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ASTRONÁUTICA
Treinamento cuja meta é ajudar militares norte-americanos a definir investimentos na área durou 8 dias
EUA fazem simulação de guerra espacial
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto centenas de milhares
de soldados americanos se preparam no Golfo Pérsico para uma
guerra iminente contra o Iraque,
na Base da Força Aérea Schriever,
Estado do Colorado (EUA), cerca
de 250 especialistas civis e militares estão com a cabeça em outro
conflito -que em tese só poderia
acontecer daqui a 14 anos.
Trata-se de um jogo de guerra
espacial, uma simulação do que
poderia acontecer num conflito
armado travado também acima
da atmosfera. Supostamente ambientado em 2017, o experimento
teve duração de oito dias.
O principal objetivo é ajudar o
governo dos EUA a desenvolver
sua política para a militarização
definitiva do espaço -uma bandeira levantada nos anos 80 pelo
presidente Ronald Reagan e ressuscitada duas décadas depois
por George W. Bush.
O programa de jogos de guerra
espaciais foi iniciado em janeiro
de 2001, na mesma época em que
Bush assumiu a Presidência dos
EUA. A primeira simulação,
"Schriever 2001", foi batizada em
homenagem ao general aposentado Bernard Schriever, pioneiro na
definição das forças espaciais e do
programa de mísseis dos EUA.
A simulação recém-concluída é
a segunda da série, e a premissa
básica é a mesma nos dois casos:
um conflito de escala mundial irrompe entre as forças aliadas,
azuis, e as inimigas, vermelhas.
Diversos especialistas representam as várias agências governamentais americanas e definem as
estratégias para responder ao "perigo vermelho" -que em 2017 está mais ameaçador do que nunca,
explorando as vulnerabilidades
nas defesas azuis detectadas durante o primeiro jogo de guerra.
"Temos muitas decisões fundamentais para fazer sobre o espaço
e seus usos no futuro", disse o major John Wagner, diretor do último jogo de guerra, em um comunicado. Segundo Wagner, o jogo
"vai permitir ver o que o espaço
traz ao combate e dar uma bola de
cristal à Força Aérea".
Os militares estão avaliando os
resultados da simulação. As conclusões não serão divulgadas. Mas
já circulam algumas idéias, velhas
e novas, sobre o que pode estar reservado para o futuro da corrida
pelas armas no espaço.
O carro-chefe é o famoso projeto "Guerra nas Estrelas". Instituído em 1984 por Reagan, o conceito é o de um escudo, uma rede de
satélites em órbita com o objetivo
de destruir qualquer míssil balístico direcionado ao território norte-americano. Na época, era apenas uma fantasia tecnológica -e
pode continuar sendo ainda hoje.
O projeto foi retomado por
George W. Bush e está em fase de
estudos. Há muito segredo em
torno dos resultados, mas fracassos seguidos nos testes colocam
dúvidas sobre se o projeto não seria ambicioso demais, mesmo 20
anos depois da idéia original.
Outras opções menos extravagantes envolveriam conflitos de
satélites em órbita. Autômatos espaciais travariam uma guerra
própria, e quem alvejasse mais satélites inimigos teria uma vantagem estratégica crucial no conflito. E ainda há a importância já
provada dos satélites-espiões.
Desde o início da era espacial,
em 1957, a comunidade internacional se preocupa com a questão
da militarização espacial. Na fase
mais crítica, no auge da Guerra
Fria, foi estabelecido um acordo
internacional para promover os
usos pacíficos da nova fronteira.
O Tratado do Espaço, de 1967,
tem algumas brechas. "Ele proíbe
armas orbitais de destruição em
massa, nucleares, químicas ou
biológicas, mas não fala nada de
armas suborbitais, que não chegam a dar uma volta na Terra,
nem de outros tipos de armamento na órbita terrestre", diz José
Monserrat Filho, advogado especializado em direito espacial.
"Pax astralis"
"Até agora a humanidade conseguiu evitar a transformação do
espaço num teatro de guerra", diz
Monserrat. Mas as chances de
manutenção dessa "pax astralis"
estão caindo vertiginosamente.
A guerra contra o terror e as recentes tensões com Iraque e Coréia do Norte ajudaram Bush a
propagar sua visão de "armas no
espaço". Além disso, a China está
emergindo como nova potência
espacial e deve colocar um homem em órbita até o fim do ano.
Embora seja vendido pelos chineses como um programa pacífico,
seu gerenciamento é militar.
Monserrat diz esperar que o espaço vai permanecer como uma
fronteira da ciência, não da guerra. "Mas é inegável que estamos
caminhando rapidamente para o
ponto de não-retorno."
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