Campinas, Domingo, 11 de abril de 1999

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HISTÓRIAS
O craque misterioso

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
da Redação, em São Paulo

A partida era daquelas que costumavam parar a pequena cidade do interior paulista. Times rivais, de cidades rivais e torcidas apaixonadas.
O clube da casa tinha motivos para estar otimista, além do excelente ponta-esquerda, de chute forte, receberia um reforço misterioso: um meio-campista "rompedor", de uma terceira cidade vizinha, que um cunhado dizia ser um craque nato, arrojado.
"É um excepcional meia-esquerda, driblador, bom na jogada aérea e forte nos lançamentos", alardeava orgulhoso.
Na manhã do jogo foram esperar o craque na rodoviária. Os otimistas imaginavam um novo Pelé. Os pessimistas, no mínimo, um Gérson.
Eis que o nosso homem desce do ônibus, franzino, baixo, meio calvo e desengonçado. O espanto foi geral e os cochichos logo começaram. "Mas será que ele é bom mesmo?"
Apenas o tal cunhado se mantinha eufórico. Não mudara uma vírgula na ladainha que repetia havia dias: "É um craque, vocês vão ver...."
Com a bola finalmente rolando ele poderia provar que tamanho não é documento.
A expectativa é grande. O juiz apita, a bola rola e logo chega aos pés do craque. Ele domina e toca de lado. Tudo bem, pensam os companheiros e a torcida, é começo de jogo.
Aos 10min, o time visitante tem uma falta a seu favor, perigosa para a meta do clube da casa. O craque misterioso é um dos homens da barreira. O jogador adversário corre e chuta forte. A bola acerta em cheio a cabeça do craque misterioso.
Todos os esforços são em vão. Zonzo, por causa da pancada, ele é retirado de campo sob os olhares incrédulos da torcida.
Até hoje a pergunta ecoa no estádio: era ou não um craque? O que se sabe é que, além da dúvida, deixou para a posteridade uma história pitoresca. E o time da casa venceu sem ele.



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