Campinas, Sábado, 12 de setembro de 1998

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FERIADO TRÁGICO
Fogo em caminhão-tanque teria estourado pára-brisas de ônibus com romeiros antes da batida
Choque térmico pode ter causado colisão

LILIAN CHRISTOFOLETTI
MAURÍCIO SIMIONATO
da Reportagem Local

A Polícia Civil de Limeira (56 km de Campinas) e o IC (Instituto de Criminalística) investigam a possibilidade de um choque térmico ter causado o acidente com os dois ônibus de romeiros na terça-feira na rodovia Anhanguera, em Araras (74 km de Campinas).
O choque térmico teria estilhaçado os pára-brisas dos ônibus, que estavam com temperaturas entre 10C e 15C na madrugada, ao entrar em uma área com um calor de até 1.200C, próximo ao caminhão-tanque incendiado.
De acordo com essa hipótese, após o estouro dos pára-brisas os motoristas teriam perdido o controle sobre os veículos.
O acidente envolveu dois ônibus, dois caminhões e um carro. Ao todo, 54 pessoas já morreram e uma ainda corre risco de vida.
O primeiro caminhão que tombou no canteiro central da rodovia Anhanguera estava carregado com 6.000 litros de gasolina e 26 mil litros de diesel.

Impacto
Segundo o professor de física Luiz Carlos Barbosa, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é provável que os pára-brisas dos ônibus de romeiros tenham estourado em razão do choque térmico.
Segundo ele, uma temperatura acima de 400C é suficiente para estourar um pára-brisa.
"Uma temperatura alta pode ter estourado o vidro. Certamente esse vidro explodiu para dentro, no rosto do motorista", afirmou o professor.
De acordo com ele, o pára-brisa de um veículo é feito com uma película entre dois vidros, justamente para evitar que se estilhace no rosto do motorista.
"Mas, mesmo assim, essa película tem um limite. A alta temperatura com certeza está acima da resistência", disse.
Segundo o delegado-seccional de Limeira, Milton Triano, os pára-brisas dos ônibus absorviam a temperatura ambiente.
A análise vai constar no inquérito policial aberto para apurar o acidente.
O calor gerado pelo incêndio foi de aproximadamente 1.200C devido aos líquidos derramados no local (diesel e gasolina), de acordo com informações do Corpo de Bombeiros.
"Os dois ônibus podem ter sido afetados pelo mesmo campo de calor formado pelo incêndio", disse o delegado-seccional de Limeira.
Os dois ônibus seguiam pela pista esquerda da rodovia, no sentido capital-interior.
O caminhão-tanque já havia caído no canteiro central da pista e se incendiado quando os ônibus passavam pelo local.
A Polícia Civil e a Promotoria Pública ainda investigam a causa de o caminhão-tanque ter caído no canteiro central e, com isso, ter causado o acidente.

Janela
A Polícia Civil de Limeira investiga também a possibilidade de as saídas de emergência dos dois ônibus de romeiros envolvidos no acidente terem emperrado e impedido a saída dos passageiros.
Os peritos do IC (Instituto de Criminalística) de Limeira e de São Paulo analisaram as saídas dos ônibus a pedido da Polícia Civil.
Eles devem concluir um laudo em 20 dias. O documento vai ter outras informações, como um desenho reconstituindo o acidente.



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