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CÂMARA
Legendas que farão oposição ao governo Lula, como PSDB, PFL e PPB, devem perder deputados para PTB, PL e PSB
Mais de 30 deputados pretendem trocar de partido
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais de 30 deputados federais
recém-eleitos em 6 de outubro
devem trocar de partido antes da
posse, em 1º de fevereiro de 2003.
Levantamento feito pela Folha
com as principais agremiações na
Câmara mostra que pode chegar a
37 o número de migrações partidárias nas próximas semanas. Em
eleições anteriores, esse tipo de
troca ocorria depois que os deputados assumiam seus mandatos.
Esse movimento migratório antes da posse é permitido pela lei.
Um deputado que se elegeu por
um partido pode assumir o mandato já por outra sigla no ano que
vem. Os partidos que mais devem
receber deputados são PTB, PL e
PSB -siglas de médio porte que
terão ministérios no governo de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os perdedores serão os partidos
de oposição à administração petista, como PSDB, PFL e PPB. O
PMDB, que não deve participar
oficialmente do governo Lula,
também deve perder deputados.
Em eleições anteriores também
houve muita troca partidária antes da posse, mas a configuração
das bancadas ficava quase idêntica à da eleição. Por exemplo, o PL
elegeu 12 deputados em 1998. A
uma semana da posse em 1999, a
sigla tinha perdido sete dos seus
eleitos. "Fiz o possível e o impossível e consegui filiar sete deputados que não tinham se elegido
com a gente. Tomamos posse
com 12, o mesmo número que havia sido eleito", diz líder do PL na
Câmara, Valdemar Costa Neto.
Em 1994, depois de todas as trocas, as bancadas que tomaram
posse na Câmara em 1995 apresentaram pouca discrepância em
relação ao resultado das urnas (só
duas mudanças no saldo geral).
Em 1998, o saldo foi de apenas
uma troca entre eleição e posse.
Neste ano haverá uma diferença
grande entre o que os eleitores escolheram e o que de fato ocorrerá
na posse. Partidos grandes como
o PFL e o PSDB podem perder até
mais de dez deputados cada um.
"É verdade que haverá uma migração grande agora antes da posse. Mas durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso essa movimentação se dava
ao longo da Legislatura. O PSDB
elegeu 63 deputados em 94, mas
estava com 90 deputados em fevereiro de 97", diz Costa Neto.
A razão de as mudanças estarem ocorrendo agora é de duas
ordens. Primeiro, a bancada de
cada partido na data da posse dos
deputados é a que conta para distribuição de cargos nas comissões
da Câmara. A outra razão é apresentar uma base de apoio ampla a
Lula: os partidos médios querem
se credenciar como grandes
apoiadores do petista, temendo
perder prestígio no caso da adesão de siglas como o PMDB.
Para o líder do PTB na Câmara,
Roberto Jefferson (RJ), "o objetivo dessas trocas partidárias não é
ruim": "Os deputados estão mais
sintonizados com a vontade popular, enquanto que as direções
de alguns partidos, como PMDB,
PSDB, PFL e PPB, ainda não perceberam o que aconteceu".
Jefferson completa: "Não tem
importância que digam que é
ruim para a imagem da Câmara.
O PTB pode chegar a 40 ou 45 deputados. Vamos dar sustentação
no Congresso a um presidente
que teve mais de 60% dos votos".
Valdemar Costa Neto, do PL,
também fala algo parecido. Não
se diz constrangido de cooptar
deputados agora. Também é contra a mudança da lei no sentido de
impedir esse tipo de operação.
"Acho engraçado quando alguns partidos agora defendem a
adoção da fidelidade partidária.
Quando tiravam deputados do
PL, não defendiam isso. Agora
que estamos ganhando, querem
mudar. Vou colocar uns 25 deputados a mais no PL".
As previsões dos líderes do PTB
e do PL sobre o aumento de suas
bancadas podem estar um pouco
inflacionadas. O mais provável é
que o PL agregue até 17 deputados. No caso do PTB, o aumento
deve chegar a 12 deputados, embora essa sigla esteja em processo
de fusão com o PSD, que elegeu
quatro deputados neste ano.
No PT, o futuro ministro da Casa Civil, José Dirceu, diz que o
partido não está atuando nessas
operações de troca. Indagado se o
fato de os partidos médios terem
recebido ministérios era uma forma de estimular a cooptação de
deputados, Dirceu respondeu: "O
PT trabalhou institucionalmente
com todos os partidos. Ninguém
pode alegar que o PT tenha estimulado essas trocas". O líder do
PT na Câmara, deputado João
Paulo (SP), repete a declaração:
"Assino embaixo, porque nós no
PT nunca fizemos nenhuma ação
para ajudar algum partido a tirar
deputados de outra agremiação".
Apesar das negativas da direção
petista, a Folha apurou que o partido de Lula vê com simpatia as
mudanças: para o PT, será mais
confortável negociar com PSDB,
PFL, PPB e PMDB fragilizados.
O PSDB já admite as eventuais
defecções. "Um deputado que já
perdemos é o Henrique Meirelles,
de Goiás, que renunciará ao mandato para presidir o Banco Central", diz o presidente do PSDB,
José Aníbal (SP). Mas faz uma ressalva: "Já formamos um bloco
partidário com o PFL. Juntos,
acho que podemos estancar esse
movimento. Por isso não acredito
que haverá uma debandada".
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