Campinas, Sábado, 1 de maio de 1999

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ADMINISTRAÇÃO
Prefeitura desconta até 60% de servidores e, ao mesmo tempo, anuncia calçadão de R$ 50 mil no centro
Campinas faz desconto irregular de salário

LUCIANA FINAZZI
da Folha Campinas
GUSTAVO PORTO
free-lance para a Folha Campinas

A Prefeitura de Campinas deixou de pagar até 60% do salário dos servidores ontem. Foram feitos cortes dos benefícios, horas extras deixaram de ser pagas e houve desconto integral do convênio médico.
O desconto neste mês é irregular, já que o decreto que revoga o direito aos benefícios só foi publicado no último dia 27 e a lei não é retroativa.
Os servidores ameaçam entrar em greve na próxima segunda-feira. Trabalhadores que esperavam receber R$ 350 ontem, só obtiveram R$ 210. O desconto variou de acordo com cada tipo de atividade dos servidores.
A partir do próximo mês, esse desconto será definitivo.
O prefeito em exercício, Carlos Cruz (PMDB), afirmou que os benefícios não foram pagos ontem por falta de dinheiro em caixa. Ele não soube informar o montante.
A Folha tentou falar com o secretário das Finanças e dos Recursos Humanos, Álvaro César Iglesias, mas não conseguiu localizá-lo.
Apesar da crise, o prefeito em exercício anunciou ontem a construção de um calçadão na rua Barão de Jaguara, no centro da cidade. A obra terá um custo de R$ 50 mil e deverá ser executada em 12 dias -período da viagem do prefeito Francisco Amaral (PPB) à Alemanha.
Cruz afirmou que determinou o pagamento das horas extras de março e o proporcional do convênio para o próximo dia 8.
Entretanto, os servidores ficarão sem os adicionais de insalubridade e periculosidade do mês passado. O bônus varia de R$ 40 a R$ 90.
Para pagar a diferença dos salários, a prefeitura terá que formular uma nova folha, já que não foram mencionados nos contracheques benefícios e horas extras.
O coordenador-geral do sindicato dos servidores, Fábio Custódio, afirmou que o não-pagamento dos benefícios é irregular e que a categoria vai manter a greve para segunda mesmo com a determinação da prefeitura de pagar as horas extras e os salários proporcionais.
Ontem, o sindicato dos servidores protocolou na Justiça uma ação requerendo a revogação da extinção dos benefícios.
"É um absurdo o que a prefeitura fez ontem. Teve funcionário operacional, que ganha o piso de R$ 350 e recebeu apenas 60% (R$ 210,) de seu salário", disse.
A professora primária Dilan Duarte dos Reis Carmo, 50, afirmou que teve um desconto de pelo menos R$ 200 em seu salário, de R$ 900. "Descontaram o convênio e não pagaram minha hora extra."
Ela afirmou que os R$ 200 que deixou de receber vão fazer falta para sua família. "Meus quatro filhos estão desempregados. Dependemos da Unimed, que não vou mais poder pagar", disse.
Já a enfermeira Solange Melo, 37, afirmou que teve R$ 126 descontados de seu salário de R$ 650.
"Vou entrar em greve na próxima segunda porque é um absurdo esse desconto. A prefeitura nem avisou que meu salário diminuiria. Tenho contas a pagar", disse a enfermeira. Ela disse que terá que conseguir um empréstimo para saldar dívidas.

Outro lado
O prefeito em exercício afirmou que a obra no calçadão na Barão de Jaguara não trará gastos à Prefeitura de Campinas.
"Nós não faremos licitação ou contrataremos pessoal. Apenas utilizaremos os próprios funcionários da prefeitura", disse.
No entanto, o prefeito em exercício afirmou que não deve intervir no decreto de Chico Amaral.
"Sou interino e tenho minhas limitações. Não vou fazer nada que o Chico possa revogar de novo, quando voltar", disse Cruz.



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