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C.S.I. Paulista

Cientistas brasileiros reconstroem rosto digitalmente a partir do formato de um crânio, trabalho que parece saído de série de TV

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Uma dupla conseguiu o que, até agora, não passava de ficção científica no Brasil: reconstruir digitalmente a aparência de um rosto a partir do formato do crânio.

O trabalho, divulgado na revista "Unesp Ciência", está restrito ao laboratório, mas os cientistas dizem que ele tem potencial para ser difundido, ajudando a identificar corpos quando não houver outras pistas.

A técnica localiza 21 pontos específicos no crânio -os chamados pontos craniométricos- e atribui a eles uma determinada espessura cutânea. É como se os cientistas ficassem com uma "receita" para preencher a pele e modelar o rosto.

Esse método é um sonho antigo de Clemente Maia da Silva Fernandes, que apresentou parte do projeto em seu doutorado em odontologia na USP.

"A reconstrução facial pode ajudar a esclarecer casos em que a polícia não tem por onde começar. A imagem do rosto recriado poderia circular por delegacias, hospitais, ou mesmo ser divulgada na mídia. Uma família que procura alguém teria mais chances de sucesso."

COBAIA

A primeira reconstrução, no entanto, foi feita com uma pessoa bem viva: a outra cientista responsável pelo trabalho, Mônica da Costa Serra, da Faculdade de Odontologia de Araraquara da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

Para começar o trabalho, os cientistas obtiveram um "molde" do crânio da professora. Esse processo começa com uma tomografia.

Como em outros exames médicos, a imagem gerada pela tomografia é, na verdade, a união de pequenas "fatias" da área escaneada.

Os cientistas usam um software para reconstruir e juntar essas fatias.

Depois, porém, todos os tecidos moles (como as bochechas) são removidos das imagens, para simular ao máximo uma situação real.

A imagem é enviada a um programa que faz a modelagem 3D do crânio. Um técnico treinado, então, aplica sobre esse crânio os dados para a reconstrução e o rosto é, finalmente, redesenhado.

Depois de todo esse processo, os cientistas podem imprimir o resultado em gesso usando uma impressora 3D.

Em um primeiro trabalho, testes com 30 voluntários indicaram que 26,67% identificaram o rosto de Serra em meio a fotos de outras mulheres entre 30 e 50 anos. Outros dois rostos, porém, foram bastante apontados pelos voluntários como sendo da pesquisadora. O resultado, contudo, foi considerado positivo pela dupla.

"Sair de um universo sem nenhuma pista do morto para um limitado a três possíveis candidatos é bastante significativo", diz Serra, que ressalta que a confirmação da identidade terá de vir por dados odontológicos e material genético.

O trabalho, porém, esbarra num problema de estrutura: a ausência de um laboratório em Araraquara, na Unesp. Todos os testes são realizados no CTI (Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer), em Campinas, onde ambos são pesquisadores associados. O centro cede suas instalações e o uso dos softwares.

Apesar das dificuldades, os cientistas continuam com as pesquisas. Em observações preliminares, eles viram que o sucesso no reconhecimento aumenta quando as pessoas têm acesso à "escultura" de gesso, e não apenas à imagem na tela. "Estamos investigando isso", diz Fernandes.

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