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ENTREVISTA
"Venda ou não venda, estou feliz"
CRISTINA CAROLA
DA REDAÇÃO, EM SÃO PAULO
Após bater a marca de 1 milhão
de cópias vendidas do CD "Memórias, Crônicas e Declarações de
Amor", o quinto da carreira, a
cantora e compositora carioca
Marisa Monte, 33, continua sua
turnê, fazendo duas passagens na
região, em Jundiaí (no próximo
dia 20) e Campinas (22). Entre um
show e outro -serão 11 nos próximos 17 dias-, ela deu entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - Além das canções do novo
CD, o que mais o público vai poder
ouvir no show?
Marisa Monte - Música de todos
os discos, meu trabalho como
produtora e compositora, e músicas que eu nunca gravei, como
"Ontem ao Luar", de 1918. Tem
também uma música do Roberto
(Carlos) e do Erasmo (Carlos),
"Eu Te Amo, Eu Te Amo".
Folha - O show muda para a turnê
pelo interior?
Marisa - Não, é igualzinho. São
duas carretas que levam todo o
equipamento, toda a estrutura cênica. É uma escultura em tecido
do Ernesto Neto onde a projeção e
luz acontece, tem planos de profundidade diferente...
Folha - Como você escolheu o figurino desse show? A roupa tem a
ver com a música ou com você?
Marisa - Primeiro, é uma roupa
de trabalho, tem de ser confortável, que não atrapalhe nada, respiração. É uma roupa que eu acho
que tem a ver com o todo, é branca e preta, são duas roupas. Na
verdade é uma roupa só, mas uma
preta e outra branca, mas é a mesma roupa.
Folha - Por que você não lança um
CD por ano?
Marisa - Porque eu faço turnês
enormes. Só na estrada é um ano
e meio a dois anos para cada CD.
Fora que eu não faço só isso, eu
produzo para os outros, componho. Não acho justo só trabalhar,
tem de ter um pouco de outras
atividades, estudar, ver o show
dos outros, tem de ler, tem de ouvir música, conversar, viajar sem
estar trabalhando. O tempo de
criação é uma coisa subjetiva, tem
um tempo de maturação.
Folha - Você já sofreu pressão de
gravadoras?
Marisa - Não. O trabalho deles é
vender e distribuir, não é criar
nem fazer o trabalho do artista.
Eles têm consciência disso, sabem
disso e adoram encontrar um artista que faça o seu trabalho.
Folha - Nunca exigiram que você
vendesse discos?
Marisa - Meus trabalhos sempre
venderam muito. Eu trabalho
muito, ralo para caramba, mas
não tenho o menor controle sobre
a aceitação que o meu trabalho vai
ter. Mas tenho o controle sobre a
minha dedicação e o compromisso com a arte que eu tenho no
meu trabalho. Venda ou não venda, eu estou feliz.
Folha - Quando você estreou como compositora?
Marisa - No "Mais", com a música "Eu Sei".
Folha - Quem são seus parceiros
preferidos para compor?
Marisa - Acho que são os mais
frequentes, mais constantes,
mais, vamos dizer, os que têm um
trabalho mais sólido, Arnaldo
Antunes e Carlinhos Brown. São
pessoas com quem eu trabalho há
dez anos, compondo. Mas tem
milhões de outros parceiros com
quem eu componho também e
tem parceiros com quem eu faço
música, como Cláudio Torres, Terezinha de Jesus, como Lula Buarque de Holanda, pessoas com
quem eu trabalho há 15 anos.
Folha - Que tipo de música você
gosta mais de gravar, músicas intimistas ou que possam estar na "boca do povo", como o hit "Amor I Love You", do último CD?
Marisa - Eu não gosto mais de
nada, eu gosto também.
Folha - Quando você gravou
"Amor I Love You", você achava
que fosse "estourar"?
Marisa - Eu gostava muito, adorava, cantava para os amigos há
mais de um ano. Eu achei que valia a pena gravar, se ela iria chegar
ao coração das pessoas ou não, só
o tempo poderia dizer.
Folha - Alguns rotulam a Marisa
Monte como cantora "cult". Você
gosta desse rótulo?
Marisa - Eu adoro que falem que
eu sou cult, mas eu não sou cult.
Eu sou cult nos EUA e na Europa.
Se é cult, como pode vender mais
de 1 milhão de cópias? Aqui eles
confundem, acham que um trabalho de qualidade não pode ser
popular.
Folha - A sua "parceria" com o
samba vai continuar nos próximos
CDs?
Marisa - Eu tenho uma relação
com a Portela. Eu trabalhei com a
Velha Guarda no "Mais", no "Cor
de Rosa e Carvão". Depois eu produzi o disco deles, em 99, também
gravei com eles. Eu conheço a história deles. Eu amo samba.
Folha - O que você gosta de escutar?
Marisa - Coisas diferentes, Morenos, Paulinho da Viola, Carlinhos Brown. Gosto de eletrônico
leve, clássicos, Stevie Wonder,
soul black americana, velhas
guardas, Roberto Carlos. Tudo?
Tudo não.
Folha - Quanto tempo levou a
produção do CD "Memórias, Crônicas e Declarações de Amor?
Marisa - 33 anos, esse trabalho
levou 33 anos. O trabalho de estúdio, da pré-produção até o lançamento, seis meses, no mínimo.
Folha - "Memórias" não foi gravado só no Brasil. Por quê?
Marisa - Na Bahia, no Rio de Janeiro e em Nova York. Por causa
dos músicos que eu conheço e que
moram nessas cidades.
Folha - Qual a média de shows
que você faz por mês?
Marisa - Por mês eu faço uma
média de 12 a 15 shows, uns meses
mais, outros menos. Minhas turnês são muito concentradas. Agora, eu vou fazer 11 shows em 17
dias no interior de São Paulo e Paraná - Maringá, Bauru, Ribeirão, Jundiaí.
Folha - A bossa nova e o tropicalismo foram movimentos que marcaram a MPB. Hoje, existe algum
movimento no mesmo sentido?
Marisa - O rock dos anos 80. Eu
acho, eu não vejo uma articulação
de geração tão grande como foi o
tropicalismo. Acho que o movimento do rock teve uma política
geracional enorme, revelou nomes, atitudes, pensamentos.
Folha - Quais são seus três cantores e cantoras preferidos?
Marisa - Tim Maia, João Gilberto
e Roberto Carlos. Eu gosto da Elizeth Cardoso, Carmem Miranda e
Gal Costa. Eu poderia listar 50 nomes, mas você pediu só três.
Folha - Você tem medo de envelhecer?
Marisa - Eu me cuido muito para
cruzar a vida saudável, principalmente saudável. Eu acho legal envelhecer, não me incomoda. É um
tributo que se paga por estar vivo.
Acho que as transformações são
lentas e dá para se acostumar.
Folha - Você pretende ter filhos?
Marisa - Eu não estou planejando ter filhos agora. E, agora, as
mulheres têm filhos com até 45
anos.
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