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Dalai-Lama quase causa saia-justa durante a Eco-92

DE BRASÍLIA

No dia 21 de dezembro de 1991, o Itamaraty autorizou o embaixador em Washington, Rubens Ricupero, a conceder visto de turista a um certo Lodi Gyari, cidadão indiano.

De próprio punho, no telegrama, o chanceler Francisco Rezek explica "para exclusivo conhecimento de Vossa Excelência" que a visita está ligada a um dos episódios mais pitorescos da Eco-92: a visita do Dalai Lama. Lodi Gyari, explicava a correspondência, era representante do religioso budista.

O líder tibetano criou uma saia justa para o Brasil ao decidir vir ao Fórum Global, o encontro das ONGs, que antecedeu a cúpula do Rio.

Os chineses, que anexaram o Tibete em 1951 e forçaram seu chefe espiritual ao exílio na Índia, avisaram que "a presença do Dalai Lama seria a não presença deles", nas palavras do ex-chanceler Celso Lafer. "Sem a presença da China eu não me sentiria em condições de tocar uma reunião como aquela", disse.

O Brasil foi buscar aconselhamento com o secretário-geral da ONU, o egípcio Boutros Boutros-Ghali.

"Ele mandou enganar o Dalai Lama", conta o ex-deputado Fabio Feldmann, que ajudou a organizar o fórum global. "Mandou dizer que iam dar o visto em Nova York e depois mandaram buscá-lo em Genebra."

Celso Lafer, hoje presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), é diplomático ao comentar o episódio:

"O secretário-geral não teve conversa direta comigo", conta. "Indiretamente, ele disse que a China era indispensável e que o Dalai Lama era menos relevante do ponto de vista da conferência."

A solução encontrada pelo Brasil foi trazer o tibetano na condição explícita de líder espiritual -e fazê-lo deixar o Rio de Janeiro no fim da primeira semana da Eco-92, antes da chegada dos chefes de Estado.

(CA e RV)

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