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Foz do Amazonas afunda, diz pesquisa
Projeto de R$ 7 milhões financiado pela Petrobras tentará medir a taxa de submersão da região, que engloba dois Estados
Elevação do nível do mar
nos últimos milênios está
"entupindo" a saída de água
do rio; navegação pode ser
prejudicada, diz geólogo
Bruno Domingos - 06.abr.2004/Reuters
![](../images/d0101200701.jpg) |
Pororoca avança 30 km rio adentro em Arari, no Maranhão |
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A BELÉM
A foz do rio Amazonas está
afundando. Um grupo de pesquisadores financiados pela
Petrobras agora quer descobrir
quanto. Neste ano, o grupo do
projeto Piatam Mar tentará
medir o fenômeno pela primeira vez. O provável é que a taxa
de afundamento seja de alguns
poucos milímetros por ano.
A área em questão tem literalmente dimensões amazônicas. A boca do rio, em extensão,
mede 330 quilômetros, desde o
cabo Norte (Amapá) até a ponta da Tijoca (Pará). No meio do
caminho está a ilha de Marajó,
com seus nada modestos 40 mil
quilômetros quadrados.
"O nível do mar nunca esteve
tão alto nessa região", disse à
Folha o geólogo Pedro Walfir
Filho, coordenador do Lait (Laboratório de Análises de Imagens do Trópico Úmido) da UFPA (Universidade Federal do
Pará) e do projeto Piatam Mar
Mas, pelo menos nesse caso,
ainda não é possível saber se essa elevação do mar está relacionada com o aumento médio da
temperatura global -o que não
está totalmente descartado.
O que deve estar ocorrendo
na foz do Amazonas, rio que joga no Atlântico todos os anos
6,3 trilhões de metros cúbicos
de água (16% de toda a descarga
mundial) e 1,2 bilhão de toneladas de sedimento, é que a saída
desse corpo d'água, já na plataforma continental, está ficando
cada vez mais entulhada.
Com a elevação, o sedimento
trazido dos Andes pelo Amazonas vai se depositando em
maior quantidade logo depois
da foz, porque é barrado pela
coluna d'água maior, e acaba
chegando em menor quantidade ao oceano aberto. Esse peso
extra pode estar rebaixando a
crosta terrestre na região.
Além disso, a foz do Amazonas está em uma zona de tectonismo (movimento natural da
Terra, que gera os terremotos).
Isso, por si só, pode fazer com
que aquela parte do Brasil vá
entrando por baixo do Atlântico. "Há registros de sismos nesses locais. É famoso o terremoto que ocorreu em Belém em
1970", disse Walfir Filho.
Mesmo com toda essa dinâmica recente, o Amazonas continua cuspindo com vigor a lama que carrega. Os registros
dos pesquisadores mostram
que existe sedimento a mais de
200 quilômetros da costa. Esse
material também é distribuído
em todas as direções, e fornece
a base para os manguezais do
Pará, do Amapá e do Maranhão.
O mar nos últimos 18 mil
anos está 2 metros acima de seu
nível médio nesse período, segundo os levantamentos geológicos feitos por diversas equipes nos últimos anos.
Encalhes
Existe uma hipótese secundária para o afundamento da
boca do Amazonas. Segundo o
pesquisador paraense, tudo pode estar sendo ocasionado pelo
grande confronto de forças
aquáticas que ocorre no local.
"Talvez a crosta não esteja
exatamente afundando. Pode
ser que apenas o mar é que esteja subindo", explica. A conseqüência mais imediata de tudo
isso -não existe risco de Marajó desaparecer pelo menos nas
próximas décadas por causa
desse fenômeno-é que a navegação na foz do Amazonas poderá ficar mais complicada.
Com mais lama, algumas área
ficarão rasas demais e as embarcações poderão encalhar
onde hoje esse risco não existe.
Para tentar mapear toda essa
movimentação amazônica, os
pesquisadores montaram uma
verdadeira força-tarefa. Estão
envolvidos no projeto cientistas do Pará, do Amapá e do Maranhão. "Serão usados quatro
marégrafos [instrumentos que
medem o nível do mar], três estações de georreferenciamento
global [GPS] e 20 refletores,
que vão ajudar nas análises por
satélite", disse Walfir Filho.
Esses equipamentos de reflexão serão instalados em vários
pontos, explica o pesquisador,
inclusive no alto dos prédios de
Belém e de Macapá. "O custo de
projeto é de R$ 7 milhões. Serão feitas duas excursões científicas em 2007. Também serão
coletados dados biológicos."
Interesse
Como a plataforma continental brasileira é uma área
com grande potencial para a extração de petróleo,o interesse
mais direto da Petrobras no
projeto é fazer com que os cientistas montem o chamado mapa de vulnerabilidade da região.
"Existe também um levantamento dos dados socioeconômicos das comunidades de toda
a região. Isso é importante para
sabermos como agir", avisa
Walfir Filho.
Na prática, a partir do mapa,
será possível escolher se o óleo
eventualmente derramado em
alguma operação deverá ser direcionado para um manguezal,
normalmente usado pelas comunidades de pescadores para
extração de frutos do mar, ou
para uma praia, por exemplo.
A nova fase do projeto Piatam Mar, de dois anos, vai
abranger as áreas dos terminais
de Itaqui, em São Luís e a área
de proteção ambiental da ilha
dos Caranguejos (MA). No Pará, serão priorizados o porto de
Outeiro, e nos terminais de Miramar e Vila do Conde, além da
Reserva Extrativista de Soure.
No Amapá, os esforços serão
concentrados no porto de Santana e na Reserva Biológica de
Lago Piratuba, no Cabo Norte.
O jornalista Eduardo Geraque viajou a convite da
SBPC
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