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HISTÓRIAS
O craque misterioso
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
da Redação, em São Paulo
A partida era daquelas que
costumavam parar a pequena
cidade do interior paulista. Times rivais, de cidades rivais e
torcidas apaixonadas.
O clube da casa tinha motivos para estar otimista, além
do excelente ponta-esquerda,
de chute forte, receberia um reforço misterioso: um meio-campista "rompedor", de uma
terceira cidade vizinha, que
um cunhado dizia ser um craque nato, arrojado.
"É um excepcional meia-esquerda, driblador, bom na jogada aérea e forte nos lançamentos", alardeava orgulhoso.
Na manhã do jogo foram esperar o craque na rodoviária.
Os otimistas imaginavam um
novo Pelé. Os pessimistas, no
mínimo, um Gérson.
Eis que o nosso homem desce
do ônibus, franzino, baixo,
meio calvo e desengonçado. O
espanto foi geral e os cochichos
logo começaram. "Mas será
que ele é bom mesmo?"
Apenas o tal cunhado se
mantinha eufórico. Não mudara uma vírgula na ladainha
que repetia havia dias: "É um
craque, vocês vão ver...."
Com a bola finalmente rolando ele poderia provar que tamanho não é documento.
A expectativa é grande. O juiz
apita, a bola rola e logo chega
aos pés do craque. Ele domina e
toca de lado. Tudo bem, pensam os companheiros e a torcida, é começo de jogo.
Aos 10min, o time visitante
tem uma falta a seu favor, perigosa para a meta do clube da
casa. O craque misterioso é um
dos homens da barreira. O jogador adversário corre e chuta
forte. A bola acerta em cheio a
cabeça do craque misterioso.
Todos os esforços são em vão.
Zonzo, por causa da pancada,
ele é retirado de campo sob os
olhares incrédulos da torcida.
Até hoje a pergunta ecoa no
estádio: era ou não um craque?
O que se sabe é que, além da
dúvida, deixou para a posteridade uma história pitoresca. E
o time da casa venceu sem ele.
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