São Paulo, quinta-feira, 01 de fevereiro de 2001

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MEDICINA

Ufscar elege quatro genes e proteínas para investigação, em busca de tratamentos para problemas como leucemia

Síndrome de Down cai na mira da genética

ISABEL GERHARDT
DA REPORTAGEM LOCAL

Fazer um cerco à síndrome de Down, que ataca no ritmo de 1 a cada 700 nascimentos, com as novíssimas armas da genômica e da proteômica. Essa é a tática do Laboratório de Biologia Molecular da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), que estuda quatro proteínas consideradas responsáveis por algumas características marcantes da síndrome.
O objetivo da pesquisa é entender o que essas proteínas fazem e, com isso, desenvolver drogas que atenuem problemas comuns em portadores da síndrome. Entre eles, leucemia e doença cardíaca.
Os genes que codificam as quatro proteínas ficam num segmento do cromossomo 21 chamado Região Crítica da Síndrome de Down (DSCR). "É uma região de cerca de 6 milhões de pares de bases (as letras químicas A, C, G e T do código genético), o equivalente a um quinto do cromossomo", disse à Folha Flávio Henrique da Silva, coordenador do projeto.

Bactérias e fungos
A síndrome de Down é causada pela presença nas células de três cópias (em vez de duas) do cromossomo 21 (veja quadro). Segundo o pesquisador, a simples triplicação da DSCR pode originar a síndrome. "Portanto, a superexpressão dos genes presentes nessa região deve ser responsável pela síndrome", diz Silva.
A estratégia do projeto, na etapa inicial, foi de introduzir os genes em bactérias e fungos, de maneira que esses microrganismos funcionassem como fábricas produtoras das proteínas, traduzindo a informação contida nas sequências do DNA.
O objetivo foi produzir as proteínas em grande quantidade, para que se pudesse obter o formato tridimensional que elas assumem. Em bioquímica, a forma determina a função.
Dos quatro genes, o que está com o trabalho mais adiantado é o DSCR1. A proteína que ele codifica é encontrada preferencialmente no cérebro e no coração. São órgãos, segundo Silva, "onde a síndrome mostra-se patente pelo retardo mental -comum a todos os portadores- e pelos problemas cardíacos (que atingem 40% dos portadores)".
Silva e sua equipe demonstraram que a proteína do DSCR1 está presente no núcleo das células. É nele que estão os cromossomos, estruturas feitas de DNA e proteínas que "carregam" os genes. Por isso, os pesquisadores acreditam que a DSCR1 deve participar de processos que regulem a ativação de outros genes na célula.
Outra proteína estudada, a DSCR2, está envolvida na proliferação celular. "Muitos portadores da síndrome de Down apresentam uma tendência maior a desenvolver leucemia. Acreditamos que a DSCR2 esteja envolvida nesse processo", afirma Silva.
As outras duas proteínas estudadas são a DCRA e a DCRB, as quais têm funções completamente desconhecidas. Silva e seu grupo, formado por alunos de doutorado, mestrado e graduação, pretendem descobrir quais são.
Silva está implementando no laboratório duas tecnologias que deverão auxiliar na compreensão da função desses genes.
A primeira delas, conhecida pela sigla inglesa Sage (de "análise serial da expressão gênica"), procura determinar quais genes entre milhares presentes nas células são afetados pela superexpressão de cada um dos quatro estudados.
"É uma técnica alternativa ao chip de DNA, mais barata, mas bastante precisa, e que nos dará informações importantes sobre a patogênese da síndrome de Down", diz Silva.
A outra técnica envolve a construção de um miniproteoma (conjunto de proteínas produzidas numa célula), com o objetivo de avaliar como se dá a interação das proteínas produzidas pelos quatro genes com as outras proteínas da célula.


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