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SAÚDE
Administrador do único hospital de Vinhedo apura irregularidades, recebe ameaças por telefone e abandona o cargo
Santa Casa tem dívida de R$ 20 milhões
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
Um mês e meio após ter assumido a administração da Irmandade Santa Casa de Vinhedo (16
km de Campinas), o médico anestesista Luiz Alberto Martini Miguel deixou o cargo alegando estar recebendo ameaças por meio
de telefonemas anônimos.
Ele teria descoberto que a dívida
da Irmandade chegava a R$ 20
milhões, e não a R$ 3 milhões, como mostrou uma auditoria realizada na Santa Casa há dois anos,
além de irregularidades na administração do hospital.
O estabelecimento não deposita
o FGTS (Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço) dos 220 funcionários e tem dívidas com o
INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e com o IR (Imposto de
Renda), de acordo com o auditor
da Santa Casa, Reinaldo Motta
Miranda.
Ele disse que a dívida com o
INSS chega a R$ 5 milhões, e com
o IR, a R$ 10 milhões.
Na carta encaminhada por Miguel à provedoria da Santa Casa,
ele justifica o afastamento "visando a integridade física de seus familiares, haja vista as constantes
ameaças anônimas que vem sofrendo". A Folha teve acesso à
carta ontem.
As ameaças teriam começado
depois que Miguel descobriu supostas irregularidades no hospital, por meio de uma fiscalização
nas contas. "A desorganização
administrativa que encontrei (no
hospital) quando assumi são apenas a ponta de um iceberg de irregularidades", diz Miguel na carta.
A Folha não conseguiu localizar
o administrador ontem.
O hospital está passando por
uma auditoria do INSS e contratou uma empresa para fazer um
revisão contábil.
A empresa também vai analisar
as contas do hospital retroativas
aos anos de 98 e 99.
Auditoria
Há dois anos a Santa Casa passou por uma auditoria, que constatou uma dívida de R$ 3 milhões.
O relatório foi encaminhado ao
Ministério Público.
O INSS informou, por meio de
sua assessoria, que o débito pode
ser constituído somente após o
término da fiscalização.
Um fiscal do INSS está fazendo
uma vistoria de rotina no hospital
há um mês e meio e deve levar
igual período para concluí-la.
De acordo com o instituto, a fiscalização é demorada devido ao
volume de documentos que têm
de ser analisados.
Miranda disse que também está
realizando uma auditoria nos
procedimentos médicos.
Ele não divulgou as irregularidades que já foram constatadas,
mas adiantou que encaminhará
um relatório com as denúncias ao
Ministério Público.
Segundo Miranda, as contas foram acumulando porque a entidade não renovou o certificado de
entidade filantrópica. "Para fins
legais, o hospital funciona como
entidade privada."
O provedor da Santa Casa, José
Pedro Cahun, disse não acreditar
que as dívidas cheguem a R$ 20
milhões.
Há dois anos, Miranda encaminhou documentação ao Ministério Público denunciando a compra superfaturada de remédios.
Na época, ele era diretor clínico
do hospital e dizia ter localizado
as notas fiscais por acaso.
Os documentos entregues à
Promotoria pediam a revisão do
estatuto da irmandade, a participação dos médicos na administração e a auditoria nas contas do
hospital. O relatório também pedia a desvinculação das contas do
Plano Santa Casa Saúde com as
contas da Santa Casa.
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