Campinas, Domingo, 24 de Setembro de 2000

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OPINIÃO
O Brasil rumo à sociedade da informação

VANDA SCARTEZINI
Com opiniões otimistas ou pessimistas, motivadas por interesses particulares ou públicos, o fato de o Brasil estar ou não traçando caminhos adequados para transportar-nos para a sociedade da informação passou a fazer parte do imaginário popular e, sem poder precisar o que começou primeiro, passou a ocupar importante espaço na mídia.
O importante é termos visão clara do cenário brasileiro das tecnologias da informação e o que podemos esperar em um futuro breve, conhecendo aonde queremos chegar. Dados sobre desempenho dos países, entre eles o Brasil, nas áreas das tecnologias da informação são quase sempre divididos pelo número de habitantes. As contas, que nos levam a números pequenos devido à nossa população, parecem nos tornar irrelevantes, como tornam irrelevante o mercado chinês.
Embora tenhamos consciência do muito que há por fazer nessa área no país, a realidade das novas tecnologias de países continentais como o nosso não pode ser traduzida em frios números "per capita", sob risco de se ter uma distorcida visão das oportunidades de mercado que o país apresenta.
Há duas verdades nos números, e a mais importante é que os números globais, e não "per capita", do nosso mercado, têm sido tão significativos que, só no último semestre, 80 novas empresas iniciaram produção desses bens no país, e 300 novos produtos manufaturados no Brasil entraram no mercado.
Para entender como o Brasil está no jogo, é importante ter algum conceito da sociedade da informação. Definida de uma forma simplista, é uma sociedade em que alimentar-se de informação passe a ser tão natural e corriqueiro como alimentar-se fisicamente; em que o acesso à informação on line, por todos, de forma não discriminada, assim como o uso das facilidades para prover serviços, públicos ou privados, passe a ser a realidade do dia-a-dia. O acesso de todo cidadão à Internet é, portanto, a meta principal.
O cidadão pode entender com alguma facilidade sua interface com a Internet. O que não é tão transparente é o arcabouço necessário que um país precisa construir para que o cidadão tenha seu acesso à Internet de maneira fácil.
Trata-se de uma imensa malha de meios de comunicação, fios telefônicos, canais de microondas, redes de fibras ópticas, centrais telefônicas, satélites, computadores. É esse entendimento, em números inteiros, que podem ajudar a responder às perguntas de todos nós: será que o Brasil está construindo esse arcabouço? Qual a velocidade em que o estamos construindo? A população pode esperar estar participando em breve dessa sociedade? Como incluir os que hoje estão excluídos?
As telecomunicações são, sem dúvida, uma das pilastras desse arcabouço, não somente pelos atuais cerca de 30 milhões de telefones fixos e de 19 milhões de celulares já em operação no país, mas principalmente pela velocidade desse crescimento que, em 99, atingiu 25% nos fixos e 83% nos celulares.
A Internet é outra pilastra do arcabouço, com perto de 300 mil nomes de domínio (.com;.org;.gov etc.) em agosto deste ano, com crescimento de mais de 2.000 novos domínios por mês. O número de "hosts" (servidores para simplificar), com mais de 400 mil em janeiro deste ano, nos colocava em uma honrosa posição de 13º no mundo, à frente de Espanha, México, Noruega, Dinamarca, Bélgica, Suíça e Coréia.
Cerca de 500 provedores de acesso atendem a um mercado crescente, com média de cobrança de US$ 12, mais barato que a maioria dos países desenvolvidos, o que permite a aceleração desejada do acesso à informação.
A disponibilidade de computadores e outros meios, como os conversores de Internet especiais para TV aberta, que começam a ocupar espaço no país, compõem a terceira pilastra do arcabouço necessário para a sociedade da informação. O número de computadores em uso por aqui soma cerca de 11 milhões de unidades. Ano passado, estávamos em 8º lugar em número de micros comercializados no mundo.


Vanda Scartezini é secretária de Política de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia


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