São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 2002

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TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA

Senador, que será um dos líderes da transição pelo PT, defende mudanças na proposta do presidente eleito de combate à fome

Suplicy critica cupons propostos por Lula

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), entusiasta da adoção de programas de "renda mínima", critica a adoção de cupons de alimentação, base do projeto do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, para erradicação da fome.
O senador diz ter dado início a um "movimento" dentro do partido para que haja "maior racionalidade" na definição de políticas para essa área.
Na opinião de Suplicy, deveria ser dada ênfase maior não à distribuição de cupons (ou "vales"), a serem trocados unicamente por alimentos em estabelecimentos credenciados, mas ao aperfeiçoamento dos programas de garantia de renda, em que o benefício é pago em dinheiro.
"O benefício em dinheiro dá liberdade de escolha, é mais racional. Há ocasiões em que comprar uma roupa ou uma telha é o mais importante. Os cupons retiram essa possibilidade", diz. Os vales, segundo ele, seriam no máximo "um primeiro passo". "Não podem ser a ação mais importante."
Licenciado da liderança do PT no Senado por razões médicas, Suplicy espera reassumir o posto em duas semanas, que vem sendo exercido por Tião Viana (AC).
Nesta condição, terá atuação estratégica no processo de transição, encaminhando toda a agenda de interesse de Lula na Casa.
Com o cuidado de dizer que não quer "pressionar" por mudanças, o senador diz que iniciou um "processo de convencimento". Ontem, telefonou para José Graziano, ideólogo dos cupons. Marcou um "diálogo" para segunda-feira. "Quero colaborar com a equipe de transição para encontrarmos a alternativa mais racional", diz. Ele também vai conversar com o coordenador da equipe de transição, Antônio Palocci, e procurará o presidente eleito.
A "cruzada" de Suplicy prevê sua participação, na semana que vem, em um seminário a convite de Wanda Engel, coordenadora dos programas de combate à fome do atual governo, que ontem se referiu aos cupons como "retrocesso", em entrevista à Folha.
Suplicy já esboçou reação à idéia no ano passado, ao ser lançado o plano Fome Zero, da ONG de Lula, o Instituto Cidadania.
O projeto contempla também os programas de renda mínima e diz que os vales são uma solução emergencial.
Suplicy considera que a prioridade deve ser dada à renda mínima, apesar de dizer que "respeita e aceita" a implantação dos cupons como medida complementar, uma vez que constam do programa de Lula. Ele diz ter receio, no entanto, de que os vales virem uma "moeda paralela".
Em uma alfinetada a Graziano, Suplicy diz que ele está "mal-informado" por ter dito, em entrevista à Folha, que os programas de renda mínima são para quem tem renda zero. "São para famílias que têm até meio salário mínimo per capita de renda mensal."
O senador também tem resposta pronta ao argumento de Graziano de que os cupons impulsionariam a agricultura familiar. "Cerca de 70% do que as famílias obtêm em programas de renda mínima é gasto em alimentação."



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