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Geógrafo Aziz Ab'Sáber morre aos 87 anos

Pesquisador unia estudos sobre relevo, biodiversidade e atividade humana com forte atuação na área ambiental

Seus estudos deram pistas sobre diversidade de espécies amazônicas e ajudaram a delimitar áreas para conservação

Silva Júnior - 15.nov.2011/Folhapress
O geógrafo Aziz Nacib Ab'Sáber recebe o troféu Juca Pato após ser eleito intelectual do ano em cerimônia de 2011
O geógrafo Aziz Nacib Ab'Sáber recebe o troféu Juca Pato após ser eleito intelectual do ano em cerimônia de 2011

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE “CIÊNCIA E SAÚDE”
MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

Aziz Nacib Ab'Sáber, pesquisador da USP e um dos maiores especialistas em geografia física do país, bem como uma voz ativa nos debates sobre biodiversidade e preservação ambiental, morreu às 10h20 de ontem, em São Paulo. Ele tinha 87 anos.

A notícia da morte foi dada pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), instituição que Ab'Sáber presidiu de 1993 a 1995 e da qual era presidente de honra e conselheiro.

"Ele tomou café, depois sentou na cama e deu um suspiro. Morreu em seguida", disse Nídia Pontuschka, irmã do geógrafo. Ela afirma que a causa da morte ainda não foi identificada, mas suspeita-se de infarto ou derrame.

LIBANÊS

Ab'Sáber nasceu em São Luís do Paraitinga (SP) em 24 de outubro de 1924. Seu pai era libanês. Passou a frequentar o curso de geografia e história da USP com apenas 17 anos e foi professor do equivalente ao atual ensino médio antes de começar a carreira acadêmica.

Uma das chaves do impacto da carreira do geógrafo foi a sua capacidade de transitar por diferentes áreas do conhecimento. Embora fosse essencialmente um geógrafo físico -cujo trabalho ajuda a entender o relevo de uma região, por exemplo-, Ab'Sáber integrava esse conhecimento com a distribuição dos seres vivos e da população humana na paisagem.

Foi isso que o ajudou, em parceria com o zoólogo Paulo Vanzolini, a pensar a teoria dos refúgios -a ideia de que a contração e expansão de áreas de mata na Amazônia, durante a Era do Gelo, teria ajudado a formar inúmeras "ilhas" com espécies únicas numa floresta que hoje parece ser contínua.

"A ideia dos refúgios foi fundamental para estabelecer áreas prioritárias de conservação na Amazônia", diz o ambientalista João Paulo Capobianco, do Instituto Democracia e Sustentabilidade.

O trabalho do pesquisador, aliás, ajudou a definir os mapas de formações vegetais brasileiras que estudantes e cientistas usam ainda hoje, reconhecendo as diferentes paisagens naturais que formam a mata atlântica, a Amazônia ou a caatinga.

Capobianco destaca ainda a capacidade de Ab'Sáber de unir o ativismo ambiental e político à excelência científica. Isso o levaria a se engajar na campanha das Diretas Já.

Embora já estivesse aposentado, Ab'Sáber continuava publicando livros e sendo um observador arguto das controvérsias políticas ligadas à questão ambiental.

Envolveu-se com a discussão do novo Código Florestal, que pode alterar as áreas de preservação obrigatórias em propriedades particulares.

Segundo a SBPC, o geógrafo criticou o texto por não considerar o zoneamento físico e ecológico de todo o país, deixando de lado a importância da diversidade de paisagens naturais no Brasil.

O estudioso também sugeriu a criação de um Código da Biodiversidade para proteger espécies da flora e da fauna.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota lamentando a morte de Ab'Sáber. "Seu profundo conhecimento da geografia e seu compromisso inabalável com o povo brasileiro foram inspiração para todos nós."

Por sua vez, Marco Antonio Raupp, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, declarou em nota que Ab'Sáber era "um brasileiro ímpar". "Aziz era dono de uma formidável capacidade de lançar ideias muito à frente do senso comum."

JOVENS

Segundo a presidente da SPBC, Helena Bonciani Nader, Ab'Sáber dava atenção especial aos estudantes e jovens pesquisadores.

"Ele se dedicava a todos, principalmente aos jovens. A ciência perde um batalhador, que lutou pelo que acreditava ser o melhor para o país."

O velório, que começou ontem, no Salão Nobre do prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, será reaberto hoje, às 8h. O enterro será às 11h no Cemitério da Paz, no Morumbi. Ab'Sáber deixa cinco filhos, seis netos e um bisneto.

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