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TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA
Senador, que será um dos líderes da transição pelo PT, defende mudanças na proposta do presidente eleito de combate à fome
Suplicy critica cupons propostos por Lula
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O senador Eduardo Suplicy
(PT-SP), entusiasta da adoção de
programas de "renda mínima",
critica a adoção de cupons de alimentação, base do projeto do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da
Silva, para erradicação da fome.
O senador diz ter dado início a
um "movimento" dentro do partido para que haja "maior racionalidade" na definição de políticas para essa área.
Na opinião de Suplicy, deveria
ser dada ênfase maior não à distribuição de cupons (ou "vales"), a
serem trocados unicamente por
alimentos em estabelecimentos
credenciados, mas ao aperfeiçoamento dos programas de garantia
de renda, em que o benefício é pago em dinheiro.
"O benefício em dinheiro dá liberdade de escolha, é mais racional. Há ocasiões em que comprar
uma roupa ou uma telha é o mais
importante. Os cupons retiram
essa possibilidade", diz. Os vales,
segundo ele, seriam no máximo
"um primeiro passo". "Não podem ser a ação mais importante."
Licenciado da liderança do PT
no Senado por razões médicas,
Suplicy espera reassumir o posto
em duas semanas, que vem sendo
exercido por Tião Viana (AC).
Nesta condição, terá atuação estratégica no processo de transição, encaminhando toda a agenda de interesse de Lula na Casa.
Com o cuidado de dizer que não
quer "pressionar" por mudanças,
o senador diz que iniciou um
"processo de convencimento".
Ontem, telefonou para José Graziano, ideólogo dos cupons. Marcou um "diálogo" para segunda-feira. "Quero colaborar com a
equipe de transição para encontrarmos a alternativa mais racional", diz. Ele também vai conversar com o coordenador da equipe
de transição, Antônio Palocci, e
procurará o presidente eleito.
A "cruzada" de Suplicy prevê
sua participação, na semana que
vem, em um seminário a convite
de Wanda Engel, coordenadora
dos programas de combate à fome do atual governo, que ontem
se referiu aos cupons como "retrocesso", em entrevista à Folha.
Suplicy já esboçou reação à
idéia no ano passado, ao ser lançado o plano Fome Zero, da ONG
de Lula, o Instituto Cidadania.
O projeto contempla também
os programas de renda mínima e
diz que os vales são uma solução
emergencial.
Suplicy considera que a prioridade deve ser dada à renda mínima, apesar de dizer que "respeita
e aceita" a implantação dos cupons como medida complementar, uma vez que constam do programa de Lula. Ele diz ter receio,
no entanto, de que os vales virem
uma "moeda paralela".
Em uma alfinetada a Graziano,
Suplicy diz que ele está "mal-informado" por ter dito, em entrevista à Folha, que os programas
de renda mínima são para quem
tem renda zero. "São para famílias que têm até meio salário mínimo per capita de renda mensal."
O senador também tem resposta pronta ao argumento de Graziano de que os cupons impulsionariam a agricultura familiar.
"Cerca de 70% do que as famílias
obtêm em programas de renda
mínima é gasto em alimentação."
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