São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / DIA SEGUINTE

Presidente do PT cobra uma "auto-reflexão" da imprensa

Para Garcia, a mídia deve ao país a informação de que não teria havido mensalão

"Isso terá que ser esclarecido em algum momento", diz; "Historiadores talvez façam isso", completa ele, pedindo jornalismo mais consistente

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No dia em que jornalistas foram agredidos por militantes petistas em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente interino do partido, Marco Aurélio Garcia, repudiou o ato de violência, elogiou a liberdade de imprensa, mas criticou a mídia pedindo uma "auto-reflexão" sobre sua atuação na campanha.
Também disse que a imprensa deve ao país a informação de que não teria havido a compra de deputados pelo governo, conforme descrito pelo ex-deputado Roberto Jefferson, em entrevista à Folha em junho de 2005, no escândalo do mensalão. Se houvesse jornalismo investigativo "mais consistente", de acordo com o petista, isso já teria sido explicitado.
Ele se irritou ao responder a uma pergunta sobre o escândalo do "valerioduto". Disse que o fato de ter havido um esquema irregular de financiamento de campanha promovido pelo PT não significa compra de partidos aliados.
"Tanto é assim que a imprensa investigativa não foi capaz de estabelecer nenhuma conexão entre votos e ingressos de dinheiro. Não há nenhuma evidência, e essa é uma das dívidas que setores da imprensa têm com a opinião pública, de que posições no Parlamento de apoio tenham sido cobradas", afirmou.
Ele cobrou da mídia que explique isso à população. "Esse é um problema que vai ter que ser esclarecido em algum momento. Historiadores talvez façam isso. Ou, se aparecer um jornalismo investigativo mais consistente, se lance luz sobre esse problema."
A entrevista de Jefferson à Folha gerou uma das maiores crises do governo Lula. Quatro deputados renunciaram e José Dirceu deixou o Ministério da Casa Civil.
Sobre a cobertura das eleições, Marco Aurélio disse que a "imprensa deve ser avaliada sobre seu desempenho. Caberá em primeiro lugar aos jornalistas fazerem uma auto-reflexão sobre o papel que eles tiveram na campanha eleitoral", disse.

Sentimento
O petista diz que tem informações de que parte dos profissionais de imprensa partilha de sua opinião. "Sei que esse é um sentimento que atravessa uma parte dos jornalistas nas redações. Tenho informações disso e sei que existem instituições da sociedade civil preocupadas. Da mesma forma que sei que há movimentos crescentes de consumidores de órgãos de imprensa que estão manifestando a sua inconformidade através do cancelamento de assinaturas", declarou.
Para Garcia, essa realidade é "sadia". "Esses movimentos no passado permitiram que a imprensa se repensasse", afirmou. Deixando claro que espera um movimento espontâneo de autocrítica, ressaltou que "essa não é uma tarefa de governo".
Garcia disse que o PT condena "de forma muito clara" agressões a jornalistas. "Não compartilharemos de forma nenhuma com essas práticas. Muitas vezes nós divergimos com a imprensa, mas isso nunca foi ao ponto de negar o papel que ela tem. Tudo é irrelevante diante do valor mais alto que é a liberdade de imprensa."


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