Campinas, Terça-feira, 17 de Julho de 2001

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SOB SUSPEITA
Comissão dos Direitos Humanos considera o conteúdo da "Humanus" anti-semita; editora nega acusações
Assembléia analisa suposto neonazismo

ADEMAR MARTINS FERREIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo informou ontem que deve apurar a acusação de anti-semitismo supostamente cometida pela revista "Humanus", publicada pela editora Sama, de Campinas.
O presidente da comissão, Renato Simões (PT), afirmou que também repassou as informações para o Gradi (Grupo de Repressão e Análise de Delitos de Intolerância) da Secretaria da Segurança Pública.
Simões afirmou ontem, por meio da sua assessoria de imprensa, que um grupo de avaliação da Comissão de Direitos Humanos concluiu, no último mês de abril, que a "revista possui conteúdo neonazista".
A editora Sama, responsável pela publicação da "Humanus", contestou que a revista tenha conteúdo neonazista.
A empresa informou, por meio de nota, que a revista não faz apologia ao anti-semitismo.
O caso é investigado há cerca de três meses pelo 1º Distrito Policial de Campinas a pedido do Ministério Público Federal. A Promotoria recebeu a acusação de um estudante, que considerou discriminação contra judeus a edição deste ano da revista "Humanus".
A revista traz artigos sobre a uma suposta semelhança entre o judaísmo e o nazismo, segundo a representação ao Ministério Público. Na capa, a revista traz uma fotomontagem que reúne imagens do ditador Adolph Hitler (1888-1945) e do físico Albert Einstein (1879-1955).
O filósofo responsável para fazer a avaliação da "Humanus" na comissão, Arnaldo Valentim Silva, 30, disse ontem, que em uma primeira avaliação, a revista faz uma série de "colagens" de textos de teóricos e tenta divulgar idéias anti-semitas.
"A revista atua de maneira muito sutil na divulgação de suas idéias, o que torna difícil a percepção do seu teor preconceituoso", disse Silva.
A Comissão de Direitos Humanos informou que deve contatar hoje a sua advogada para juntar documentos e tomar medidas legais contra a publicação.
Para o deputado Simões, a revista se vale da ciência para corroborar uma postura preconceituosa e reacionária. "Na minha opinião, a "Humanus" apresenta suas idéias preconceituosas sob um pseudo manto de validação científica", afirmou.
A comissão informou também que está acompanhando o andamento do inquérito no 1º DP.

Precaução
O estudante de direito da Unip (Universidade Paulista) que foi o autor da representação no Ministério Público Federal de Campinas afirmou ontem que a medida foi adotada assim que ele teve acesso à revista.
"Eu a considerei ofensiva aos judeus", disse o estudante, que pediu para não ter seu nome divulgado por temer represálias.
O delegado responsável pelo caso, Miguel Voigt, disse que a previsão para o encerramento do inquérito é de dois meses. Voigt não quis comentar o andamento do inquérito porque a divulgação pode atrapalhar as investigações, segundo ele.


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