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CASO SHELL
Secretário afirma que 70% dos moradores apresentam intoxicação
Relatório pede remoção de famílias
DA FOLHA CAMPINAS
A Secretaria Municipal da Saúde de Paulínia entrega hoje ao
prefeito da cidade, Edson Moura
(PMDB), o relatório final dos exames feitos nos moradores do bairro Recanto dos Pássaros.
O documento pede a intervenção da área e remoção imediata de
todos os moradores do bairro.
Segundo o secretário municipal
da Saúde de Paulínia (17 km de
Campinas), José Nino Meloni,
86% dos 181 moradores examinados têm algum tipo de contaminante no organismo -metal pesado ou drins.
No entanto 70% da população
que se submeteu ao exame está
intoxicada, segundo o secretário.
Os exames laboratoriais patrocinados pela prefeitura foram realizados pelo Ceatox (Centro de
Análises toxicológicas) da Unesp
(Universidade Estadual Paulista),
de Botucatu (SP).
Os moradores querem deixar o
local, mas afirmam não ter condições financeiras.
O prefeito quer negociar com a
Shell a remoção dos moradores.
Moura se comprometeu a remover os moradores, caso a empresa
não queira fazê-lo, mas afirmou
que vai cobrar da Shell na Justiça.
De acordo com o secretário, a
remoção é necessária para que o
tratamento possa ser realizado.
Os exames serão entregues aos
moradores a partir da próxima
semana, individualmente. O calendário com o dia exato ainda
não foi definido, de acordo com o
secretário da Saúde.
Uma copia do relatório será enviada pela prefeitura ao Ministério Público e à Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental).
As investigações sobre a saúde
dos moradores do Recanto dos
Pássaros estão sendo feitas separadamente do inquérito sobre a
contaminação do ambiente.
A Shell Brasil realizou exames
em 159 pessoas, entre moradores
e ex-moradores do bairro.
Com base nos exames realizados pelos laboratórios Fleury e o
norte-americano ABC, a empresa
descartou a contaminação na população examinada.
Em entrevista anterior à Folha,
o prefeito afirmou que apenas 30
pessoas fizeram exames com a
Shell e com a prefeitura.
O relatório com o índice de contaminados está sendo aguardado
pela Shell Brasil, responsável pela
contaminação do bairro.
Em 94, a empresa protocolou
uma autodenúncia no Ministério
Público de Paulínia, na qual
apontava sua responsabilidade
pela contaminação.
A empresa, que atuou em Paulínia entre 74 e 93, iniciou o processo de descontaminação na área
após assinar um acordo com a
Promotoria, em 95.
A multinacional informou ontem, por meio de sua assessoria de
imprensa, que só vai se pronunciar sobre a remoção dos moradores depois que tiver conhecimento do documento.
A Shell está convocando os funcionários que trabalharam no
centro industrial de Paulínia de
1977 a 1995 para "participarem,
em caráter voluntário e sem qualquer ônus, de um programa de
avaliação do estado de saúde".
De acordo com a empresa, o
programa "consiste em check-up
individual a ser realizado em serviço médico localizado em Campinas". O programa estará disponível por quatro meses.
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