélica brasileira com maior poder de mídia -controla a TV Record- é similar à de organizações feministas e de profissionais da área de saúde.
""Sou a favor de que existam leis específicas para o aborto, dependendo das circunstâncias. Isso evitaria que mulheres procurassem as clínicas de fundo de quintal e acabassem morrendo, como tem acontecido".


Texto Anterior: Previdência: Prefeito do PT muda projeto e isenta inativo
Próximo Texto: Público no estádio supera o de católicos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.