Campinas, Quinta-feira, 24 de Maio de 2001

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AMBIENTE
Moradores de Paulínia dizem acreditar que possibilidade de compra do terreno seria uma "manobra" da empresa
Shell estuda comprar área contaminada

DA FOLHA CAMPINAS

A Shell Brasil anunciou que pode comprar a área contaminada por drins (pesticidas) no bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia (17 km de Campinas).
O anúncio, feito pelo vice-presidente da empresa, Gilbert Landsberg, durante reunião com moradores no Rio, foi confirmado ontem pela Shell, por meio de sua assessoria de imprensa.
No entanto a empresa informou que a possibilidade de compra da área contaminada é remota, pois só seria realizada se não fosse possível a descontaminação do solo e da água do bairro.
A empresa não informou quanto pagaria pelas 66 chácaras do entorno do antigo site da Shell.
A multinacional reafirmou que fará tudo o que for possível para recuperar a área e preservar o bem-estar dos moradores.
A empresa anunciou que deve gastar US$ 2 milhões para recuperar a área contaminada.
Parte da área contaminada está localizada dentro da fábrica da Basf, empresa alemã que também produz defensivos agrícolas.
A Shell apresentou, há uma semana, a última parte da proposta de descontaminação da área à Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo).
Para o representante dos moradores do Recanto dos Pássaros Vicente de Paulo Souza, "a hipótese de compra dos terrenos é mais uma manobra da Shell".
"Eu duvido que a Shell faça alguma coisa. Ela mesma disse que não compraria as terras, pois os moradores não queriam deixar o local", afirmou Souza.
Ele disse que está elaborando um documento no qual os moradores pedem para deixar o bairro. Segundo Souza, o documento já conta com a assinatura de 30 proprietários de chácaras.
Souza disse que pretende entregar uma cópia do documento à Shell e outra ao Ministério Público de Paulínia.

Descontaminação
A Cetesb ainda está analisando parte da proposta e, só então, vai autorizar o início dos trabalhos.
A Cetesb informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que um dos estudos entregues pela Shell é o do monitoramento de toda a área da fábrica, incluindo as chácaras no entorno.
O plano de monitoramento para investigar se há contaminação do solo ou das águas subterrâneas por drins, solventes e metais pesados nas chácaras foi aprovado ontem pela agência.
A aprovação autoriza a empresa a iniciar o trabalho de coleta de material a partir da próxima semana, segundo a Cetesb.
O estudo será acompanhado por técnicos da Cetesb que auditará os resultados. De acordo com a agência, serão coletadas amostras de solo em cada uma das chácaras, além da coleta de água nos poços existentes.
A Cetesb informou que as análises dos planos para a construção da barreira hidráulica, remoção do solo e análise de alimentos produzidos nas chácaras devem ser concluídos nos próximos dez dias.
A proposta de descontaminação do Recanto dos Pássaros será discutida hoje na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em um debate técnico sobre a contaminação da Shell. O risco de exposição aos drins também será debatido.
Ontem, a Shell recorreu da multa de R$ 93 mil aplicada pela Cetesb, no último dia 4 de maio.
A empresa foi multada por descumprir a determinação da Cetesb de remover 1.200 toneladas de solo contaminado e instalar uma barreira hidráulica para impedir o avanço dos drins na água.
O teor do recurso, protocolado na agência ambiental de Paulínia, não foi divulgado pela empresa.


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