Campinas, Domingo, 17 de Outubro de 1999

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VIOLÊNCIA NO INTERIOR
Sumaré é a 21ª mais violenta do Estado e tem 3,5 vezes mais mortes que Americana

Marcos Peron/Folha Imagem
Lucinéia Lima, com a filha, no bairro São Domingos, em Sumaré


GUSTAVO PORTO
da Folha Campinas
ANA PAULA SCINOCCA
free-lance para a Folha Campinas

Dados do SUS (Sistema Único de Saúde) apontam uma alta incidência de violência em Sumaré. A cidade ocupa a 85ª posição no ranking nacional e a 21ª no estadual de assassinatos ocorridos em 1997.
Com 174.802 habitantes, a cidade registrou 47,5 homicídios por grupo de 100 mil moradores. Em Americana, distante cerca de dois quilômetros de Sumaré, a taxa de homicídio é de 13,41.
Nessa mesma época, Americana tinha uma população de 171.462 habitantes e 23 homicídios registrados.
Com população semelhante, de 164.998 habitantes, a também vizinha Santa Bárbara d'Oeste registrou uma taxa de 16,36 homicídios por grupo de 100 mil habitantes.
Os assassinatos em Sumaré só perdem para o câncer, que matou 119 pessoas, e problemas de circulação sanguínea, com 166 mortes. No total, 927 pessoas morreram em Sumaré em 97.
Para a comerciante Lindinaura Nascimento Manhaz, 45, a onda de violência na cidade está insuportável.
Há sete meses, ela viu seu irmão ser assassinado com três tiros em plena luz do dia, no bar da família, localizado no Jardim Nova Terra. "Além da violência, temos que conviver com a impunidade", criticou a comerciante.
No Jardim São Domingos, na periferia de Sumaré, a população também está amedrontada. Na última semana, a maior parte dos moradores do bairro viu, durante o dia, um tiroteio entre a polícia e ladrões de carros.
A dona-de-casa Lucinéia Anastácio de Lima, 20, saiu de Garça (SP) há 12 anos com a família em busca de trabalho em Sumaré. "Lá só podíamos trabalhar na roça. Aqui, nem roça há mais, e ainda temos que conviver com muita violência".

Dados
Levantamento feito pela Folha aponta que a maioria absoluta dos assassinatos está concentrada em apenas cem cidades.
Apenas 13% das 5.506 cidades, entre elas Sumaré, registraram uma taxa de homicídio superior à média do país em 1997, de 25,4, por 100 mil habitantes.
Foram considerados no levantamento os municípios com mais de 20 mil habitantes, que reúnem cerca de 80% da população e 90% dos homicídios.

Causas
A demógrafa e pesquisadora do Nepo (Núcleo de Estudos de População) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Rosana Baeninger, culpa a falta de infra-estrutura urbana pela violência.
Segundo ela, Sumaré foi a segunda cidade que mais cresceu na década de 80 no Brasil, com índices de 16% ao ano, só perdendo para Ji-Paraná (RO).

Transferência
Os dados do SUS apontam ainda que Hortolândia, que antes pertencia a Sumaré, já nasceu violenta.
Apesar de ter uma taxa menor do que a de Sumaré, com 30,85 homicídios por 100 mil habitantes, a cidade, emancipada em 91, tem um índice quase três vezes maior que Indaiatuba e Mogi Guaçu, com números semelhantes de habitantes.
Colaborou José Roberto Toledo, da Reportagem Local


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