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ADMINISTRAÇÃO
Prefeitura desconta até 60% de servidores e, ao mesmo tempo, anuncia calçadão de R$ 50 mil no centro
Campinas faz desconto irregular de salário
LUCIANA FINAZZI
da Folha Campinas
GUSTAVO PORTO
free-lance para a Folha Campinas
A Prefeitura
de Campinas
deixou de pagar
até 60% do salário dos servidores ontem. Foram feitos cortes
dos benefícios,
horas extras deixaram de ser pagas
e houve desconto integral do convênio médico.
O desconto neste mês é irregular,
já que o decreto que revoga o direito aos benefícios só foi publicado
no último dia 27 e a lei não é retroativa.
Os servidores ameaçam entrar
em greve na próxima segunda-feira. Trabalhadores que esperavam
receber R$ 350 ontem, só obtiveram R$ 210. O desconto variou de
acordo com cada tipo de atividade
dos servidores.
A partir do próximo mês, esse
desconto será definitivo.
O prefeito em exercício, Carlos
Cruz (PMDB), afirmou que os benefícios não foram pagos ontem
por falta de dinheiro em caixa. Ele
não soube informar o montante.
A Folha tentou falar com o secretário das Finanças e dos Recursos
Humanos, Álvaro César Iglesias,
mas não conseguiu localizá-lo.
Apesar da crise, o prefeito em
exercício anunciou ontem a construção de um calçadão na rua Barão de Jaguara, no centro da cidade. A obra terá um custo de R$ 50
mil e deverá ser executada em 12
dias -período da viagem do prefeito Francisco Amaral (PPB) à
Alemanha.
Cruz afirmou que determinou o
pagamento das horas extras de
março e o proporcional do convênio para o próximo dia 8.
Entretanto, os servidores ficarão
sem os adicionais de insalubridade
e periculosidade do mês passado.
O bônus varia de R$ 40 a R$ 90.
Para pagar a diferença dos salários, a prefeitura terá que formular
uma nova folha, já que não foram
mencionados nos contracheques
benefícios e horas extras.
O coordenador-geral do sindicato dos servidores, Fábio Custódio,
afirmou que o não-pagamento dos
benefícios é irregular e que a categoria vai manter a greve para segunda mesmo com a determinação da prefeitura de pagar as horas
extras e os salários proporcionais.
Ontem, o sindicato dos servidores protocolou na Justiça uma ação
requerendo a revogação da extinção dos benefícios.
"É um absurdo o que a prefeitura
fez ontem. Teve funcionário operacional, que ganha o piso de R$
350 e recebeu apenas 60% (R$ 210,)
de seu salário", disse.
A professora primária Dilan
Duarte dos Reis Carmo, 50, afirmou que teve um desconto de pelo
menos R$ 200 em seu salário, de
R$ 900. "Descontaram o convênio
e não pagaram minha hora extra."
Ela afirmou que os R$ 200 que
deixou de receber vão fazer falta
para sua família. "Meus quatro filhos estão desempregados. Dependemos da Unimed, que não vou
mais poder pagar", disse.
Já a enfermeira Solange Melo, 37,
afirmou que teve R$ 126 descontados de seu salário de R$ 650.
"Vou entrar em greve na próxima segunda porque é um absurdo
esse desconto. A prefeitura nem
avisou que meu salário diminuiria.
Tenho contas a pagar", disse a enfermeira. Ela disse que terá que
conseguir um empréstimo para
saldar dívidas.
Outro lado
O prefeito em exercício afirmou
que a obra no calçadão na Barão de
Jaguara não trará gastos à Prefeitura de Campinas.
"Nós não faremos licitação ou
contrataremos pessoal. Apenas
utilizaremos os próprios funcionários da prefeitura", disse.
No entanto, o prefeito em exercício afirmou que não deve intervir
no decreto de Chico Amaral.
"Sou interino e tenho minhas limitações. Não vou fazer nada que
o Chico possa revogar de novo,
quando voltar", disse Cruz.
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