|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NO AR
Da realidade à "realidade"
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
A guerra de audiência entre SBT e Globo, de uma
hora para outra, passou a chamar muito mais atenção do que
a "nova guerra" de George W.
Bush e Osama bin Laden, de
EUA e Afeganistão.
Os pronunciamentos de SBT e
Globo, em disputa pelos direitos
dos programas no gênero Big
Brother, ocupam o vazio deixado pela exaustão das tragédias
da guerra.
Melhor dizendo, a "realidade"
da Casa dos Artistas no SBT,
que aliás não passa de encenação amadorística, substitui na
preferência do telespectador
brasileiro a realidade sem aspas
-de americanos envenenados,
crianças afegãs mortas e outros
horrores da guerra.
Na passagem dos pronunciamentos de Bush e Bin Laden para os pronunciamentos de Globo e SBT, o que permaneceu foi
a retórica violenta.
Para a Globo, na nota de anteontem, "a indústria brasileira
de entretenimento só pode crescer se for baseada em princípios
morais", o que estaria faltando,
presume-se, à "pirataria" praticada pelo SBT.
Acusado de não ter "moral"
nem "ética", o SBT respondeu à
altura. "A indústria brasileira
do entretenimento só pode crescer se a TV Globo deixar", começou ontem sua nota de resposta, num tom agressivo jamais visto na relação entre redes de televisão no país. A nota
terminou no seguinte:
- O SBT, enquanto a Globo
não for o único veículo, o único
empregador, não for o único poder, o Big Brother que anseia
ser, até esse dia, o SBT continuará trabalhando e derrotando,
sem luxo, o poder, a riqueza e a
prepotência, hoje disfarçados de
moralistas.
Em termos de bem e de mal,
de drama popular, a guerra de
audiência não fica nada atrás
da "nova guerra". Sem falar da
nudez e de tudo mais que se vê,
todas as noites, no SBT, na tal
Casa dos Artistas.
De volta à realidade, a TV
americana passou a pressionar
para diminuir o vexame.
Quer pelo menos o "pool" de
cobertura que permitiria acompanhar os ataques em terra.
Vêm pressionando por isso, com
porta-vozes como Peter Jennings, da ABC. Mas não será fácil recuperar a credibilidade, depois de ceder tanto.
A CNN ouviu um diretor da
TF1 francesa que falou da crescente reação aos ataques, por
causa das imagens de afegãos
mortos. O mesmo vem acontecendo no Reino Unido.
Nos EUA, onde tais imagens
não surgem com a mesma constância, segundo registro da "Variety", a reação à guerra ainda
está para começar.
Texto Anterior: Multimídia: FHC quer apressar acordo econômico Próximo Texto: Rio Grande do Sul: PT abre comissão de ética para captador de recursos Índice
|