São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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ESPAÇO

Estados Unidos devem lançar hoje a Contour, nave que produzirá as imagens mais próximas do núcleo desses astros

Sonda decola rumo a coração de cometa

Nasa
Concepção artística mostra Contour se aproximando de cometa


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o tempo ajudar, sobe hoje ao espaço, a partir da base militar de Cabo Canaveral, na Flórida (EUA), a sonda Contour. Sua missão primária é fazer uma visita a dois cometas de órbita curta, estudando seus núcleos de perto. Uma observação parecida com essa só foi feita antes duas vezes -nenhuma delas satisfatória.
Primeiro em 1986, quando a sonda européia Giotto passou de raspão pelo cometa Halley. A capacidade limitada do equipamento permitiu imagens e leituras espetaculares para a época, mas bem aquém do que os cometas podem proporcionar. Depois, em 2001, quando a sonda Deep Space-1, da Nasa, passou pelo cometa Borrelly. Apesar do sucesso, a missão da nave era testar novas tecnologias, não obter dados científicos. Dessa vez, com a Contour, a coisa deve ser para valer.
E, se não for, não é razão para desespero. Trata-se de apenas uma das três que a Nasa está preparando para investigações cometárias. A primeira, Stardust, decolou em 1999. A próxima, Deep Impact, decola em 2004.
Em vez de ter uma sonda caríssima para fazer um estudo completo de um ou dois cometas, como faria nos anos 80, hoje a Nasa opta por missões menores, mais baratas, mas em número superior. E três lançamentos, três naves e resultados chegando por anos a fio mostram mais serviço para o contribuinte americano.
Justiça seja feita: muito mais ciência é produzida nesse processo. As três missões da Nasa apresentam abordagens (e resultados) bem diferentes, embora estejam todas na caça aos cometas.
A primeira, Stardust, vai passar pela cauda de um deles e coletar amostras, que serão trazidas de volta à Terra para estudos. A que parte hoje, a Contour, vai analisar de perto o núcleo de pelo menos dois cometas, tirando as melhores fotos já feitas desses astros e coletando informações sobre sua composição e seu comportamento. A Deep Impact, finalmente, vai se espatifar contra a superfície de um cometa, na esperança de que os cientistas consigam observar o que existe dentro dele.
De todas elas, a primeira a ser lembrada será a de hoje. A Contour já deve produzir resultados científicos quando encontrar o cometa Encke (que dá uma volta em torno do Sol em 3,2 anos), no fim do ano que vem. A Stardust só deve retornar à Terra com o "pó cometário" recolhido em 2006.
No mesmo, ano a Contour já vai estar na sua segunda visita, fazendo o reconhecimento do cometa Schwassmann Wachmann-3.
O leitor pode até se perguntar por que a fixação com cometas. É que, juntamente com os asteróides, esses astros são fósseis vivos do período de formação dos planetas, há 4,6 bilhões de anos. Eles mantêm o registro da composição primitiva do Sistema Solar.
Além disso, sua composição é basicamente água, rocha e compostos orgânicos. Especula-se que eles possam ter tido um papel fundamental na deposição de água nos planetas interiores do Sistema Solar (como a Terra), que propiciaram o desenvolvimento da vida. Os cientistas também esperam que aminoácidos (os blocos construtores das proteínas, tijolos que formam todos os seres vivos conhecidos) estejam presentes em grande quantidade nesses blocos de "gelo sujo".
Determinar exatamente a composição desses astros é importante não só no sentido estritamente científico -entender a formação dos planetas e da própria vida-, mas também para a sobrevivência humana. Se um cometa resolver entrar em rota de colisão com a Terra, é bom que os cientistas saibam do que ele é feito para descobrir como seria possível desviá-lo ou explodi-lo antes da colisão.

Correndo por fora
Além das três sondas da Nasa, a ESA (agência espacial européia) também está produzindo sua própria sonda cometária, a Rosetta. E, acredite se quiser, a abordagem de estudo cometário é uma quarta: a nave possui um módulo de aterrissagem que deve ser o primeiro artefato humano a pousar num cometa.


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