Campinas, Quarta, 10 de fevereiro de 1999

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CAMPO MINADO
Movimento decidiu pelo impedimento em razão da liminar de reintegração concedida pela Justiça
Sem-terra bloqueia entrada em ocupação

Marcos Peron/Folha Imagem
Sem-terra da ocupação da fazenda Engenho d'Água impedem a entrada de pessoas estranhas ao movimento local


MAURÍCIO SIMIONATO
da Folha Campinas

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) bloqueou ontem a entrada de pessoas de fora do movimento na área da fazenda Engenho d'Água, em Porto Feliz (84 km de Campinas).
A área pertence à Usina Rafard e foi ocupada por cerca de 1.200 sem-terra no último domingo.
Essa foi a primeira reação dos ocupantes após a liminar de reintegração de posse, deferida anteontem à tarde pela Justiça de Porto Feliz.
Eles batizaram a ocupação de Nova Canudos. O bloqueio foi feito por meio de duas cancelas construídas pelos ocupantes.
A imprensa também teve acesso impedido à ocupação. "O despejo pode acontecer a qualquer momento e, por isso, decidimos, em assembléia, impedir o acesso de pessoas que não são do MST para que as famílias da ocupação fiquem tranquilas", disse João Paulo Rodrigues, coordenador estadual do movimento.
O bloqueio impede também a passagem de veículos por uma estrada vicinal que liga Porto Feliz a Capivari (46 km de Campinas).
A ocupação está localizada entre as margens dessa estrada vicinal e 33 km2 de plantação de cana-de-açúcar da usina União São Paulo.
A vigília no local é feita durante todo o dia por 10 a 15 ocupantes liderados pelo MST. A maioria deles porta facões.
A juíza do Fórum de Porto Feliz, Daniela Bortoliero Ventrice, que concedeu a liminar de reintegração de posse, enviou ofício ao Batalhão da Polícia Militar de Votorantim (198 km de Campinas) para o cumprimento da liminar.
A desocupação da área deveria ter acontecido ontem.
No entanto, o tenente-coronel Salvador Mauro Romano, comandante do 40º Batalhão, solicitou uma reunião para as 10h de hoje com os sem-terra.
Romano disse que irá tentar um acordo com os ocupantes antes de cumprir a liminar.
"Mas estamos fazendo um planejamento para efetuar a desocupação. Se for preciso, vamos pedir o apoio do Batalhão de Choque de São Paulo e da polícia de Sorocaba", disse.
Ele descartou qualquer ação da PM na próxima semana.
Ontem, mais 30 famílias chegaram ao acampamento. Agora, cerca de 1.300 pessoas ocupam a área.
O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) anunciou ontem à tarde, durante reunião com coordenadores do MST, que irá realizar um levantamento de áreas próximas à ocupação de Porto Feliz para viabilizar a transferência das famílias.
Segundo um dos coordenadores do movimento dos sem-terra, Delwek Martins, a proposta será discutida em nova reunião após o levantamento das áreas.



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