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Sem-terra é espancado em MS
CELSO BEJARANO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
O sem-terra Moisés Neri, 34, líder de um acampamento ligado à
CUT em Mato Grosso do Sul, foi
espancado ontem por volta das
11h por seguranças da fazenda
Três M, localizada em Nova Alvorada do Sul (100 km ao sul de
Campo Grande).
Neri levou coronhadas na cabeça e sofreu ferimentos graves no
olho esquerdo. Ontem à tarde, ele
era atendido no hospital de Nova
Alvorada do Sul. Neri e mais 50 famílias ocuparam no domingo a
fazenda Três M. Os invasores disseram que a área possui 18 mil
hectares, metade dos quais seriam
áreas devolutas (sem escritura).
Eles reivindicam essa parte.
O dono da propriedade, Serafim Meneguel, não foi localizado
pela Agência Folha para falar sobre o conflito.
Segundo a sem-terra Onise Rocha, Neri foi agredido perto da
porteira da fazenda. Ele e mais
quatro sem-terra estariam aguardando a presença da polícia no local. "Assim que ocupamos, ninguém mais entrava ou saía do
acampamento. Vi muita gente armada e fomos ameaçados todo o
tempo", disse a sem-terra.
De acordo Onise, os sem-terra
foram dominados por cerca de 20
seguranças e espancados com as
coronhas de espingardas. Neri foi
levado para o hospital inconsciente, segundo Onise. O sem-terra deveria ser transferido ontem
para um hospital em Campo
Grande, pois corria risco de perder a visão do olho esquerdo.
Saque
A Polícia Civil indiciou ontem
quatro sem-terra, também da
CUT, em Tacuru (500 km ao sul
de Campo Grande), por formação
de quadrilha e roubo. Eles estavam entre os saqueadores de um
caminhão que transportava sete
toneladas de alimentos.
O saque aconteceu na manhã de
ontem, na rodovia que liga Tacuru a Amambaí. Cerca de cem
sem-terra, acampados há três
anos na fazenda Santa Renata,
bloquearam a estrada com pedaços de madeira.
Saquearam então um caminhão
que transportava sete toneladas
de alimentos e produtos de limpeza. A empresa estimou o prejuízo
em R$ 20 mil.
O delegado Gilberto Bazílio de
Oliveira disse que indiciou quatro
sem-terra, mas os liberou porque
não tinham sido presos em flagrante. Afirmou, porém, que iria
pedir a prisão provisória dos quatro nos próximos dias.
O coordenador da CUT no Estado, Paulo César Farias, declarou
que o saque aconteceu porque "os
sem-terra estão morrendo de fome". Ele disse que o governo estadual não repassa cestas básicas
aos acampamentos há pelo menos três meses. O governo confirmou o atraso na entrega dos alimentos e disse que o problema será resolvido até amanhã.
Invasões
O último conflito agrário no Estado ocorreu no dia 6 de outubro,
quando o Departamento dos Trabalhadores Rurais da CUT de Mato Grosso do Sul comandou a invasão da fazenda São João, em Paranhos (550 km ao sul de Campo
Grande). Na ocasião, os sem-terra
foram recebidos à bala pelos seguranças da propriedade.
Durante o mês de junho, o Departamento dos Trabalhadores
Rurais da CUT promoveu 13 invasões no Estado, que mobilizaram mais de mil famílias. As invasões ocorreram nos municípios
de Tacuru (160 famílias), Eldorado (710 famílias), Amambaí (100
famílias), Terenos (125 famílias),
Sidrolândia (70 famílias), Aparecido do Taboado (75 famílias),
Deodápolis (150 famílias), Caarapó (85 famílias), Rio Brilhante
(110 famílias) e Pedro Gomes.
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