São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2000

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Sem-terra é espancado em MS

CELSO BEJARANO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O sem-terra Moisés Neri, 34, líder de um acampamento ligado à CUT em Mato Grosso do Sul, foi espancado ontem por volta das 11h por seguranças da fazenda Três M, localizada em Nova Alvorada do Sul (100 km ao sul de Campo Grande).
Neri levou coronhadas na cabeça e sofreu ferimentos graves no olho esquerdo. Ontem à tarde, ele era atendido no hospital de Nova Alvorada do Sul. Neri e mais 50 famílias ocuparam no domingo a fazenda Três M. Os invasores disseram que a área possui 18 mil hectares, metade dos quais seriam áreas devolutas (sem escritura). Eles reivindicam essa parte.
O dono da propriedade, Serafim Meneguel, não foi localizado pela Agência Folha para falar sobre o conflito.
Segundo a sem-terra Onise Rocha, Neri foi agredido perto da porteira da fazenda. Ele e mais quatro sem-terra estariam aguardando a presença da polícia no local. "Assim que ocupamos, ninguém mais entrava ou saía do acampamento. Vi muita gente armada e fomos ameaçados todo o tempo", disse a sem-terra.
De acordo Onise, os sem-terra foram dominados por cerca de 20 seguranças e espancados com as coronhas de espingardas. Neri foi levado para o hospital inconsciente, segundo Onise. O sem-terra deveria ser transferido ontem para um hospital em Campo Grande, pois corria risco de perder a visão do olho esquerdo.

Saque
A Polícia Civil indiciou ontem quatro sem-terra, também da CUT, em Tacuru (500 km ao sul de Campo Grande), por formação de quadrilha e roubo. Eles estavam entre os saqueadores de um caminhão que transportava sete toneladas de alimentos.
O saque aconteceu na manhã de ontem, na rodovia que liga Tacuru a Amambaí. Cerca de cem sem-terra, acampados há três anos na fazenda Santa Renata, bloquearam a estrada com pedaços de madeira.
Saquearam então um caminhão que transportava sete toneladas de alimentos e produtos de limpeza. A empresa estimou o prejuízo em R$ 20 mil.
O delegado Gilberto Bazílio de Oliveira disse que indiciou quatro sem-terra, mas os liberou porque não tinham sido presos em flagrante. Afirmou, porém, que iria pedir a prisão provisória dos quatro nos próximos dias.
O coordenador da CUT no Estado, Paulo César Farias, declarou que o saque aconteceu porque "os sem-terra estão morrendo de fome". Ele disse que o governo estadual não repassa cestas básicas aos acampamentos há pelo menos três meses. O governo confirmou o atraso na entrega dos alimentos e disse que o problema será resolvido até amanhã.

Invasões
O último conflito agrário no Estado ocorreu no dia 6 de outubro, quando o Departamento dos Trabalhadores Rurais da CUT de Mato Grosso do Sul comandou a invasão da fazenda São João, em Paranhos (550 km ao sul de Campo Grande). Na ocasião, os sem-terra foram recebidos à bala pelos seguranças da propriedade.
Durante o mês de junho, o Departamento dos Trabalhadores Rurais da CUT promoveu 13 invasões no Estado, que mobilizaram mais de mil famílias. As invasões ocorreram nos municípios de Tacuru (160 famílias), Eldorado (710 famílias), Amambaí (100 famílias), Terenos (125 famílias), Sidrolândia (70 famílias), Aparecido do Taboado (75 famílias), Deodápolis (150 famílias), Caarapó (85 famílias), Rio Brilhante (110 famílias) e Pedro Gomes.


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