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ELEIÇÕES 2006 / DIA SEGUINTE
Presidente do PT cobra uma "auto-reflexão" da imprensa
Para Garcia, a mídia deve ao país a informação de que não teria havido mensalão
"Isso terá que ser esclarecido em algum momento", diz; "Historiadores talvez façam isso", completa ele, pedindo jornalismo mais consistente
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No dia em que jornalistas foram agredidos por militantes
petistas em frente ao Palácio da
Alvorada, o presidente interino
do partido, Marco Aurélio Garcia, repudiou o ato de violência,
elogiou a liberdade de imprensa, mas criticou a mídia pedindo uma "auto-reflexão" sobre
sua atuação na campanha.
Também disse que a imprensa deve ao país a informação de
que não teria havido a compra
de deputados pelo governo,
conforme descrito pelo ex-deputado Roberto Jefferson, em
entrevista à Folha em junho de
2005, no escândalo do mensalão. Se houvesse jornalismo investigativo "mais consistente",
de acordo com o petista, isso já
teria sido explicitado.
Ele se irritou ao responder a
uma pergunta sobre o escândalo do "valerioduto". Disse que o
fato de ter havido um esquema
irregular de financiamento de
campanha promovido pelo PT
não significa compra de partidos aliados.
"Tanto é assim que a imprensa investigativa não foi capaz de estabelecer nenhuma
conexão entre votos e ingressos de dinheiro. Não há nenhuma evidência, e essa é uma das
dívidas que setores da imprensa têm com a opinião pública,
de que posições no Parlamento
de apoio tenham sido cobradas", afirmou.
Ele cobrou da mídia que explique isso à população. "Esse é
um problema que vai ter que
ser esclarecido em algum momento. Historiadores talvez façam isso. Ou, se aparecer um
jornalismo investigativo mais
consistente, se lance luz sobre
esse problema."
A entrevista de Jefferson à
Folha gerou uma das maiores
crises do governo Lula. Quatro
deputados renunciaram e José
Dirceu deixou o Ministério da
Casa Civil.
Sobre a cobertura das eleições, Marco Aurélio disse que a
"imprensa deve ser avaliada sobre seu desempenho. Caberá
em primeiro lugar aos jornalistas fazerem uma auto-reflexão
sobre o papel que eles tiveram
na campanha eleitoral", disse.
Sentimento
O petista diz que tem informações de que parte dos profissionais de imprensa partilha de
sua opinião. "Sei que esse é um
sentimento que atravessa uma
parte dos jornalistas nas redações. Tenho informações disso
e sei que existem instituições
da sociedade civil preocupadas.
Da mesma forma que sei que há
movimentos crescentes de
consumidores de órgãos de imprensa que estão manifestando
a sua inconformidade através
do cancelamento de assinaturas", declarou.
Para Garcia, essa realidade é
"sadia". "Esses movimentos no
passado permitiram que a imprensa se repensasse", afirmou.
Deixando claro que espera um
movimento espontâneo de autocrítica, ressaltou que "essa
não é uma tarefa de governo".
Garcia disse que o PT condena "de forma muito clara"
agressões a jornalistas. "Não
compartilharemos de forma
nenhuma com essas práticas.
Muitas vezes nós divergimos
com a imprensa, mas isso nunca foi ao ponto de negar o papel
que ela tem. Tudo é irrelevante
diante do valor mais alto que é a
liberdade de imprensa."
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