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ELIO GASPARI
Uma nova baixaria, o "Mata Malan"
Há um estranho cheiro de
"Mata Malan" no ar. Vem de
duas panelas. A mais temperada
é a dos economistas ou animadores econômicos que se apresentam como defensores de um "desenvolvimentismo" que ele teria
travado. A mais oportunista vem
do deputado Wellington Dias
(PT-PI), que deseja convocá-lo à
Comissão de Fiscalização e Controle para explicar a relação existente entre o motorista de Hugo
Braga, assessor parlamentar do
ministério, e o famoso lobista de
Brasília, Alexandre Paes dos Santos, o APS.
A idéia segundo a qual Malan
foi um obstáculo ao desenvolvimento é uma mistificação a serviço da transmigração de seus ex-aliados para as caravelas de José
Serra, Tasso Jereissati e (por que
não?) Lula. Deu-se uma conjuntura na qual a política econômica
do governo FFHH associará a orfandade ao fracasso. Fracassou
porque empulhou o país com o
populismo cambial, deixou-o vulnerável e estagnado. FFHH diz
agora que serão necessários 20
anos para entendê-lo. Alá é grande e haverá de lhe dar 91 anos de
vida.
Política fracassada é uma coisa,
ministro da Fazenda contra o desenvolvimento é bem outra. Malan nunca foi contra o progresso,
até porque não é burro. Se a
transformação de Malan em bode
da estagnação resolvesse o problema, tudo bem. A dificuldade está
no fato de ela trazer embutida
outra empulhação, bem pior. É a
transformação dos seus ex-aliados em críticos, para preservar
modernidades adquiridas. Uma
consultoria aqui, uma sociedade
em banco acolá.
Servidor público, Pedro Malan
nunca viveu de outro rendimento
que não viesse do serviço público.
Faz tempo, gritava-se na rua "o
povo está a fim, da cabeça do Delfim". Se Antônio Delfim Netto
não fosse de circo, hoje estaria
sem ela. Em 1984, as mesmas pessoas e empresas que se cevaram
no "milagre econômico" jogaram-lhe a culpa da bancarrota e
foram ensaboar Tancredo Neves.
No seu primeiro dia fora do poder, Delfim almoçou num restaurante paulista e sentou-se numa
mesa do fundo. Atravessou 50
metros para entrar e outros 50 para sair. Ninguém lhe deu nem sequer um abano de cabeça. Elitezinha pobre, a nacional.
Assim como os sábios da ekipekonômica obrigam-se a uma
quarentena quando deixam o governo, deveriam ser obrigados
também a ficar em silêncio por
tempo equivalente àquele em
que, calados, estiveram no governo. Some-se a isso, em alguns casos, o tempo em que, sempre calados, dirigiram bancos, corretoras
ou empresas de consultoria.
Questão de pudor. Não falaram
quando suas críticas podiam beneficiar o público, não devem falar em época de campanha eleitoral, quando beneficiam a si próprios.
A convocação de Malan à Comissão de Fiscalização e Controle
é oportunista e pretende montar
um teatro em Brasília de forma a
regionalizar uma crise surgida no
Rio Grande do Sul, onde se descobriu o seguinte:
1) Em 1998 organizou-se um
clube de seguros para coletar dinheiro em benefício da candidatura de Olívio Dutra.
2) O presidente desse clube, Diógenes de Oliveira, pediu ao chefe
de polícia que amenizasse a vida
dos bicheiros. Nas suas palavras:
"Conheço os caras, o Olívio conhece. O que estou dizendo, conversando contigo por determinação do Olívio [..." é para tu saberes dessas relações que nós temos
com esse pessoal, desde que eles
não interfiram no crime organizado".
A biografia de Olívio Dutra haverá de ser um antídoto eficiente
para que esse episódio não se
transforme numa peça essencial
de avaliação de seu governo, bem
como da moralidade das administrações petistas. Todavia, se a
biografia de Malan não merece
respeito, que respeito merece a de
Olívio?
Quando o deputado do PT sai-se com a idéia de se convocar o
ministro da Fazenda para explicar quem pagava o motorista de
seu assessor parlamentar, o que se
está buscando é teatro, com o objetivo de tumultuar a percepção
do episódio gaúcho. Ninguém está livre de assessores que dão
"carteiraços" (Diógenes), ou aceitam mimos indevidos de lobistas
(Hugo Braga). Descobertos, manda a norma que sejam afastados e
foi isso que Malan fez com o seu.
O Ministério Público e a Polícia
Federal estão investigando as
malfeitorias cometidas pelo lobista APS. Deve-se a eles o que se sabe. (E a uma iniciativa do ministro José Serra, que saiu atrás de
uma chantagem fantasiada de
denúncia.) Essa é a parte séria do
trabalho. A iniciativa do deputado Wellington Dias serve apenas
para avacalhar a comissão que
preside.
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