Campinas, Sexta-feira, 18 de Agosto de 2000


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SAÚDE
Administrador do único hospital de Vinhedo apura irregularidades, recebe ameaças por telefone e abandona o cargo
Santa Casa tem dívida de R$ 20 milhões

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Um mês e meio após ter assumido a administração da Irmandade Santa Casa de Vinhedo (16 km de Campinas), o médico anestesista Luiz Alberto Martini Miguel deixou o cargo alegando estar recebendo ameaças por meio de telefonemas anônimos.
Ele teria descoberto que a dívida da Irmandade chegava a R$ 20 milhões, e não a R$ 3 milhões, como mostrou uma auditoria realizada na Santa Casa há dois anos, além de irregularidades na administração do hospital.
O estabelecimento não deposita o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) dos 220 funcionários e tem dívidas com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e com o IR (Imposto de Renda), de acordo com o auditor da Santa Casa, Reinaldo Motta Miranda.
Ele disse que a dívida com o INSS chega a R$ 5 milhões, e com o IR, a R$ 10 milhões.
Na carta encaminhada por Miguel à provedoria da Santa Casa, ele justifica o afastamento "visando a integridade física de seus familiares, haja vista as constantes ameaças anônimas que vem sofrendo". A Folha teve acesso à carta ontem.
As ameaças teriam começado depois que Miguel descobriu supostas irregularidades no hospital, por meio de uma fiscalização nas contas. "A desorganização administrativa que encontrei (no hospital) quando assumi são apenas a ponta de um iceberg de irregularidades", diz Miguel na carta.
A Folha não conseguiu localizar o administrador ontem.
O hospital está passando por uma auditoria do INSS e contratou uma empresa para fazer um revisão contábil.
A empresa também vai analisar as contas do hospital retroativas aos anos de 98 e 99.

Auditoria
Há dois anos a Santa Casa passou por uma auditoria, que constatou uma dívida de R$ 3 milhões. O relatório foi encaminhado ao Ministério Público.
O INSS informou, por meio de sua assessoria, que o débito pode ser constituído somente após o término da fiscalização.
Um fiscal do INSS está fazendo uma vistoria de rotina no hospital há um mês e meio e deve levar igual período para concluí-la.
De acordo com o instituto, a fiscalização é demorada devido ao volume de documentos que têm de ser analisados.
Miranda disse que também está realizando uma auditoria nos procedimentos médicos.
Ele não divulgou as irregularidades que já foram constatadas, mas adiantou que encaminhará um relatório com as denúncias ao Ministério Público.
Segundo Miranda, as contas foram acumulando porque a entidade não renovou o certificado de entidade filantrópica. "Para fins legais, o hospital funciona como entidade privada."
O provedor da Santa Casa, José Pedro Cahun, disse não acreditar que as dívidas cheguem a R$ 20 milhões.
Há dois anos, Miranda encaminhou documentação ao Ministério Público denunciando a compra superfaturada de remédios.
Na época, ele era diretor clínico do hospital e dizia ter localizado as notas fiscais por acaso.
Os documentos entregues à Promotoria pediam a revisão do estatuto da irmandade, a participação dos médicos na administração e a auditoria nas contas do hospital. O relatório também pedia a desvinculação das contas do Plano Santa Casa Saúde com as contas da Santa Casa.


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