São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2001

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NO AR

Da realidade à "realidade"

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

A guerra de audiência entre SBT e Globo, de uma hora para outra, passou a chamar muito mais atenção do que a "nova guerra" de George W. Bush e Osama bin Laden, de EUA e Afeganistão.
Os pronunciamentos de SBT e Globo, em disputa pelos direitos dos programas no gênero Big Brother, ocupam o vazio deixado pela exaustão das tragédias da guerra.
Melhor dizendo, a "realidade" da Casa dos Artistas no SBT, que aliás não passa de encenação amadorística, substitui na preferência do telespectador brasileiro a realidade sem aspas -de americanos envenenados, crianças afegãs mortas e outros horrores da guerra.
Na passagem dos pronunciamentos de Bush e Bin Laden para os pronunciamentos de Globo e SBT, o que permaneceu foi a retórica violenta.
Para a Globo, na nota de anteontem, "a indústria brasileira de entretenimento só pode crescer se for baseada em princípios morais", o que estaria faltando, presume-se, à "pirataria" praticada pelo SBT.
Acusado de não ter "moral" nem "ética", o SBT respondeu à altura. "A indústria brasileira do entretenimento só pode crescer se a TV Globo deixar", começou ontem sua nota de resposta, num tom agressivo jamais visto na relação entre redes de televisão no país. A nota terminou no seguinte:
- O SBT, enquanto a Globo não for o único veículo, o único empregador, não for o único poder, o Big Brother que anseia ser, até esse dia, o SBT continuará trabalhando e derrotando, sem luxo, o poder, a riqueza e a prepotência, hoje disfarçados de moralistas.
Em termos de bem e de mal, de drama popular, a guerra de audiência não fica nada atrás da "nova guerra". Sem falar da nudez e de tudo mais que se vê, todas as noites, no SBT, na tal Casa dos Artistas.

 

De volta à realidade, a TV americana passou a pressionar para diminuir o vexame.
Quer pelo menos o "pool" de cobertura que permitiria acompanhar os ataques em terra. Vêm pressionando por isso, com porta-vozes como Peter Jennings, da ABC. Mas não será fácil recuperar a credibilidade, depois de ceder tanto.
A CNN ouviu um diretor da TF1 francesa que falou da crescente reação aos ataques, por causa das imagens de afegãos mortos. O mesmo vem acontecendo no Reino Unido.
Nos EUA, onde tais imagens não surgem com a mesma constância, segundo registro da "Variety", a reação à guerra ainda está para começar.


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