Campinas, Quarta-feira, 05 de Julho de 2000


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CRISE CARCERÁRIA
Prisão está com problemas de estrutura e segurança, segundo laudo; reforma foi pedida há 6 meses
Valéria Abras
Agentes penitenciários erguem grade de túnel de 100 m feito por presos na cadeia de Piracicaba, que tem problemas na estrutura


Cadeia de Piracicaba pode ser interditada

RAQUEL LIMA
DA FOLHA CAMPINAS

A Corregedoria da Justiça de Piracicaba (80 km de Campinas) pediu a interdição da cadeia da cidade por falta de estrutura física e de segurança. O pedido foi encaminhado à Corregedoria Geral de Justiça, em São Paulo.
Há seis meses o prédio aguarda por reformas. No último dia 16 de janeiro, 670 presos da cadeia realizaram uma rebelião. Mais de cem pessoas foram mantidas como reféns e todo o setor administrativo foi destruído.
A Secretaria de Estado da Segurança Pública informou ontem, por meio da assessoria de imprensa, que aguarda a decisão da Corregedoria Geral, mas que vai recorrer caso a decisão seja favorável à interdição.
Até ontem, o desembargador-geral de Justiça, Luís de Macedo, ainda não havia apresentado uma resposta ao pedido.
Segundo a assessoria, não há para onde transferir os presos da única cadeia de Piracicaba.
Atualmente, a cadeia abriga 280 presos e a capacidade é para 512.
O presídio opera com capacidade parcial porque teve dois dos quatro pavilhões de celas destruídos durante a rebelião.

Precariedade
O pedido da Corregedoria de Piracicaba teve como base laudos de engenharia e de médicos sanitaristas que apontam a precariedade do local.
A cadeia tem dez túneis cavados pelos presos que ainda não foram fechados, está com tubulações de água rompidas, que provocam vazamentos ininterruptos de água, telhas quebradas e o esgoto a céu aberto. O setor administrativo da cadeia e dois pavilhões foram destruídos pelo fogo, durante a rebelião.
A Corregedoria não informou o conteúdo oficial dos laudos.
De acordo com a Corregedoria, a Secretaria de Estado da Segurança Pública se reuniu com representantes de Piracicaba após a rebelião e decidiram pela reforma emergencial da cadeia, que até ontem não havia sido iniciada.
A Prefeitura de Piracicaba informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o secretário-adjunto da Segurança Pública, Mário de Magalhães Papaterra Limongi, se comprometeu a realizar a reforma da cadeia em caráter emergencial.
Segundo a assessoria de imprensa do secretário de Estado da Segurança Pública, apenas o Deinter-2 (Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo -Interior) de Campinas poderia responder por que a cadeia ainda não havia sido reformada.
O Deinter-2 informou que o delegado-titular Orlando Miranda está em férias e ninguém mais poderia falar sobre o assunto.
Uma semana após a rebelião de janeiro, a Promotoria de Justiça de Piracicaba já havia apresentado à Corregedoria uma representação que pedia a interdição.
A remoção da metade dos 670 presos, a determinação do limite máximo de 300 detentos e a exclusividade para presos de Piracicaba foram as medidas emergenciais tomadas depois da rebelião.
Os presos foram transferidos para presídios da Coespe (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado de São Paulo) na Grande São Paulo e no interior do Estado. A cadeia de Piracicaba custou R$ 8 milhões.
A rebelião ocorrida na cadeia em janeiro durou 23 horas e cerca de 130 pessoas -a maioria parentes dos detentos, entre elas 25 crianças- foram mantidas como reféns. Um preso morreu e três policiais ficaram feridos.
Os detentos tinham 27 revólveres, 4 escopetas, 2 metralhadoras, 1 espingarda e 1.500 cartuchos de munição. Eles se rebelaram após um resgate de pelo 20 presos durante a visita.



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