São Paulo, sábado, 01 de julho de 2006

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Grupo mede a espessura da crosta terrestre no Brasil

Camada tem entre 44 km e 36 km no Centro-Oeste, revela mapeamento da USP e da UnB; meta agora é investigar o subsolo do NE

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Munidos de explosivos e sensores sísmicos, pesquisadores da USP e da UnB (Universidade de Brasília) estão tornando as profundezas do território brasileiro menos misteriosas. Eles acabam de concluir a primeira fase de um mapeamento da profundidade da crosta terrestre no país, sondando o estado de rochas a dezenas de quilômetros de profundidade.
O grupo já obteve um retrato da crosta brasileira na chamada Província Tocantins, subdivisão geológica que corresponde mais ou menos ao Centro-Oeste, e agora parte para a Província Borborema (em linhas gerais, o Nordeste). "A médio prazo, queremos mapear todas as regiões", diz José Eduardo Pereira Soares, da UnB.
Soares explica que, embora o mapeamento da espessura da crosta (basicamente a camada mais superficial e sólida da Terra, sobre a qual se apóiam os continentes) já tenha sido feito na Europa e América do Norte, imensos pontos de interrogação ainda restam. Na América do Sul, apenas a região dos Andes já foi estudada em detalhe.
Estudar o Brasil é importante porque ele está na chamada região intraplaca, ou seja, no interior de uma placa tectônica. Essas placas lembram "balsas" de rocha, movendo-se constantemente no "mar" de material mais mole que está debaixo delas, e é em cima das placas que os continentes se movem ao longo de milhões de anos. Os Andes estão bem em cima de uma zona de colisão entre duas placas, enquanto o Brasil está inteiro sobre uma delas.
Só dá para observar indiretamente a fronteira da crosta. No projeto brasileiro, buracos de 50 m de profundidade foram preenchidos com explosivos e tamponados com brita, ao longo de uma linha de 530 km de comprimento, no interior de Goiás. Sensores espaçados a cada 2,5 km registraram as reverberações da explosão -dependendo do tipo e da espessura das rochas, os sensores registravam ecos diferentes.
Esse primeiro mapeamento revelou grandes descontinuidades em alguns pontos: basta dizer que a variação de profundidade da crosta fica entre 44 km (nos pontos mais profundos) e 36 km (nos mais rasos).
"As estruturas se refletem no fundo: em áreas muito altas ou mais baixas, essas diferenças aparecem nas camadas inferiores da crosta também", diz Reinhardt Fuck, pesquisador da UnB que participa do trabalho.


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