Campinas, Sexta-feira, 16 de Março de 2001

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ENTREVISTA

"Venda ou não venda, estou feliz"


CRISTINA CAROLA
DA REDAÇÃO, EM SÃO PAULO

Após bater a marca de 1 milhão de cópias vendidas do CD "Memórias, Crônicas e Declarações de Amor", o quinto da carreira, a cantora e compositora carioca Marisa Monte, 33, continua sua turnê, fazendo duas passagens na região, em Jundiaí (no próximo dia 20) e Campinas (22). Entre um show e outro -serão 11 nos próximos 17 dias-, ela deu entrevista, por telefone, à Folha.

Folha - Além das canções do novo CD, o que mais o público vai poder ouvir no show?
Marisa Monte -
Música de todos os discos, meu trabalho como produtora e compositora, e músicas que eu nunca gravei, como "Ontem ao Luar", de 1918. Tem também uma música do Roberto (Carlos) e do Erasmo (Carlos), "Eu Te Amo, Eu Te Amo".

Folha - O show muda para a turnê pelo interior?
Marisa -
Não, é igualzinho. São duas carretas que levam todo o equipamento, toda a estrutura cênica. É uma escultura em tecido do Ernesto Neto onde a projeção e luz acontece, tem planos de profundidade diferente...

Folha - Como você escolheu o figurino desse show? A roupa tem a ver com a música ou com você?
Marisa -
Primeiro, é uma roupa de trabalho, tem de ser confortável, que não atrapalhe nada, respiração. É uma roupa que eu acho que tem a ver com o todo, é branca e preta, são duas roupas. Na verdade é uma roupa só, mas uma preta e outra branca, mas é a mesma roupa.

Folha - Por que você não lança um CD por ano?
Marisa -
Porque eu faço turnês enormes. Só na estrada é um ano e meio a dois anos para cada CD. Fora que eu não faço só isso, eu produzo para os outros, componho. Não acho justo só trabalhar, tem de ter um pouco de outras atividades, estudar, ver o show dos outros, tem de ler, tem de ouvir música, conversar, viajar sem estar trabalhando. O tempo de criação é uma coisa subjetiva, tem um tempo de maturação.

Folha - Você já sofreu pressão de gravadoras?
Marisa -
Não. O trabalho deles é vender e distribuir, não é criar nem fazer o trabalho do artista. Eles têm consciência disso, sabem disso e adoram encontrar um artista que faça o seu trabalho.

Folha - Nunca exigiram que você vendesse discos?
Marisa -
Meus trabalhos sempre venderam muito. Eu trabalho muito, ralo para caramba, mas não tenho o menor controle sobre a aceitação que o meu trabalho vai ter. Mas tenho o controle sobre a minha dedicação e o compromisso com a arte que eu tenho no meu trabalho. Venda ou não venda, eu estou feliz.

Folha - Quando você estreou como compositora?
Marisa -
No "Mais", com a música "Eu Sei".

Folha - Quem são seus parceiros preferidos para compor?
Marisa -
Acho que são os mais frequentes, mais constantes, mais, vamos dizer, os que têm um trabalho mais sólido, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. São pessoas com quem eu trabalho há dez anos, compondo. Mas tem milhões de outros parceiros com quem eu componho também e tem parceiros com quem eu faço música, como Cláudio Torres, Terezinha de Jesus, como Lula Buarque de Holanda, pessoas com quem eu trabalho há 15 anos.

Folha - Que tipo de música você gosta mais de gravar, músicas intimistas ou que possam estar na "boca do povo", como o hit "Amor I Love You", do último CD?
Marisa -
Eu não gosto mais de nada, eu gosto também.

Folha - Quando você gravou "Amor I Love You", você achava que fosse "estourar"?
Marisa -
Eu gostava muito, adorava, cantava para os amigos há mais de um ano. Eu achei que valia a pena gravar, se ela iria chegar ao coração das pessoas ou não, só o tempo poderia dizer.

Folha - Alguns rotulam a Marisa Monte como cantora "cult". Você gosta desse rótulo?
Marisa -
Eu adoro que falem que eu sou cult, mas eu não sou cult. Eu sou cult nos EUA e na Europa. Se é cult, como pode vender mais de 1 milhão de cópias? Aqui eles confundem, acham que um trabalho de qualidade não pode ser popular.

Folha - A sua "parceria" com o samba vai continuar nos próximos CDs?
Marisa -
Eu tenho uma relação com a Portela. Eu trabalhei com a Velha Guarda no "Mais", no "Cor de Rosa e Carvão". Depois eu produzi o disco deles, em 99, também gravei com eles. Eu conheço a história deles. Eu amo samba.

Folha - O que você gosta de escutar?
Marisa -
Coisas diferentes, Morenos, Paulinho da Viola, Carlinhos Brown. Gosto de eletrônico leve, clássicos, Stevie Wonder, soul black americana, velhas guardas, Roberto Carlos. Tudo? Tudo não.

Folha - Quanto tempo levou a produção do CD "Memórias, Crônicas e Declarações de Amor?
Marisa -
33 anos, esse trabalho levou 33 anos. O trabalho de estúdio, da pré-produção até o lançamento, seis meses, no mínimo.

Folha - "Memórias" não foi gravado só no Brasil. Por quê?
Marisa -
Na Bahia, no Rio de Janeiro e em Nova York. Por causa dos músicos que eu conheço e que moram nessas cidades.

Folha - Qual a média de shows que você faz por mês?
Marisa -
Por mês eu faço uma média de 12 a 15 shows, uns meses mais, outros menos. Minhas turnês são muito concentradas. Agora, eu vou fazer 11 shows em 17 dias no interior de São Paulo e Paraná - Maringá, Bauru, Ribeirão, Jundiaí.

Folha - A bossa nova e o tropicalismo foram movimentos que marcaram a MPB. Hoje, existe algum movimento no mesmo sentido?
Marisa -
O rock dos anos 80. Eu acho, eu não vejo uma articulação de geração tão grande como foi o tropicalismo. Acho que o movimento do rock teve uma política geracional enorme, revelou nomes, atitudes, pensamentos.

Folha - Quais são seus três cantores e cantoras preferidos?
Marisa -
Tim Maia, João Gilberto e Roberto Carlos. Eu gosto da Elizeth Cardoso, Carmem Miranda e Gal Costa. Eu poderia listar 50 nomes, mas você pediu só três.

Folha - Você tem medo de envelhecer?
Marisa -
Eu me cuido muito para cruzar a vida saudável, principalmente saudável. Eu acho legal envelhecer, não me incomoda. É um tributo que se paga por estar vivo. Acho que as transformações são lentas e dá para se acostumar.

Folha - Você pretende ter filhos?
Marisa -
Eu não estou planejando ter filhos agora. E, agora, as mulheres têm filhos com até 45 anos.


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