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Como desenhar um dinossauro

Ilustradores científicos unem arte e conhecimento para dar formas e cores a criaturas pré-históricas

Felipe Alves Elias
Concavenator corcovatus, dinossauro que teria vivido há 130 milhões de anos
Concavenator corcovatus, dinossauro que teria vivido há 130 milhões de anos

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Eles nunca viram um dinossauro andando ou deram de cara com qualquer outro bicho pré-histórico. Ainda assim, cabe aos ilustradores científicos dar vida ao que os cientistas descobrem sobre esses animais.

O trabalho é uma mistura de arte e conhecimento acadêmico, que exige, além de talento para ilustrações, uma boa dose de criatividade para criar imagens atraentes para o público leigo e, ainda assim, impecáveis sob a perspectiva científica.

"É um processo muitas vezes longo e cansativo, mas ver o resultado final é muito gratificante", diz Felipe Alves Elias, biólogo e ilustrador.

Para recriar dinossauros e outros animais pré-históricos, os artistas costumam mergulhar nos artigos acadêmicos que descrevem as espécies e seus "parentes".

O PROCESSO

No caso de um bicho recém-descoberto, é comum que os pesquisadores passem um conjunto de informações sobre a espécie, que inclui suas principais características físicas, hábitos alimentares e ambiente em que viveu.

"O ideal é que haja contato com o fóssil. Ver de perto permite perceber vários detalhes importantes na hora de criar a imagem", diz o ilustrador, que também trabalha no Museu de Zoologia da USP.

Depois, é hora de arregaçar as mangas e fazer os primeiros esboços.

Definir a aparência de criaturas extintas há milhões de anos requer paciência. Ossos fossilizados dão um bom indicativo da estrutura, mas detalhes como cores, pele e penas são mais complexos.

Os cientistas buscam também características de espécies "parentes" dos fósseis. No caso de dinossauros, galinhas e outras aves que podem ter evoluído dos bichos pré-históricos dão boas pistas sobre eles.

Nos últimos anos, porém, o avanço de técnicas refinadas está levando o conhecimento sobre algumas espécies -e consequentemente suas concepções artísticas- a um outro patamar.

PLÁSTICA

Quando os fósseis preservam tecidos moles, é possível empregar algumas técnicas que identificam, por meio da composição química, que cor, afinal, o bicho tinha. Isso melhora bastante a fidelidade do desenho à criatura real.

Um exemplo recente é o do pequeno dinossauro Anchiornis huxleyi. Em 2010, uma pesquisa usando a nova técnica fez uma verdadeira cirurgia plástica em sua "foto oficial" (ver quadro ao lado), que o deixou menos com cara de frango e mais com jeitão de pica-pau.

Ser formado na área científica é um diferencial, mas não é obrigatório. Muitos artistas consagrados na ilustração científica são graduados em artes, computação e outras profissões.

"Como biólogo e pesquisador da área de paleobiologia, acho que o resultado final fica mais preciso", avalia Elias.

"No Brasil não há cursos de longos específicos de arte paleontológica. Muito se aprende na prática e no contato com outros artistas."

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